Cavaco Silva e a estabilidade democrática

Cavaco Silva demorou cinquenta e um dias de vingança, ressentimento e declarações incendiárias para indigitar António Costa como primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional.

Foi o tempo perdido para a decisão inevitável onde introduziu o insólito verbo ‘indicar’, próprio de um cavador de enxada, inadequado ao léxico constitucional. Foi o lapso de tempo de quem preferiu os interesses do PSD aos do País, uma birra ao sentido de Estado e a retaliação gratuita contra 62% do eleitorado que não o suporta.

Cavaco, ao submeter-se aos interesses e prazos da coligação da pior direita que capturou o PSD e o CDS, não previu que as últimas eleições legislativas seriam também o castigo à sua conduta presidencial.

Como ninguém lhe disse que em quatro países europeus, Dinamarca, Bélgica, Letónia e Luxemburgo, o primeiro-ministro não é do partido que teve mais votos nas eleições, não percebeu que a fúria reacionária era um entrave ao bom funcionamento das instituições, adiando a inevitável indigitação de António Costa. Só não se adivinhava que julgasse incompatível o apoio ao PS por partidos que eventualmente gostasse de ver ilegalizados.

O PR que deu posse à ministra das Finanças de um governo de coligação, apenas com o PSD, em exótica cerimónia de que estiveram ausentes os membros do CDS, incluindo o líder irrevogavelmente demissionário, desejou furtar-se à indigitação do governo saído da sede própria, a A.R., afrontando o mais representativo órgão de soberania.

O homem que, do mundo, só reteve o estreito espaço que separa o Poço de Boliqueime da Travessa do Possolo, em Lisboa, é capaz de represálias contra um governo legítimo até ao despejo constitucional da família Silva do Palácio de Belém.

Para a normalidade democrática não basta o novo governo, é urgente mudar de PR.

Ponte Europa / Sorumbático

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