No rescaldo de Bratislava: uma discreta solicitação, mas urgente…


A cimeira de Bratislava, ou seja o Conselho Europeu reunido a 16.09.2016, organismo com reais capacidades decisórias e o fórum privilegiado das análises estratégicas sobre políticas europeias acaba divulgar que os resultados obtidos foram (mais) um fiasco link . Nem acordo para negociar o Brexit, nem consenso sobre o problema dos refugiados, nem estratégias para incentivar o crescimento. Tudo na água.
Para confirmar tais resultados basta interpretar a atitude do primeiro-ministro, italiano Matteo Renzi, que achou por bem distanciar-se dos termos do comunicado final e fugir da fotografia da 'closing ceremony' link.
 
Com uma crise de crescimento a ganhar terreno e a reversão das taxas de desemprego a marcar passo e em níveis intoleráveis a União Europa não consegue encontrar saídas.
O mais preocupante são os calendários eleitorais nacionais que como tudo indica acabarão por ditar o adiamento de decisões necessárias e urgentes. Uma delas é o problema dos refugiados que não pára de crescer em contraponto com a economia.
A Alemanha grande impulsionadora de medidas para fazer face aos problemas dos refugiados deverá entrar nas encolhas depois dos desastres eleitorais já verificados link.
 
As habituais performances do Conselho Europeu que tem adiado sucessivamente os problemas para arranjar uma solução in extremis, muitas vezes coxa, desta feita poderão estar largamente comprometidas e a táctica seguida até aqui poderá resultar num desastre europeu em toda a linha.
 
De facto, só para visitar as grandes economias europeias temos, para além das eleições alemãs em incubação, as espanholas estão ainda em curso, as francesas estão à beira das ‘primárias’ e o referendo italiano na forja. É de recear que decisões só para as calendas gregas...
 
Portugal não espera muito destes e dos próximos Conselhos Europeus. Para nós (que tivemos eleições há menos de 1 ano) bastaria que se procedesse a uma análise realista da situação política, económica e financeira e a natural constatação que as políticas de austeridade, impostas, foram um desastre (não só para nós, mas para a Europa na generalidade).
Seria pedir muito?

Comentários

É pedir o que a direita não quer para poder voltar ao poder.
e-pá! disse…
Em Bratislava funcionou o 'grupo de Visegrado' (Rep. Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia) que fincou pé sobre os refugiados e condicionou o desenrolar do Brexit à existência de uma livre circulação para os emigrantes (do centro e Leste da Europa).
O 'EUMed' (grupo dos Países do Sul que reuniu há poucos dias em Atenas) teve como porta-voz Matteo Renzi que exigiu uma resolução para o problema dos refugiados e concomitantemente a reversão das políticas de austeridade.
Por não ter sido ouvido Renzi faltou à conferência de encerramento da cimeira. Mas foi torpedeado por François Hollande que, muito embora tenha participado na reunião de Atenas, apressou-se a colocar-se ao lado de Merkel.
É esta Europa que temos...
e-pá! disse…
Um outro pormenor.
Como se pode verificar na foto-imagem do frontispício do Castelo de Bratislava, onde o Conselho Europeu teve lugar, a bandeira da Grã-Bretanha foi à vida.
Todavia, os políticos europeus fingem continuar à espera que a Srª. May accione o célebre artº. 50.
Fingem porque não sabem como lidar com o problema. E fingem, também, porque sabem que atrás desse problema vem um profunda crise que tentam esconder.
São estes os 'políticos europeus' que temos...
Agostinho disse…
Aconteceu o que tinha de acontecer. De desilusão em desilusão...
Como é que se conciliam políticas e culturas que se pretendiam conformadas à União mas que nada têm a ver com os valores que a suportam? Os países do leste socorreram-se da UE para se afastarem da influência da Rússia e também na esperança de receberem fundos. Tudo o resto é ficção. Todos eles sabem que a Europa é um continente, não uma realidade política. E sabem que decisivos foram e são a Nato e os EUA. A Alemanha não irá contra o grupo (Visegrado e afiliados)porque é o seu território natural de expansão e, ao mesmo tempo, são a almofada protectora em relação à Rússia. A Ucrânia sinalizou bem a mudança da História. E, coitada da França que quer manter o estatuto de potência à custa do arsenal nuclear, acoita-se à sombra da Sr.ª Merckel; até quando a Alemanha não precisar. Paradoxalmente o Reino Unido faz muita falta à França. E à União desunida da Europa. O resto não conta, tal como nós e restantes países do sul. Hão-de continuar a ir ao beija-mão haja União ou não.

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