TVI – 25.º aniversário

Foi já no estertor do cavaquismo (julgávamos nós, a memória foi curta), mas no auge da prepotência, que foi atribuído à Igreja católica o segundo canal privado, sem um projeto coerente, sem um caderno de encargos credível, sem viabilidade, mas a render homilias favoráveis ao PSD nas missas dominicais, contra um projeto mais elaborado e credível, em pia arbitrariedade governamental.

Do início nebuloso, que celebrizou o mais indigente dos programas, “A amiga Olga”, já não há memória. Durou a telemadrassa enquanto os crentes não se cansaram de acorrer aos aumentos de capital, desistindo das “boas ações” e do Paraíso, mais pela despesa do que por ausência de fé.

Do aborto informativo gerado no ventre do patriarcado de Lisboa, arrancado a ferros e com ventosa, pelo PM, diria mais tarde o pioneiro da crítica televisiva e seu excecional expoente, Mário Castrim, «nasceu na sacristia e desaguou na sarjeta».

À míngua de óbolos e orações, a TVI (‘I’ de Independente e de Igreja) mirrou e emigrou para o capital laico, onde a programação deixou de ser anunciada em missas dominicais, enquanto o Patriarcado garantiu missas, tempos de antena e mensagens cardinalícias no canal público, em flagrante atropelo à laicidade do Estado.

Deste projeto megalómano da Igreja católica e da cedência vergonhosa do Estado não se fala no 25.º aniversário em que muitos recordarão mais os programas escabrosos do que os negócios e as lutas políticas travadas no seu seio.
Para memória futura, ficam estes apontamentos que os cúmplices gostariam de ocultar e certamente empalideceriam os festejos de aniversário. Tudo se esquece e perdoa, longe do escrutínio de uma opinião pública esclarecida e participativa.

Ontem foi dia de festa na TVI, mas o passado ficou envolto nas brumas da memória.

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