Quanto vale uma “lixeira”?


Governo já pediu ajuda financeira. link


José Sócrates, primeiro-ministro demissionário, visivelmente contrariado, anunciou ao País, hoje às 20h 30 m, o pedido de ajuda financeira à UE.

Nos últimos dias a pressão dos mercados financeiros, coadjuvados pelas agências de rating, a “rebelião dos banqueiros”, a incapacidade de o Estado financiar-se tornaram inevitável esta decisão.


Todavia, o problema continua – para os portugueses – pendente. Não conhecem os reais custos financeiros, económicos e sociais desta decisão. Desde discursos optimistas em que se recordam a nossa expedita sobrevivência a anteriores intervenções do FMI [em circunstâncias não comparáveis com as actuais], às previsões mais pessimistas salientando que os custos serão astronómicos e que vão lançar o País num novo ciclo de pobreza e fome, há de tudo um pouco.

Na verdade, Sócrates na sua comunicação não mencionou uma única vez o FMI. Referiu-se vagamente à Europa. Por outro lado, Pedro Passos Coelho declarou apoiar o pedido do Governo numa pomposa – mas vazia - declaração: “O PSD não deixará de apoiar este pedido de ajuda externo…” link


Vai haver uma reedição do PEC IV revista e aumentada?


Como será politicamente possível aos partidos da Oposição [essencialmente o PSD] aceitar, neste momento, condições mais leoninas das que rejeitaram?


A solução de hoje aparece como mais uma tentativa de resolução dos problemas financeiros do País que, como sabemos, afectam todos os portugueses. Todavia, este pedido de “auxílio externo” não altera a tensão política existente, desde a demissão do Governo, que se agrava diariamente. E o pedido de ajuda sem o mínimo de concertação política interna só poderá acarretar contrapartidas mais graves, mais duras, insuportáveis. Portanto, uma pescadinha de rabo na boca.

Resta esperar que durante estes 2 meses de intermezzo pré-eleitoral, os portugueses, tenham a exacta noção dos custos da decisão de hoje. Porque, impor esta ajuda “no escuro” é intolerável. Na verdade – é melhor deixar bem claro – com o País à beira da insolvência, vamos concomitantemente hipotecar uma grande parcela da nossa autonomia política. E qualquer hipoteca pressupõe uma avaliação prévia.


E não esquecer que os futuros avaliadores dessa hipoteca tiveram o cuidado de, antecipadamente, conotar o País como “lixo”, ou na linguagem tecnocrata, junk. E o lixo - como sabe bem José Sócrates - é "material" para incinerar a altas temperaturas […lá para o Verão!] .

Comentários

Fernandes disse…
Os habituais beneficiários de fundos colocados à disposição da República respiraram de alivio: Os Bancos já têm meios para emprestar aos amigos e fazerem pagar a factura ao desprevenido cliente; Os das reformas fautosas e multiplas, continuam a mamar, e o contribuinte a pagá-las; as empresas que vivem do Orçamento de Estado têm os subsidios garantidos e o contribuinte a pagá-los; Os candidatos a novos governantes têm o pote cheio para distribuir benesses aos lambe-botas das campanhas eleitorais, que o contribuinte vai pagar mesmo que sobreviva a pão e água; Os autarcas podem continuar nas suas atitudes caciqueiras, provincianas direi mesmo boçais, os papalvos lambem as migalhas quando não um fardo de palha, também estão satisfeitos. Abençoado FMI por conseguires fazer toda a gente feliz ...
Unknown disse…
Não creio que o País esteja na bancarrota, embora, dize-lo hoje, corresponda, mais ou menos, a dizer que Deus não existe numa mesquita radical durante a oraços de sexta-feira!
O País tinha-se mantido muito bem com o PEC I. Não há nenhuma necessidade de, num período de crise reduzir o déficit em 3 anos! Não há necessidade nenhuma de ter o Euro a 1,43 usd! Não há necessidade nenhuma de se deixar a banca Europeia receber os apoios estatais que recebeu e usá-los para especular contra as dívidas soberanas! Não há nenhuma necessidade de países como a Alemanha e França estarem a GANHAR com a especulação contra as dívidas soberanas! Não há necessidade de ...
Tudo isto são políticas determinadas pelos homens que detêm o poder. Como disse recentemente um prémio Nobel da economia, as crises combatem-se usando medidas exactamente ao contrário do que se está a fazer na Europa!
Não entendo é como o PC e BE não entendem isto e se aliam à direita em vez de reforçar o combate tentado e perdido (também pelo isolamento a que foi votado) do PS!
Ainda tenho esperança que alguém mne explique.

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