"Too late"…

Tony Blair voltou a depor perante a "comissão Chilcot" sobre a guerra do Iraque. Desta vez, presente na sala de audiências, estavam algumas mães de soldados falecidos nesta vergonhosa guerra [179 no total].
A justificações do ex-primeiro ministro britânico permanecem praticamente inalteradas – em relação à audição anterior - mostrando Tony Blair uma total incapacidade para entender [digerir] a história recente do Mundo. Não se trata de coerência. Trata-se de cegueira.

Interrogado sobre questões tão lineares como:
- Considera a guerra do Iraque legítima perante a ausência de uma resolução explícita do CS da ONU?
- Manipulou a opinião pública sobre a existência [no Iraque] de armas de destruição maciça?
- Que tipo de alinhamento político concertou com os neocons americanos?
Blair, mantém o mesmo tipo de respostas evasivas, contraditórias e incoerentes.
Considera as suas decisões [enquanto (co-)mentor da guerra do Iraque] “justas” e/ou “justificáveis” quando confrontadas perante a imperiosa necessidade de “destruir” o ditador Saddam…

Confrontado pela Comissão sobre a possibilidade de tornar pública a sua correspondência com G.W. Bush, Blair foge à questão. Diz que essa correspondência é estritamente privada e, adianta, estar de acordo com as declarações tornadas públicas [pelo próprio] . Todavia, não permite o levantamento do sigilo. Tenta sobreviver [politicamente] e prefere ignorar que a História um dia, impiedosamente, o julgará.
Aliás, para um grande número de cidadãos [do Mundo] atentos ao desenrolar da política internacional é completamente incompreensível que uma personalidade política tão controversa, tão dúbia, seja o representante do “quarteto para o Médio Oriente” que integra a UE, a ONU, os EUA e a Rússia. Neste momento, lançou-se noutro empreendimento [bélico?] teorizando sobre a “nocividade” do Irão… dedicando-se a atacar a “política de mão estendida” de Obama, em relação a Teerão. Enfim, quando um político se atola em jogos belicistas, o difícil é sair deles…

Em Janeiro de 2010 [na audição anterior] não demonstrou nenhum “remorso” em relação ao papel que desempenhou em parceria com G. W. Bush e Aznar [... Durão Barroso - embora cumplice -terá sido um intrometido "mestre de cerimónias das Lajes"] na “guerra do Iraque”.
Só que, desta vez, já convertido ao catolicismo, pretende obter a redenção dos “seus” pecados pela "lamentação"...
Afirmou perante a comissão: “I wanted to make that clear, that of course, I regret deeply and profoundly the loss of life, whether from our own armed forces, those of other nations, the civilians who helped people in Iraq, or the Iraqis themselves and I just wanted to say that because it is right to say that and it is what I feel." bbc.co.uk/news [“Quero dizer-vos claramente que lamento profundamente e sinceramente as perdas de vidas humanas nas nossas Forças Armadas, nas de outras nações, nos civis que vieram ajudar os iraquianos e dos próprios iraquianos e desejo dizer-vos isto por está certo e é como eu sinto" – tradução livre].

Mal tinha acabado de tentar esta redenção um clamoroso too late eclodiu na sala de audiências…

A memória histórica é rigorosa e implacável.

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