Monarquia espanhola em decadência. Viva a República!


A monarquia imposta por quem derrubou o governo eleito do presidente  Manuel Azaña, pode ter sido a oportunidade que evitou convulsões sociais e políticas, quando a ditadura do genocida Francisco Franco se desmoronou e teve lugar a transição democrática, mas não foi uma solução justa nem ética.

Ficaram esquecidos os cadáveres das vítimas que, depois da cruel guerra civil, foram assassinadas sumariamente, ao longo de vários anos, com os algozes impunes, perante o silêncio ou cumplicidade da Igreja católica que apreciou os crimes como fazendo parte de uma Cruzada, qualidade que o Papa reconheceu às atrocidades de Francisco Franco, um papa convicto de que as Cruzadas eram uma obrigação pia e não a sucessão de crimes cometidos pelo proselitismo religioso.

As monarquias mantêm-se por inércia e indiferença cívica e só desaparecem quando os disparates reais ou as cumplicidades condenáveis as varrem. Mesmo o poder meramente simbólico não encontra outra justificação que não seja a sua origem divina, quando os países passaram a preferir o escrutínio popular através do sufrágio universal.

O conde de Barcelona, cujo espírito democrático lhe valeu o exílio no Estoril, permitiu que o filho Juan Carlos, aos 10 anos, fosse para Espanha, sob a tutela e a supervisão de Franco e dos seus assessores, para se tornar rei quando o ditador vitalício morresse.

O rei Juan Carlos tem uma vida onde persistem as dúvidas entre a tragédia e o caráter. O homicídio, certamente involuntário, do seu irmão mais novo com um revólver, oferta de Franco, não foi investigado e, tanto Salazar como o ditador espanhol, se incumbiram de abafar o caso, ocorrido no Estoril. Apenas ficou para a história a pretensa pergunta do conde ao filho de 18 anos, perante a fatalidade de perder um filho de catorze: «diz-me, olhos nos olhos, que foi um acidente».

Há pouco, o neto mais velho, de 13 anos, manejando uma arma ilegal para a sua idade, na companhia do pai, deu um tiro no pé, transgressão cuja responsabilidade penal cabia ao progenitor. O juiz mandou arquivar o caso. Claro, a Espanha não é uma República.

As armas são uma constante na vida deste rei a quem um ditador endossou a coroa. Foi numa caçada no Botswana, paga pelo milionário e braço direito em Espanha do ministro da Defesa da Arábia Saudita, que fraturou a anca o presidente de uma liga de defesa da natureza, distraído a matar elefantes, espécie ameaçada, durante a crise espanhola onde o desemprego ultrapassa 20% dos «súbditos», quiçá acompanhado da princesa alemã divorciada, de 46 anos, Corinna zu Sayn-Wittgenstein, sua alegada amante.

Para a história fica a tentativa de golpe de Estado de 23 de fevereiro de 1981, o “23-F”, do grotesco tenente-coronel Tejero Molina para conduzir a um governo chefiado pelo general Alfonso Armada, inspirador da conspiração e ex-percetor do rei, que, condenado a 30 anos de prisão, foi indultado cinco anos depois. A versão do fracassado golpe, com sequestro dos deputados, atribuiu o sucesso aos esforços do rei que ganhou, assim, a consideração dos espanhóis e o epíteto de democrata.

Restam os escândalos do genro, Iñaki Urdangarin, em negócios ilícitos e subornos, com o ex-sócio, Diego Torres, a implicar o rei em negócios a favor do genro, e as conhecidas companhias pouco recomendáveis incluindo Dias Loureiro, comparsa das caçadas reais.

Juan Carlos pode tornar-se o coveiro da monarquia. Não seria pequeno o mérito. 

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