Caros leitores

O médico que me acompanhou nos 26 meses de guerra colonial e aí me proporcionou a leitura de muitos livros e revistas, é um leitor compulsivo que alia uma notável carreira médica a uma cultura invulgar.

Pelo mérito da missiva, aqui fica uma opinião que me serve de referência:

Meu caro colega das campanhas africanas – Carlos Esperança

Regularmente, tenho lido as suas crónicas. Com umas estou de acordo, doutras discordo no todo ou em parte.

Tem esta missiva o intuito de retificar algumas ideias que explana nos seus escritos. Faço isto, não para estabelecer uma polémica, mas para o esclarecer sobre alguns factos que muitos historiadores sonegam. Muito do que vivemos hoje resulta do combate encarniçado que se estabeleceu, no final do século XIX, entre as grandes potências imperiais: Inglaterra, França, Rússia, Império Alemão, Império dual Austro-Húngaro e Império Otomano.

Após a bravata de Napoleão III contra a Prússia da qual saiu derrotado, Bismark discordou da anexação da Alsácia Lorena.  Ela foi feita e criou um revanchismo nos franceses.

Os europeus, que mandavam na Europa, perante as guerras balcânicas, atribuíram a Bósnia Herzegovina ao Império Austro-Húngaro sob a forma de protetorado e que posteriormente foi anexada pelo Império.

 O Império Otomano que se estendia desde a Anatólia, Médio Oriente aos Balcãs começou a desmoronar. Criou-se uma organização sérvia, secreta, ortodoxa e irredentista “Mão Negra” que praticou terrorismo em larga escala, ora a Bósnia-Herzegovina etnicamente era predominantemente muçulmana, embora houvesse católicos croatas e sérvios ortodoxos.

 A luta contra os otomanos libertou a Grécia, Bulgária, Sérvia, Macedónia, Montenegro e Kosovo. Enquanto isso acontecia, a França estava preocupada em invadir Marrocos (com uma mãozinha da Espanha), a Itália ocupar a Líbia, os Ingleses submeter Egito e Sudão.

 Os alemães não queriam a guerra, no entanto as alianças França-Rússia, Inglaterra-França e Inglaterra-Rússia criaram grande instabilidade. O atentado de Sarajevo resultou da ação da “Mão Morta”. Desencadeou-se uma Guerra Mundial, com milhões de mortos e criaram-se novos países – Hungria, Checoslováquia, Polónia, Estónia, Letónia, Lituânia e Jugoslávia. No meio disto tudo, os alemães foram os mais penalizados, quando a meu ver foram tão culpados como os restantes.

O Império Otomano fragmentou-se e ao sabor dos Interesses anglo-saxónicos criaram-se países com régua e esquadro, sem respeitar os grupos étnicos, verbi gratia Síria, Iraque, Jordânia, Palestina e Líbano.  Dos Curdos esqueceram-se, pois dispersaram-nos pela Turquia, Síria, Iraque e Pérsia. Entre outros, resultou o caso de Chipre, domínio britânico até à independência com o Arcebispo Makários, como presidente (grego) e vice-presidente (turco) Fazil Küçük. Foi sol de pouca dura, pois em 1963 iniciam-se hostilidades entre as duas comunidades, alimentadas pelo do grupo grego que desejava a “enosis”. A instabilidade foi tal, mesmo com a presença da ONU, que para proteger a comunidade turca, a Turquia invadiu e ocupou militarmente a parte norte da ilha.

Como solucionar? Com o espírito belicista criado atualmente, penso que a senhora Van der Leiden pouco possa fazer, assim como António Guterres é incapaz de pacificar este Mundo.

A política belicista dos homens com poder e má vontade é impossível de contrariar.

Com amizade

LAD

 

Luís Afonso Dutschmann

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