Grita-se Liberdade!

O Irão, nação de longa e gloriosa história, povo milenar com artes reconhecidas em todo o mundo, desde a tapeçaria ao cinema, viveu nos últimos 30 anos uma revolução islâmica que conta com uns poucos sucessos, mas fortes amarguras e nódoas graves que mancham o seu nome.
A grande glória destes 30 anos é a extraordinária taxa de alfabetização e a emancipação intelectual das mulheres de vários estractos sociais. As Universidades, os centros tecnológicos, o ensino, a saúde e outras actividades antes quase vedadas às mulheres são agora por estas dominadas.

Porém, esse progresso, que é real, não pode esconder a infâmia das perseguições religiosas, a aplicação bárbara de códigos religiosos e morais como direito penal, o fomento do terrorismo internacional, a falta de verdadeiras reformas estruturais na economia e na sociedade, cavando-se a cada ano que passa um fosso maior e terrível entre os mais ricos e os mais pobres.

Teerão revela-se uma cidade de contrastes: a segunda capital da cirurgia estética do mundo (a seguir a São Paulo) convive com uma das maiores taxas de heroinodependência que arruina a moral de um povo, arrasta para a lama tantos homens capazes e ata uma mordaça em tantos jovens e adultos.

30 anos depois, assistimos a uma geração jovem, educada, com acesso à internet e à cultura política e científica internacional. Uma geração com enorme peso demográfico, mas com terríveis limitações nas suas legítimas ambições económicas e sociais: estes jovens, a quem foi dada educação, não encontram agora trabalho, e vêem adiada a ambição de casar e constituir família.
Estes jovens, de 20 a 30 anos, são homens e mulheres que querem construir um país novo, um Irão de paz, de progresso e prosperidade.

Grita-se Liberdade! Grita-se mudança! Grita-se ao fim de um regime tirânico, corrupto e malévolo que só pela brutalidade da polícia e a violência dos "tribunais" político-religiosos se mantém. A pena de morte, o apedrejamento, a tortura, a prisão sem direitos são os pratos de toucinho que o regime dos Aiatollahs serve aos seus "súbditos."
Mas estes jovens cidadãos, esta geração vai vencer: a Liberdade vencerá!

Comentários

Anónimo disse…
texto carregado de 2ªs intenções....
Alfacinha disse…
Cala-te ó Realista filo-islâmico.

Viva a Liberdade!
Viva a Democracia!
e-pá! disse…
A morte do ayatolah Montazerí poderá ser o princípio do fim do regime teocrático iraniano.

Para já originou um facto inédito: levou as manifestações anti-regime iraniano a Qom, quartel-general da teocracia xiita.

Mas este acontecimento arrastou consigo a amputação do lider espiritual dos reformistas, o que constitui uma grande perda para a oposição à actual clique religiosa que controla, sob pesadas medidas repressivas, o País.

Aliás, o seu afastamento de Khomeini (pai da revolução xiita iraniana) nasceu da sua frontal oposição às execuções em massa que caracterizaram o período final do exercício do poder pelo "grande ayatolah".

Montazerí a partir daí (1989) é ostracizado e banido do núcleo duro do poder, proibido de ensinar o Alcorão, embora o seu "sentido do dever" o levasse a denunciar a deriva do regime para uma "ditadura em nome do Islão"..
Vivia em Qom para estar sob um apertado controlo da clique de ayatolahs. Mas, nos últimos tempos, pouco mais era do que um incómodo prisioneiro.

O reformismo no Irão só terá reais oportunidades a partir lideres islâmicos não-clericais, como as últimas eleições deixaram antever.

A morte de Montazerí foi a oportunidade oferecida a todos os reformadores de verificarem que os fundamentalistas acoitados em Qom apresentam profundas fracturas no seu seio. É essencialmente por esse facto que a sua morte pode ser o fermento que conduza ao desmoronar do regime dos ayatolahs e dos seus serventuários.

Primeiro, pelo desbaratar da imagem de coesão do regime que, embora permitindo discretos desvios reformistas internos (como o ex-presidente ex-presidente ayatolah Mohammad Khatami), nunca tolerou qualquer tipo de contestação ao líder supremo - Ali Khamenei.

Depois, porque a persistência de qualquer tipo de poder numa atitude e prática militarista durante muitos anos induz, fatalmente, rupturas internas.

O preço das guerras perenes (internas ou externas) é sempre muito elevado. No orçamento, em vidas humanas e no desgaste político. Aos ciclos repressivos seguem-se as festas da libertação.

Esta é a lição histórica a retirar da morte do "revisionista" (ou esmagado?) ayatolah Montazerí.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides