O piropo já é crime, na lei_2

Não sou indiferente à violência verbal e às humilhações a que a mulher, mesmo nas sociedades ditas civilizadas, é sujeita.

Assisti, ao longo da vida, aos mais soezes impropérios, com vontade de esbofetear os energúmenos, contra as mulheres, a que não escaparam adolescentes e até crianças.

Sei o que era para uma adolescente do meu tempo de liceu passar em frente de um café, do quartel ou de outro local frequentado por homens. Uma das minhas irmãs, mais nova do que eu 2 anos, nunca saiu de casa ou regressou na minha companhia, para não aturar os piropos pesados durante o trajeto que mediava de casa ao liceu. E a mágoa que tenho da companhia de que me privei!

Compreendo a revolta das vítimas e o desejo de reparação mas receio as arbitrariedades do julgamento a que ficam sujeitos os comportamentos reprováveis e subjetivos.

Talvez minimize a violência das palavras com conotação sexual, talvez me lembre deste educado monólogo, num país imaginário onde a precariedade do trabalho passou a ser a norma, e sem qualquer ilícito penal:

- «Senhora doutora, já é a segunda vez neste mês que V. Ex.ª me pede para ir buscar o seu filho à creche. Não tenho culpa de que o seu filho só tenha cinco anos, o seu marido a tenha deixado e a sua mãe esteja no hospital.  Pelos 800 euros que lhe pago há muitos trabalhadores para a substituir e vejo-me forçado a não lhe renovar o contrato, que está a terminar.  Lembre-se de que tem mais de quarenta anos».

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