Praxes académicas ou práticas boçais?

Todos os anos, sob o álibi da praxe, praticam-se crimes que a tradicional benevolência para com os «costumes» condena à impunidade.

Há certamente resquícios de violência genética a que a Universidade não consegue pôr cobro. Ano após ano, vários «caloiros» são humilhados, torturados e estropiados. É uma forma de integração que se assemelha ao espectáculo das touradas ou à luta de galos. É a perpetuação do espírito medieval que habita «doutores» que sacrificam a modernidade à tradição, a solidariedade à violência e a urbanidade à grosseria.

Enquanto os bandos de boçais não forem punidos com o rigor que vulgares criminosos merecem, a chaga alastra e as sequelas trágicas fazem-se sentir.

Este ano, dois jovens, em Coimbra e Elvas, acabaram no hospital, vítimas de praxes académicas, com consequência dramáticas. Até quando as frequentes cumplicidades se farão sentir na defesa de vulgares criminosos de capa e batina?

Comentários

Mano 69 disse…
Todos os que usam capa e batina são criminosos?
Anónimo disse…
Claro que não. É uma pergunta retórica, penso eu.

Os casos referidos até parecem ser da responsabilidade dos próprios - dois jovens inutilizados sté que a morte os liberte.

Mas que dizer do Diogo, da Universidade Lusíada de Famalicão, que viria a morrer no hospital, em 2001, e que a autópsia revelou sinais óbvios de espancamento e nem sequer houve acusação?

E a estudante de Santarém, em 2003, que sete colegas mergulharam em fezes de animais?

E o que teria sucedido em Braga, este ano, no final de Outubro, entre as universidades do Porto e do Minho se a PSP não tivesse intervindo?

Etc., etc.
Anónimo disse…
A soluçao deverá passar por uma pena exemplar para abusadores que aproveitem estas ocasioes para libertar os seus instintos mais baixos. As praxes podem e devem ser formas de integraçao dos alunos nas suas universidades, nas cidades onde passarao a morar e uma boa maneira de socializar, foi assim no meu caso e no caso de vários/as amigos e conhecidos. Ao tempo que entrei na faculdade em meados dos anos 90, os casos de violência infelizmente ainda eram maiores que os actuais, ainda me lembro de um estudante da Univ. Técnica morrer após ter sido lançado do topo de um edifício da mesma Univ.
Anónimo disse…
Esqueci-me de asinar.
Anónimo disse…
Van Aerts:

Qual foi a pena para o assassínio?

Sabe, por acaso?
Anónimo disse…
Enquanto escrevia tentava lembrar-me , mas nao consegui nem consigo de momento, recordar-me-ei em breve nem que fale com um amigo que creio ter estado presente nessa circunstância (no meio das praxes). Nao estou seguro (até tenho dúvidas em continuar a escrever isto) mas creio que houve condenaçoes mas nao penas efectivas. A ideia dos energúmenos era acertar com o desafortunado numa piscina. Repito nao quero enganar ninguém mas creio que assim foi , quando me recordar com todo o rigor comentarei no espaço destinado aos leitores.
Anónimo disse…
Em 1969 ou 1970 o Conselho de Veteranos da Academia de Coimbra decretou a abolição da praxe, reflectindo o sentir de toda a academia. Aliás, a praxe nessa altura já estava praticamente abolida, por ter caído em desuso. É que os estudantes dessa geração, a que me honro de pertencer, lutavam por ideais, por causas justas, que vieram a triunfar em 25 de Abril de 1974, e não se entretinham com brincadeiras patetas e infantis. Infelizmente, com o regresso da direita ao poder, em fins dos anos 70, e por iniciativa de antigos estudantes reaccionários, a praxe regressou, em moldes mais estúpidos ainda que os de antigamente. Mudam-se os tempos, muda~-se as vontades...
Anónimo disse…
Se não estou em erro, lembro-me de ouvir algo sobre a abolição das praxes académicas. Penso até que foi da boca do Ministro Mariano Gago (não sei se à altura era ministro...).
Ora aí está uma medida acertada.
Curiosamente, não se ouviu falar mais em tal, e as atrocidades continuam.
RJ disse…
Os rallytascas são muito comuns, nomeadamente perto das festas (queima e latada). A malta em Coimbra juntava-se no extinto Pratas (a tasca de eleição da alta) e descia até à baixa, parando em cada uma para beber um copo.
As praxes na ES Agrária já tinham a sua fama pelo uso de escrementos de animais e pela manipilação de genitais de cavalos.
Fora da UC a praxe é muito pior, dado que o pessoal dos Politécnicos e afins não respeita tanto o código ou o próprio código/tradições locais permitem mais "barbaridades".
RJ disse…
Caro Carlos Esperança,cito aqui parte de um post meu, como ex-aluno da Universidade de Coimbra:

"Acho que a Praxe é como que uma religião. Muita gente a aceita desde o primeiro ano e a prega nos anos seguintes. Poucos a contestam.
Se a AAC fosse um país, o presidente da Direcção Geral seria o Primeiro-Ministro e o Dux o Papa. Mal as pessoas chegam à universidade, ou entram no esquema da Praxe, com todas aquelas brindeiras ridículas, ou são postas de lado. "Ou aderes a isto ou és considerado herege, passível de expulsão desta comunidade". Para quem não saiba, quem não alinha com isto tudo é normalmente "convidado" a declarar-se anti-praxe e ameaçado com o impedimento de entrar no edifíco da AAC ou de frequentar as noites da queima ou da latada. Esta situação, para um jovem caloiro pouco informado, é problemática."

http://evilbrutalis.blogspot.com/2007/10/praxe-religio-universitria.html

Várias situações dentro da praxe são abusivas. E muitos dos jovens caloiros são vítimas de humilhações não contestadas, muitas vezes para não serem postos de lado. A maioria aceita e dá o mesmo tratamento aos alunos do ano seguinte.
À luz da legislação vigente aposto que muitas destas situações seriam passívem de processos e condenações em tribunal.

Não esqueçamos o caso da aluna de Macedo de Cavaleiros. Sentiu-se humilhada, foi ameaçada e mesmo assim teve a coragem de expor o seu caso.
Anónimo disse…
RJ

Escusado será dizer que subscrevo na íntegra a sua posição.
Anónimo disse…
mas que raio de mania de chamar praxe académica a todos os actos selváticos perpetuados por bestas que se vestem de capa e batina!!

Até parece que pelo simples facto de uma pessoa se vestir de determinada maneira e frequentar um estabelecimento de ensino que qualquer aleivosidade que pratique está ao abrigo de uma causa de exclusão de ilicitude em termos penais..que raio!!!

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides