Estónia: um pequeno país com um grande futuro

Regressado de uma semana de trabalho na antiga Universidade de Tartu (criada em 1632), onde leccionei ao abrigo do programa de Mobilidade de Docentes ERASMUS, venho partilhar algumas impressões desta viagem.

A Estónia, ex-República soviética, hoje Estado-membro da União Europeia, é um pequeno país com menos de 1,5 milhões de habitantes e com um PIB per capita um pouco inferior ao português.

A passagem da União Soviética à União Europeia deu-se em menos de 15 anos, nos quais se produziu uma alteração radical na sua situação política económica e social.

Em termos políticos, o povo estónio – de etnia e língua próximas das dos finlandeses e bastante distantes das dos russos – recuperou, em 1991, a independência perdida na 2.a Guerra mundial.

O período soviético é pois encarado pelos locais como “ocupação soviética”. E ainda hoje não estão curadas as chagas das décadas de estalinismo e pós-estalinismo, de repressão, violência e privação da liberdade. As relações diplomáticas entre Tallinn e Moscovo são ainda tensas e esta semana o Presidente da Estónia recusou-se a participar nas celebrações da vitória da União Soviética (Rússia?) sobre a Alemanha Nazi, em virtude de Putin ter vindo a produzir algumas declarações dúbias sobre a História dos países bálticos.

Com uma democracia parlamentar consolidada, com um aparelho judicial culto e independente e uma administração pública moderna e sem corrupção, o Estado estónio conseguiu criar condições adequadas para o investimento, a inovação e o progresso do seu país.

A economia é pujante e saudável, assente na iniciativa privada, no investimento externo e interno, num consumo crescente e com uma capacidade produtiva com óptimas condições estruturais.

Em termos agrícolas, encontramos terrenos férteis e extensos, florestas cuidadas e produtivas. A indústria goza de bons acessos ao mar, ferroviários e rodoviários. De energia a preços acessíveis e uma carga fiscal diminuta. Os serviços contam com uma população muito educada, com forte dinâmica empresarial e espírito de trabalho.

Alguns factos merecem a nossa atenção e reflexão:

No sistema de ensino, encontramos escolas públicas especiais para as crianças que revelem maiores capacidades de aprendizagem. Nessas escolas o ensino é quase todo em inglês e o nível de formação excelente, permitindo a formação de elites do melhor nível europeu, essenciais para a afirmação de um pequeno país na cena política, académica, económica e cultural à escala internacional.
Claro que qualquer outra escola pública é de muito bom nível e as taxas de escolarização da população estão entre as mais altas do mundo.

Permitam-me o paralelo com as famosas escolas de futebol do Sporting e do Boavista! Se conseguimos ser Vice-campeões europeus de futebol é porque investimos desde cedo nas nossas crianças. Porque não fomentar estas experiências, em escolas públicas, nos domínios da cultura e do saber?

A cultura ocupa um lugar fundamental na política nacional e municipal. Qualquer pequena cidade de 20.000 habitantes conta com teatros, com concertos de música, com galerias de exposições. Em Tartu, cidade universitária nacional, de dimensões inferiores a Coimbra, encontrei uma dinâmica cultural e intelectual em várias vertentes absolutamente invejável. Se, por um lado, vi bairros com estradas mal alcatroadas, por outro, vi o carinho que a população tem pelos seus liceus e universidades, o respeito que os políticos têm pelos agentes culturais e a exigência que a população dedica à conservação urbanística e ambiental, ao desenvolvimento de uma cidade bonita, inclusiva e progressista. Numa palavra, uma cidade onde se respira cidadania.

Coimbra tem feito alguns progressos, com a execução das grandes obras planeadas e orçamentadas pelo executivo de Manuel Machado, mas à parte alguns concertos novo-ricos do género “Rolling Stones” ou “Lou Reed” que eu tanto apreciei, apenas se sente vir da Praça 8 de Maio uma vaga de fundo de cariz tradicionalista e pseudo-religioso, sem verdadeira atenção ao que de mais moderno se deve fazer em termos de cidade.

Penso que Tartu poderia ser uma boa aliada para a nossa cidade. Proponho a geminação de Coimbra com Tartu!


André Pereira

Para mais informações, veja:
http://www.riik.ee/en/
http://www.tartu.ee/?lang_id=2

Comentários

Mano 69 disse…
E quando tudo corria bem eis que surge um parágrafo sobre o Manuel Machado... Porque é que será que as pessoas escrevem com o cartão de militante ou simpatizante (riscar o que não interessa) do partido?
andrepereira disse…
Caro mano 69.
Sou militante do PS desde 1989 (então JS).
Anónimo disse…
Tartu ou com as TATOO?
Mano 69 disse…
Eu disse (escrevi) riscar o que não interessa. Mas o que verdadeiramente interessa é que o texto é muito elucidativo até ao parágrafo do MM, a matéria era a Universidade e Tartu e não o PS, Manuel Machado e quejandos.
Tenha dó.
Anónimo disse…
best regards, nice info » »

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides