Breves considerações à volta de um desaire...


A pesada derrota de Portugal na estreia do Mundial de 2014 não deixa de levantar algumas questões que até aqui têm sido ignoradas e ‘toleradas’ em nome da correcção de uma benevolente postura em prol do País (?) e no intuito de alimentar 'o sonho' da conquista de um lugar ao sol no campo do chamado ‘desporto-rei’. Mas a noite de ontem terá sido um marco influenciador à volta de um hipotético ‘nacionalismo’ ultrajado (no confronto com a realidade). 

Tornou-se penosamente ridícula e aviltante a campanha ‘patrioteira’ à volta da selecção nacional que vem sendo exibida por todo o lado e com amplos reflexos na comunicação social. Dá a sensação de que Portugal partiu para o Brasil como fim de disputar numa estrondosa e fatídica guerra púnica (sem que Roma e Cartago sejam para aqui chamados) que estaria centrada na disputa de um lugar hegemónico no Mundo. 
Os repetidos apelos a um alargado apoio anímico, colectivo e a utilização ad nauseam de símbolos e cores nacionais impressionam. Uma enxurrada de portugueses embrulhados em panos verdes e vermelhos ou uma multidão de aficionados munidos de cachecóis em plena canícula estival são um espectáculo revelador e deprimente. 
O Mundial de futebol deveria ser uma disputa desportiva mas, desde há muito que, este evento foi pervertido com enviesadas representatividades que se imiscuem em variadíssimos campos (social, político e cultural). Falta aqui nomear os interesses financeiros já que para os treinadores, jogadores e clubes este certame está transformado num mercado.

Chegados ao momento da verdade verificamos que estas tensões não permitiram a prática de uma partida de futebol aceitável e na nossa equipa a indisciplina tática e o desnorte individual, reinaram.
Portugal não está preparado desportivamente nem tem estofo psicológico para estas complexas andanças. Deixou-se dominar pela responsabilidade das circunstâncias e no relvado afundou-se mostrando uma fraqueza (desportiva) assustadora onde todos fizeram gala em ‘desencontrar-se’. Ninguém conseguiu observar uma ténue réstia de profissionalismo e na globalidade a prestação dos portugueses foi um desastre. Os jogadores 'pareciam' cansados de tantas entrevistas e conferências de imprensa prévias às disputas. Os reflexos psicológicos deste tremendo fracasso não permitem continuar a ‘sonhar’ com outros voos e tornaram a nossa ‘missão’ no Brasil uma sombra do esperado e do sub-liminarmente propagandeado através de um insidioso e fastidioso marketing.

Mais uma vez Portugal acaba por inibir-se e perder-se na voracidade competitiva. Hoje, o País estará absorto e entretido a discutir a arbitragem, as tácticas e as prestações individuais dos jogadores. Um medíocre entretenimento para uma esperança assente em alienações ou um passatempo para ocultar frustrações. Todos percebemos que ‘assim’ não vamos longe. Mas ninguém quererá enfrentar essa realidade e a partir daí corrigir o tiro.

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