Uma área submersa no OE: os fluxos e refluxos migratórios...

Existe um contributo oculto para a redução do défice orçamental que, a luta pela sobrevivência e as dificuldades internas, os portugueses não levam em linha de conta. Uma contribuição activa que, caso não existisse, sobrecarregaria as prestações sociais relativas ao subsídio de desemprego: os fluxos migratórios contemporâneos.

Muitos jovens licenciados portugueses encetam a vida profissional enveredando por uma experiência [saída] migratória.

Acabou o ciclo das ondas migratórias dos anos 60 quando portugueses e portuguesas abalavam com a célebre “valise en carton” para França, Alemanha, Reino Unido, Suíça, etc. a fim de venderem a sua força de trabalho em serviços domésticos e na construção civil.

O actual ciclo de migração – não sendo como se afirma uma “fuga de cérebros “ – será a trânsfuga de competências técnicas que o marasmo da nossa economia estimula. Na senda do desenvolvimento, comparativamente com a Europa, continuamos próximos do diferencial da década de 60.

Na verdade, o sentido desta "nova" movimentação dirige-se para países com economias emergentes [Brasil] ou para as ex-colónias, recentemente saídas de um doloroso processo de guerra civil, [Angola, Moçambique] onde as carências técnicas são vultuosas. O actual ciclo económico português cronicamente a roçar as raias da recessão, bem como as medidas de austeridade dos últimos 2 anos – por toda a Europa – estimulam a procura de outras saídas profissionais.

A mobilidade instalou-se, progressivamente, nos novos quadros técnicos e incitou a um novo esquema de rotatividade e de intensa mobilidade que é subsidiário da facilidade de troca de informações e da abertura do Mundo a novos mercados [algumas vezes confundidos com Eldorados].

Hoje, o migrante português, não é o atávico aforrador de parcas economias que, mensalmente, remetia para a terra de origem, a fim de preparar o regresso.
Actualmente, o jovem técnico parte para um Mundo [económico e financeiro] sem fronteiras, onde a fixação é extremamente fluida e o regresso às origens hipotético. Não há remessas de poupanças. Há investimento na formação e no intercâmbio que proporcione a oportunidade de prosseguir uma carreira internacional.
Haverá, ainda, uma outra vertente em expansão: a cooperação internacional, multinacional, no âmbito de empresarial e da internacionalização do mercado de trabalho que pode proporcionar um eventual – mas não obrigatoriamente programado – regresso a “casa”. Muitas das vezes transitórios.

De qualquer modo, não sendo como no passado uma fonte de importação de divisas, esta humana evasão técnico-empresarial, permitirá aos jovens migrantes “olhar” de perto um novo Mundo, mergulhando-os na inovação, na mudança, no progresso e, possibilitou a alteração de um ancestral estigma que o Mundo cultivou sobre o “desgraçadinho” português, trabalhador esforçado e dedicado, mas inculto e desqualificado.

Finalmente, esta nova migração contribuiu para “aliviar” o tenso mercado de trabalho português. Segundo referências com diversas origens, terão, nos últimos 10 anos, migrado cerca de 800.000 portugueses e portuguesas [não necessariamente (todos) qualificados].
Se esta “onda” não se tivesse levantado do chão, provavelmente, a taxa de desemprego em Portugal estaria muito próxima da espanhola… com todos os custos sociais [e orçamentais] daí inerentes.
26.10.2010 - Jornada Mundial do Migrante.

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