Mudam os tempos, permanecem os pins...


Fomos, durante mais de 4 anos, confrontados por uma ‘pirosice’ armada em exibição patrioteira. 

O ex-primeiro-ministro e alguns dos seus ex-ministros apareciam frequentemente em público com um pin na lapela reproduzindo a bandeira portuguesa. 

Sem nunca percebermos qual a verdadeira motivação que levou o XIX Governo Constitucional a transformar a bandeira nacional num adorno, pairou no ar a leve suspeita que os governantes davam ao exercício das funções um carácter eminentemente ‘nacional’ que, aliás, já tinha começado a ser expresso no cabeçalho dos documentos oficiais onde se inscreveu um impressivo título: ‘Governo de Portugal’.

Mas a exibição dos pins para além de pirosa - e não é obrigatório ter bom gosto - é, para além do mais, ridícula. Ver o ex-primeiro-ministro ‘carregar’ diariamente na lapela a bandeira da República e, em paralelo, colocar-se em absoluta genuflexão perante os ditos ‘credores’, acabando por eliminar dos feriados a data celebrativa da implantação da República - sob esdrúxulos pretextos de miríficos aumentos da ‘produtividade’- não é só contraditório mas, acima de tudo, caricato.

Os pins na lapela são uma antiga tradição castrense (remontará ao século XVIII). Os agraciados para não submeterem as suas condecorações à usura do tempo e as vicissitudes da ferrugem, criam um tipo de representação alusiva e simbólica – sublinhando uma ‘heróica’ diferenciação – usavam pins, como se fossem ‘vitrines’ ou 'crachás'. 

Mais tarde essa ‘tradição’ invade os campus académicos onde os estudantes, para se diferenciarem por Colégios e Faculdades, passaram a usar pins na lapela dos trajes académicos. 

Vamos deixar de lado – embora a tentação seja grande - a evidente similitude com outro adorno de vestuário, eminentemente feminino, que são os conhecidos ‘broches’. 

Ora, Passos Coelho não usufrui de um brilhante ou heróico currículo militar e, muito embora tardiamente, já terá terminado a sua formação académica (o que não sucede, por exemplo, com o seu ‘compagnon de route’ Miguel Relvas). 

Portanto, a razão para o uso de um inusitado adorno de lapela deverá ser outra. Resta saber se o exercício de funções governativas lhe encheu a cabeça daquele ‘nacionalismo pacóvio’ que a Direita tanto gosta de cultivar ou se sente merecedor de uma diferenciado heráldica  (distintiva) por ‘feitos praticados’ ou ‘majestaticamente incumbido (pelos 'mercados') de os praticar’.

Na verdade, seria pouco funcional e bastante incómodo o governante aparecer em público envolto na bandeira nacional. Mas para além das condicionantes práticas relativas ao uso de tão extravagante vestuário é de supor que em nome da ‘Pátria’ ninguém lhe exigiria o envergar de tal trajadura. Pelo que, o mais óbvio é essa exibição ser uma opção pessoal com intuito de conferir algum simbolismo a sua prestação governativa. 
O problema é que a fronteira entre as exibições simbólicas e o espampanante é muito ténue. Uma coisa é a representação simbólica e outra será o pedante gabarito, muitas vezes assente em falsas heroicidades.

Há 2 dias (10.12.2015) no Conselho Nacional do PSD que ‘recomendou’ o voto no prof. Marcelo (ver foto) Passos Coelho aparece ainda com o pin da bandeira nacional na lapela. 

Tendo deixado de exercer funções governativas a permanência do símbolo pode ter várias interpretações. 

Uma é o simples desleixo e balbúrdia pós-eleitoral que não terá permitido rever o encafuado vestuário de uso em cerimónias públicas. 

Outra hipótese será que resolveu apropriar-se do símbolo porque se considera o legitimo proprietário a despeito das mudanças políticas entretanto operadas, a seu contragosto. Será, portanto, a sua ‘atitude de resistência’ ao novo ciclo político. 

Uma terceira será o receio de ser identificado como o radical e filial pupilo germânico e necessita, portanto, de manter a aparência de que continua a ser um cidadão português.

Apostila: 

Longe vão os tempos (1910) em que a reincidência de desrespeito da bandeira nacional era punida, no mínimo, com a pena de expulsão do território nacional…

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