Menina de 12 anos…

Há notícias que nos oprimem entre o nojo e a indignação. Esquecemos o drama de 3 mil mortos e o desespero dos sobreviventes do Nepal, vítimas da fúria de um vulcão, os 700 mortos de muitos milhares de náufragos, no Mediterrâneo, à espera de chegarem a terra, tragédias que diariamente a comunicação social nos serve como se o nosso sofrimento pudesse aliviar as vítimas que nos exibem.

A menina de 12 anos, grávida do padrasto que dela abusava desde os 6 anos e a violava desde os 10, internada no Hospital de Santa Maria, traz no ventre cinco meses de uma gravidez que ignorava e, entre a ética e a lei, aguarda a continuação da desdita de quem nunca foi menina e a quem a felicidade jamais será possível.

Esta é uma situação em que não gostaria de ser médico, juiz ou membro da comissão de ética do hospital, onde não importa a interpretação da lei porque na pungência do drama pouco interessa o que a lei diz para quem o lacera a dúvida sobre o que deve ser feito.

Há nesta tragédia, onde a pobreza e a sordidez se juntam, uma criança que gera outra na ignorância do corpo que nunca foi seu, na infância que lhe roubaram. Há na injustiça da criança em formação dentro de outra, a reprodução do martírio de quem nasceu de gente errada, quiçá na cumplicidade materna e nos odores a álcool do padrasto que roubou a inocência a quem não deu conta de a ter perdido.

Eu, que julgo ter direito a uma opinião, em cada circunstância, sinto-me um náufrago à deriva sem saber que boia lançar às crianças que nunca tiveram pai nem mãe, filhas dos acasos da vida e da desdita dos pobres.

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