Governo: informação, contra-informação ou balanço?


Passos Coelho disse esta quinta-feira à noite aos deputados do PSD que tem havido muita "contra-informação" sobre medidas que ainda não estavam "moduladas" nem "calibradas", como é o caso dos cortes nas pensões de sobrevivência, omitidos na conferência de imprensa de Paulo Portas na passada quinta-feira. link.

Durante muito tempo os apoiantes da actual coligação governamental tentaram justificar – e esconder - os erros crassos deste Governo como um ‘problema de informação’. Agora são os principais dirigentes do PSD que partem para uma nova cruzada: a “contra-informação”.

Quando este partido se lançar nesta cruzada contra-informativa (em Novembro) é suposto que as medidas orçamentais – como os cortes nas pensões de sobrevivência – já estarem discutidas à exaustão, por constarem do projecto de OE que na próxima semana será entregue na AR. Portanto a “contra-informação” deverá ser entendida como mais uma campanha de “pressão”, nomeadamente, sobre o Tribunal Constitucional. Ou, numa hipótese mais aligeirada uma manobra de marketing para consumo interno onde já se ouve muito alarido.
Mas todos já percebemos que o problema deste Governo não está na informação, nem na será resolvido pela ‘contra-informação’. Aliás, a ‘contra-informação’ sendo um instrumento de acção e/ou de dissuasão – muito usado pelos organismos de ‘inteligência’ – poderá servir para contornar ‘desinteligências’, como os apressados e repetidos desmentidos vindos a público parecem confirmar link.

Fugas de informação’ tornaram a conferência de imprensa do vice-primeiro-ministro - logo após a conclusão da 8ª e 9ª avaliação da troika - numa caricata sessão onde se tentou exibir o ledo e cego engano da existência de um “orçamento sem mais austeridade”, podem ter resultados políticos devastadores. Paulo Portas – um político supostamente astuto - terá caído numa infantil armadilha que vai para além da ridícula (e mentirosa) figura que fez na comunicação dos resultados da ‘avaliação’ e que se entronca numa posterior percepção acerca da vigarice de um mítico e fantasioso ‘novo ciclo’, que lhe terá sido prometido durante a recente e pública crise no seio da maioria.
O que parece evidente é que as sessões de esclarecimento (“contra-informação”) previstas no interior do aparelho do PSD, para o início de Novembro, poderão ter sido ditadas e programadas perante a eminência de uma nova crise no seio da coligação.

Tudo este imbróglio porque não existe maneira de este Governo tratar os problemas dos portugueses e do País com competência, transparência, honestidade e dignidade. Na verdade, desde o memorando inicial (2011) que assistimos, de 3 em 3 meses, a substanciais alterações – decididas pela calada – traduzidas em irrealistas, penosas e exigentes adendas.
As avaliações ‘regulares’ sistematicamente contabilizam resultados, sem em qualquer momento questionarem as ‘receitas’.

Nunca os portugueses foram atempada e cabalmente informados sobre o desenrolar e o conteúdo das avaliações e, advertidos acerca de novas e acrescidas medidas de austeridade. Provavelmente invocar-se-á que o segredo é a alma do negócio. No entanto, o que se tornou público e notório é estas avaliações sorrateiramente ‘negociadas’ para posteriormente (às pinguinhas), serem anunciadas como incontornáveis ‘compromissos assumidos por Portugal’. Pior, o Governo quando aparece euforicamente na praça pública a comemorar as ‘avaliações - sempre ‘positivas’ - revela um intolerável e manhoso comportamento: esconder o abrangente número de acrescidos compromissos que essas reuniões, invariavelmente, incorporam.
O Governo assiste pacatamente ao deslizar do programa de auxílio externo e é tratado pela troika como um veículo encarregado de fazer os trabalhos de casa (“calibrar”, “modular e “aplicar”). Não é tido nem achado sobre a adequação e a oportunidade da catadupa de medidas que lhe são exigidas e se compromete a ‘implementar’ contra todas as evidências.

Logo, se existisse algum espaço para a ‘contra-informação’ seria exactamente neste crucial ponto: acerca da necessidade de conhecer com rigor, transparência e verdade com que fé (boa ou má) se ‘negoceia’ em nome dos portugueses.

O OE 2014 será, nesse sentido, um documento que esclarecerá sobre a condução dos negócios públicos e revelará ao estado a que chegamos, ao fim de 3 anos de intervenção externa. Não precisamos de uma sofisticada informação, ou de contra-informação. Basta-nos proceder a um simples balanço doméstico trabalho que os portugueses não deixarão em mãos alheias. 

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