Faleceu o coronel Carlos Alberto Vieira Monteiro

Coronel Carlos Alberto Vieira Monteiro, será sepultado na Vela, concelho da Guarda. Do mesmo curso e arma de Ramalho Eanes, a quem imediatamente precedia na antiguidade, faleceu aos 89 anos. Era um democrata e cidadão exemplar que se manteve fiel ao 25 de Abril. Aqui fica datada a homenagem que lhe prestei em vida.

Um coronel não mente

Quando, em 1953, entrei para o 1.º ano no Liceu Nacional da Guarda, tinha transitado para o 7.º o conterrâneo da minha família materna. Durante esse ano era um dos que me defendia do que ora é chamado bullying, de que eram vítimas os bons alunos e os mais frágeis.

Vem daí a duradoura amizade com o condiscípulo, que já conhecia das férias passadas em casa de meus avós maternos, na Miuzela do Coa. A sua precoce formação democrática e honradez juntaram à amizade, que perdura, a grande consideração que lhe devoto. Convivo bem com o seu conservadorismo social e a devoção religiosa que a idade exacerbou.

Omito-lhe o nome, embora merecesse destacar este camarada de curso da Academia do único militar eleito PR na vigência da atual CRP, sendo um dos melhores do seu curso de Infantaria.

Foi o último comandante do Regimento da Guarda Fiscal na zona centro do País. Tinha sob o seu comando os militares da extinta Guarda Fiscal nos portos da sua área, por onde entrava o contrabando.

Um dia, conversando com dois coronéis ‘amigos’, desabafou que não se considerava burro, e não conseguia apreender o contrabando nem capturar os contrabandistas, que adivinhavam as operações. “Desconfio do tenente, protegido do general, e não consigo ver-me livre dele”.

Chamou-o o general que lhe perguntou se confirmava ter dito o que dissera. Confirmou. Um coronel podia ser delator, um deles referiu ao general a conversa a três, mas não mente.

Quando cursava o curso de oficiais-generais, foi lida ali a pena de prisão, de 2 dias, com que o general o punira. Vigorava então a justiça do foro militar, abolida antes do roubo das armas de Tancos. A publicação da pena surgiu, cirúrgica, durante o curso onde foi bem classificado.

Perdeu as estrelas de general. O tenente, afilhado de casamento do general da GF, já capitão, viria a ser condenado, já em tribunal civil, por conivência com a rede de contrabando.

Encontro-me com alguma regularidade com o velho coronel e meu amigo.

“Um coronel não mente”. Nem tira selfies em velórios.

Tenho orgulho no meu amigo Carlos.»

Coimbra, 14 de abril de 2019

Feira do Livro do Porto, Ponte Europa e Ancoradouro, à venda no stand n.º 5 da Âncora Editora.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Coimbra - Igreja de Santa Cruz, 11-04-2017

HUMOR – Frases de AMÉRICO TOMÁS, um troglodita que julgávamos não ter rival