O medo torna-nos escravos

Edvard Munch

Há uma deriva sensacionalista nos órgãos de comunicação que transforma os medrosos em pusilânimes e as pessoas sensatas em arruaceiros.

Uma pacata mochila com alguns CD, esquecida numa carruagem, pôde ser destruída à bomba, com o metropolitano paralisado, grande aparato policial e milhares de pessoas curiosas e assustadas.

A morte súbita de um bebé, já confirmada, antes de qualquer apuramento das causas, transformou-se numa arma de arremesso partidário com manifestações de violência destruidora que um autarca acirrou contra uma ambulância para consolidar a fidelidade eleitoral.

Independentemente das razões de queixa, eventualmente legítimas e justas, há hoje uma febre de exibição pública de sentimentos que explodem perante as câmaras de televisão e se calam nos intervalos dos noticiários.

Não somos um país que reivindique direitos colectivos, somos um povo que gosta de ouvir a eco da sua própria voz, gente a pousar para a fotografia sem escolher o ângulo, exibindo a expressão mais sombria e uma postura desoladora.

Enquanto se instila o medo reforçam-se as medidas repressivas, devassa-se a intimidade pessoal, vigiam-se os movimentos colectivos numa cobarde aceitação da renúncia à liberdade a troco de umas migalhas de segurança.

Enquanto se tomar o essencial pelo acessório renuncia-se à cidadania por um minuto de glória e ao respeito por si próprio perante a objectiva de um fotógrafo ou uma câmara de televisão.

Comentários

ana disse…
Somos burros e ignorantes por natureza.E essa burrice espicaçada pela CS, com o único intuito de vender notícias, dá ao povinho o direito de falar de tudo, do que não sabe nem nunca virá a saber, nem quer saber. Queremos é dizer mal de tudo, deste governo, do que virá a seguir e do que vier depois.Entretanto ainda não aprendemos a comer de boca fechada, a não atirar papeis para o chão, a não fumar em locais públicos se a isso não formos obrigados.
Na recente manifestação em Lisboa contra o m. da Saúde, uma manifestante foi informada da mudança de responsável. De imediato mudou as palavras de ordem para "ministra, ministra!" com aquele ar aparvalhado, habitual nas pessoas que não sabem do que falam.
Quem ouviu, como eu, o início do telefonema dos familiares do morto de Alijó para o 112, nem queria acreditar no que estava a ouvir. Aquelas pessoas não conseguiam formar uma frase, não por comoção, que ali não havia nenhuma, mas por total anormalidade.Bem se esforçava a telefonista do INEM para tentar compreender o que se estava a passar, mas a coisa não era fácil.E depois o que a CS passa é a total deturpação dos factos, lenha, muita lenha para a fogueira dos burros. E parece que é mesmo disto que o portuguesinho gosta, dizer mal, não pensar, destacar os pormenores e deixar de lado os verdadeiros problemas, como a corrupção com que vivemos paredes-meias desde que nascemos.E que não achamos mal, já que votamos em Isaltinos, Fátimas, etc.Também não é só o povinho que não quer saber já que, tanto quanto sei, não há um corrupto preso.
Anónimo disse…
Pois é!!!!

Concordo plenamente com vocês e com a porcaria de CS que temos, mas agora pergunto eu?? e tudo o que fizeram ao Santana Lopes??? As festas que disseram que esteve sem ele lá ter estado? os casamentos que inventaram que esteve em vez de estar numa cerimónia oficial???
Pois é... agora queixam-se... agora digo eu...
"Agora aguentem!!"

Estou 100% de acordo com a Ana e o CE, mas pergunto eu, quem de nós mudou de opinião????

Quando foi com Santana não vi essa manifestação de protesto contra a CS... "Ai ai...quando se é poder, como se mudam as maneiras de pensar!!!!!"
ana disse…
justiceiro:

Santana Lopes foi vítima da sua necessidade de protagonismo e da ganância do seu próprio partido, que lhe endossou todas as culpas, lhe tirou o tapete e lavou as mãos de toda a porcaria.Mais ou menos como faz agora o PR, que candidamente lança bitaites sobre como desfazer o que os seus governos fizeram.
Anónimo disse…
Pois lança, mas a verdade é que o Sócrates dá-lhe ouvidos.
Votei PS e votei Cavaco Silva. De ambos me arrependo drasticamente

Sempre votei PS, quando o PS era Partido Socialista, quando lutávamos por um ideal de uma sociedade socialista em que o ser humano estava à frente de qualquer coisa!
Anónimo disse…
Justiceiro:

Os Guterres aparecem uma vez por século.

Temos de nos habituar a indivíduos normais se não queremos apanhar santaneses e outros malteses.
Anónimo disse…
Não é por acaso que passo semanas sem comprar um jornal. Tenho necessidade de não ver a minha sanidade mental mal tratada.Lendo muito por alto os da biblioteca, não me arrependo de contribuir para a má qualidade dos jornais que temos.E continuo à espera de um jornal de qualidade feito por jornalistas de qualidade. Prometo comprá-lo diariamente, como comprei outros em tempos.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides