Notas soltas: Dezembro/2007

Almeida


Venezuela – Apesar dos tiques autoritários Hugo Chávez perdeu o referendo que convocara e aceitou o veredicto que a oposição ameaçava rejeitar se o desfecho lhe fosse desfavorável. Não é melhor a oposição do que o Presidente.

Lisboa – O empréstimo que toda a vereação aprovou, excepto o PSD, que se absteve, foi objecto de chantagem na Assembleia Municipal que as eleições intercalares feriram na sua legitimidade e transformaram em arena das lutas internas do PSD.

ETA – O assassínio de dois guardas-civis espanhóis, em França, com a imediata prisão de dois dos três terroristas, revela o seu isolamento, à beira da desagregação sem honra nem glória.

Austrália – A vitória eleitoral da esquerda levou à ratificação do Protocolo de Quioto deixando os EUA cada vez mais isolados na incúria suicida com que Bush encara o aquecimento global do Planeta.

União Europeia – A presidência portuguesa, sem ganhos eleitorais internos, teve um excelente desempenho e afirmou-se de forma eficiente e prestigiada, sobretudo com o sucesso do tratado reformador.

UE/África – Sócrates e Angela Merkel foram as grandes figuras que emergiram da cimeira: o primeiro por ter sabido conciliar os interesses económicos e os direitos humanos e a segunda por se ter afirmado como a mais lídima representante do espírito europeu.

Mafra – Após 14 anos, o teimoso edil Ministro dos Santos resolveu atribuir a medalha de ouro de mérito municipal do concelho a José Saramago. No mesmo dia o Sr. Duarte Pio, no seu analfabetismo cultural, declarou que «José Saramago está senil».

Câmaras de vigilância – Um povo com medo é presa fácil do alarmismo e troca a liberdade por uma migalha de segurança quando sobram políticos capazes de lançar o pânico para favorecerem um estado policial.

Kosovo – A secessão é fatal, para júbilo da Albânia, aflição da Sérvia e perigo de nova guerra balcânica. A imprudência não faz autónomo o Kosovo, só muda o feitor ao protectorado e abre a caixa de Pandora para novas aventuras da Galiza aos Urais.

PJ – A prisão dos malfeitores cujos crimes abalaram o Porto foi um êxito que as ligações perigosas não puderam impedir. Saiba a Justiça estar à altura da polícia que, contra ventos e marés, interrompeu a escalada de violência na cidade.

Tradição – A UNICEF elegeu como foto do ano a que retrata a menina Ghulam, de 11 anos, e o marido, de 40. Não é crime de pedofilia, é uma cena afegã com a bênção do Islão.

CDS – Paulo Portas foi a Belém para apresentar ao PR iniciativas legislativas para o aumento da natalidade. «Quem sabe faz, quem não sabe ensina».

Referendo europeu – Mandaria a ética que se realizasse, como esperado, mas o PR não o deseja e Portugal, que alcançou o Tratado e tem amplo consenso europeu, não pode embaraçar os Governos dos países mais cépticos.

Tratado Europeu – O artigo 49.º consagra um direito novo: «Qualquer Estado-membro pode decidir, em conformidade com as respectivas normas constitucionais, retirar-se da União». Este direito, novo, retira urgência ao referendo.

África do Sul – A derrota do presidente Thabo Mbeki, como líder do ANC, foi pacífica – um belo exemplo do único país que saiu do colonialismo para a democracia –, mas as acusações judiciais contra o novo líder, Jacob Zuma, podem ser o rastilho de uma onda de instabilidade e violência no país de Mandela.

Vaticano – Ao apoiar o processo de beatificação de uma menina de seis anos, Bento XVI ampliou o fosso que separa a Igreja católica das Igrejas cristãs que não criam santos nem sabem fazer milagres.

Justiça social – Os vencimentos do Estado que, isolados ou em acumulação, excedam o do Presidente da República, incluindo o do próprio, são imorais e ofendem quem vive com o ordenado mínimo.

Tony Blair – O apóstata da Igreja anglicana teve a bênção de Bento XVI. Se o caminho fosse inverso seria excomungado. A fé pôde esperar pela saída do Governo.

Luís Filipe Meneses – O líder do PSD, se fosse primeiro-ministro, desmantelaria o Estado em seis meses. Espera-se que não tenha em vista trocar as forças policiais pelos seguranças da noite do Porto, para manter a ordem no País.

BCP – As pias amizades de Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves cederam ao vil metal. O acordo do Governo com os accionistas limita a inquirição de eventuais fraudes e o PSD, em vez de fiscalizar o PS, mendigou em público lugares na CGD.

Paquistão – O assassínio de Benazir Bhutto deu um golpe mortal nas eleições, lançou o país no caos e o mundo na incerteza, enquanto florescem o ópio, a fé e o ódio e se teme que o arsenal nuclear caia nas mãos dos pregadores da guerra santa.

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