Merece ser julgado...

Por

Rui Cascao

Um reparo: não concordo com a sua afirmação de o Tribunal para os crimes na ex-Jugoslávia ter "uma predilecção pelos Sérvios".

A distribuição étnica dos arguidos e dos condenados é bastante equilibrada, abrangendo Sérvios, Croatas, Bósnios Croatas, Bósnios Sérvios, Bósnios Muçulmanos, Sérvios da Croácia, Albaneses, Montenegrinos e Macedónios.

As sentenças mais elevadas pronunciadas pelo tribunal até foram aplicadas a Bósnios Muçulmanos.Também não se podem ignorar dois factores:

1) As maiores atrocidades na Bósnia e Herzegovina foram levadas a cabo pelos Sérvios Bósnios com o apoio encoberto da República Federal Jugoslava de Milosevic

2) O clima político na Sérvia favoreceu a protecção dos criminosos mais procurados (Karadic, Mladic), principalmente por causa da cumplicidade de Kostunica. A maior abertura da UE à candidatura da Croácia obrigou esta a colaborar mais estreitamente com o Tribunal.
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Nota: Rui Cascao, «contribuidor» do Ponte Europa é um profundo conhecedor da ex-Jugoslávia e do contexto geo-político da sua desintegração.

Comentários

e-pá! disse…
Claro que Radovan Karadzic merece ser julgado, diria mesmo, severamente julgado.
Não é isso que está em questão!

Penso que podemos verificar é que a procura e as tentativas de captura dos butais violadores de direitos humanos, que observamos na ex-Jugoslávia, excede largamente o que se observa no resto do Mundo.
Há criminosos humanitátios por todo o lado, com condições mais do que suficientes, para serem levados ao TPI.
Estou a lembrar-me de África (excluindo o Ruanda que teve um tribunal espacial), mas na Libéria, no Dafour, Guine-Bissau, etc...
Ah! falta o Pinochet que escapou da maneira que todos nós vimos...

Ninguém está a pedir clemência para Karadzic, mas exemplar justiça para estes barbaros. Para todos.

Já agora seria conveniente esclarecer as "cumplicidades" entre os americanos e os serviços secretos sérvios que permitiram tão longo tempo de fuga à Justiça...
Rui Cascao disse…
Concordo plenamente com o comentário do leitor e-pá.

Houve, de facto muitas cumplicidades dos EUA, da França, da Rússia, da Grécia e da Igreja Ortodoxa no encobrimento inicial do paradeiro de Karadic. Aparentemente haveria um entendimento informal, em consequência dos acordos de Dayton, de assegurar a impunidade de Karadic e de Mladic. Também graças à ideia de pacto de transição ínsita nos acordos de Dayton, logrou Milosevic escapar durante tanto tempo à alçada do tribunal (pelo menos até se ter lançado na aventura do Kosovo)

Não fora a instituição do Tribunal Internacional para os crimes na ex-Jugoslávia, bem como a pressão da maioria dos membros da UE, Karadic teria ficado impune.

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