PàF – Réquiem de um pesadelo

As declarações de Assunção Cristas na entrevista ao Público não podem ser vistas como falta de experiência de uma ministra que caiu no ministério da Agricultura como Pilatos no Credo Romano.

Quem participa em reuniões virtuais do Conselho de Ministros e subscreve uma decisão política por email não ganha credibilidade política, sobretudo com a anuência implorada pela colega das Finanças, sem ponderação, numa matéria tão relevante como a decisão sobre o futuro do grupo GES/BES, e sem consciência de que as decisões coletivas do Conselho de Ministros comprometem individualmente todos os seus membros.

Assunção Cristas disse que “O Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca”, atribuindo a responsabilidade do colapso do BES a Passos Coelho, e, de uma só vez, mostrou a leviandade de todos os ministros do PSD e do CDS. Com a entrevista, ficámos a conhecer melhor a qualidade dos agentes políticos que durante mais de quatro anos procuraram desmantelar o Estado social movidos por radicalismo ideológico.

A líder do CDS, ao denunciar publicamente o que se passava no Executivo, colocou-se à altura de Cavaco Silva, quando revelou as reuniões institucionais, sigilosas, entre o PR e o PM. A decadência ética da atual direita não é presunção, é uma evidência.

Há várias conclusões a tirar da entrevista de Assunção Cristas, mas a mais importante é a da decomposição da coligação com que Cavaco queria continuar a fustigar o País que o elegeu.  Os líderes provisórios do PSD e do CDS não requereram o divórcio litigioso, mas anunciaram já a separação de pessoas, apesar da comunhão de interesses.

Finalmente, estão a servir o País.

Comentários

e-pá! disse…
Poderá ser interessante e esclarecedora a disputa autárquica em Lisboa. Assunção Cristas vai bater-se contra Teresa Leal Coelho o que pode trazer para a rua mais escabrosas revelações acerca do último Governo PSD/CDS.

De certa maneira estas eleições podem mostrar tensões e inconformidades que poderão ter sido obrigadas a ficar submersas por tácticas eleitorais, mútuos receios e desconfianças dizendo respeito a um passado comum (cúmplice) recente não tão pacífico como se julga.

Assunção Cristas, apesar de lutar pela sua autonomia partidária, continua a ser uma peça da armadilha política tecida por Paulo Portas para a governação de 2011 a 2015 e, por outro lado, Teresa Leal Coelho aparece aqui como um 'pau mandado' de Passos Coelho. Neste enquadramento de competição as cumplicidades passadas podem, no presente, baquear.

As primeiras 'rixas' já começaram (entrevista de A. Cristas ao Público) e desde logo saltou a terreiro a peregrina ideia de que os conselhos de ministros não são reuniões públicas. Julgo ser comum a noção de essas discussões são, obviamente, reservadas, por um dilatado período temporal (tratam-se de assuntos de Estado), mas o conhecimento sobre a actuação deste órgão de soberania não pode ficar pelo conhecimento da ordem do dia.
Estas reuniões são obviamente reservadas mas têm um eminente carácter público que um dia, depois de cumpridas as 'quarentenas legais', serão do conhecimento dos cidadãos.
Aparentemente essas reuniões têm uma agenda (ordem do dia) e a discussão e aprovação de dec.-leis e resoluções deverão ficar registadas em acta (elaboradas pela Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros).
Dos conselhos de Ministros devem ficar arquivados documentos (as actas são um desses ‘papéis’) para memória futura.

O facto de Passos Coelho vir admoestar Assunção Cristas com a tirada de que sobre estes assuntos (dos Conselhos de Ministros) o “silêncio é o melhor conselheiro...” link mostra o receio que venham a desvendar ‘rabos de palha’.
Esta 'atitude prudencial' é contraditória com o ruído que o PSD de Passos Coelho e o CDS de A. Cristas têm promovido à volta da CGD onde não escapa nada até os SMS trocados entre um ministro em funções e um ex-presidente do Conselho de Administração são reivindicados como correspondência acessível para inquérito.

A diferença entre reserva (para as ‘nossas’ coisas) e devassa (para as dos ‘outros’) é bem patente.

Aguardemos pelo confronto autárquico e no calor da peleja pode ser que surjam outras (novas) revelações…
Jaime Santos disse…
Sem dúvida, Cristas não se limitou a quebrar o sigilo para sacudir a poeira do capote, depois de ter sido deixada sozinha pelo PSD 'ao frio a secar', após o caso Núncio, como colocou à mostra a leviandade e a incompetência do Governo PSD/CDS em relação a uma questão central para o País como é a situação do setor bancário. Costa, pelo contrário, tomou o touro pelos cornos desde o princípio com o BANIF e depois com a CGD e o NB e sabe Deus os problemas que isso lhe tem trazido a si e a Mário Centeno. Também aí se mede a fibra do atual Governo do PS...

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