Cavaco Silva - Mestre - Escola?

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E - Pá

As recentes declarações de Cavaco Silva são um mau prenúncio.
Significam que a solidariedade institucional ao nível do aparelho de Estado está desfeita.
Daqui para a frente, só pode ser pior.

Portugal enfrenta uma grave crise económica e social e precisava dessa solidariedade, claro está, salvaguardadas as competências de cada órgão constitucional.

Na situação actual, o nosso País é, em larga medida, subsidiário das decisões ao nível dos 27 da UE e, mais concretamente, dos Países da zona Euro. Não podemos ignorar que esta crise chaga à economia real, a reboque de uma crise financeira.
Cavaco, está, constitucionalmente, afastado dos centros de decisão preponderantes sobre estes assuntos. Não participa no Ecofin, nem têm qualquer representante no Banco Central Europeu.
Está, portanto, fora da jogada.
Nestas circunstâncias dedica-se às quezílias domésticas...

Qualquer economista afirma e repisa que não há recuperação económica em clima de crise de confiança.
Cavaco, este fim-de-semana, em declarações que mostram muita ligeireza e pouco sentido de Estado, agravou esse clima de falta de confiança. Fez um mau trabalho para o País.

Levou a luta política ao limite de prejudicar a retoma, afirmando-se preocupado com ela.

Não é a primeira vez que comete deslizes deste teor.
Quando foi 1º. Ministro teceu inoportunas considerações sobre a Bolsa de Valores, levando-a a um precipitado “crash”.
Nessa altura usou a expressão paternalista do tipo conselheiro Acácio afirmando que os portugueses estavam a comparar gato por lebre.

As mais recentes considerações e a agressividade da retórica mostram que o PR contesta o rumo seguido pelo Governo para enfrentar a crise. É natural que o PR tenha divergências sobre a política a seguir.
Mas a comunicação social não é a sede própria para as colocar.
Reúne-se todas as 5ªs feiras com o actual 1º. ministro...

Existe, contudo, um outro ponto de maior gravidade. É que as suas posições aproximam-se demasiado das do maior partido da Oposição, por coincidência (ou não) a sua originária matriz política.

Portugal, não conseguirá sair desta crise sozinho.
Sairá, como outros Países a reboque da União Europeia, nomeadamente do eixo Paris-Berlim.

Mas tem trabalho de casa para fazer. Um deles é minimizar o desemprego, isto é, almofadar o rebate social desta praga que, como o professor bem sabe, se reflecte na dinâmica interna do País.

As vias para conseguir controlar o desemprego, por um lado, e as medidas para reactivar o mercado interno, não são coincidentes, nem consensuais ao nível do espectro partidário.
Não houve qualquer contributo de Cavaco para aproximá-las.
Também não necessitam da sua intervenção para exacerbá-las.

Nem mesmo do choradinho expressando melancólicos temores sobre uma eventual hipoteca do futuro dos nossos filhos e netos...

Penso que o Governo, neste momento, não jogará com muitas certezas.
São precisos ajustes periódicos de acordo com a evolução internacional da situação.
Chamar a isto trabalhar para as estatísticas é uma deslealdade institucional grave. Muito pior do que "aquela” de que publicamente se queixou acerca do Estatuto dos Açores.
Por vezes, em momentos de descontrolo, a memória é traiçoeira.

O PR há 4 anos vence as eleições e tem a expectativa de ter um mandato pacífico, com um país no caminho do controlo orçamental, definido pelo PEC europeu.

A súbita instalação de uma crise financeira internacional, melhor dizendo mundial, veio colocar-lhe novos desafios que, não são abstracções, mas as legítimas esperanças dos portugueses.
Primeiro, todos esperávamos uma estreita colaboração com o Governo para encontrar situações de consenso, indispensáveis para aliviar a crise.
Depois, uma contenção de linguagem e uma discrição que, ao menos, fosse um motivo de tranquilidade para os portugueses.

Não! Tornou-se num profeta da desgraça, quase uma alma gémea da actual líder da Oposição.
Um indisfarçável compromisso que fere, irremediavelmente, a sua função de garante das instituições democratas.
Não pode aproximar-se de uns portugueses e, ostensivamente, distanciar-se doutros.

Finalmente, a reprimenda que dirige aos empresários acusando-os de serem uns meros marionetas frequentadoras dos corredores do poder, ao serviço de ministros e secretários de Estado é um remoque despropositado, malicioso e vazio de conteúdo.

Não tinha autoridade para o fazer. Bastava olhar-se ao espelho e contemplar o que passou no seu tempo, de que o caso SLN/BPN, poderá ser a ponta de um gigantesco iceberg, apesar do degelo do Planeta. Aí encontrará seus antigos ministros, secretários de Estado (chamava-lhes "ajudantes", lembram-se?) e alguns velhos e novos empresários (muitos deles políticos retirados).

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