Notas Soltas – janeiro/2022

Euro (€) – Após vinte anos, a moeda que deu consistência ao espaço da UE, exige a coesão económica, social e política, mas permitiu que as reformas, tituladas na moeda única, mantivessem o poder de compra que desvalorizações sucessivas lhe retiravam.

Justiça – A violação do "Princípio do juiz natural", garantia fundamental em processo penal, tem sido reiterada na distribuição de processos. A venalidade feriu os processos mais mediáticos e sensíveis, lançando o descrédito sobre o Estado de Direito.

EUA – Se, no ataque ao Capitólio, Trump não for responsabilizado, para que a Justiça mostre que ninguém está acima da lei, não é apenas a governação americano que corre o risco de um golpe de Estado, é um estímulo para derrubar as democracias.

Azeredo Lopes – A absolvição total do ex-ministro da Defesa, caso Tancos, é justiça tardia a quem foi enlameado nos media, e não é ressarcido, à semelhança de Miguel Macedo, vistos Gold, ou Paulo Pedroso, Casa Pia. A política ficará para os piores.

Parlamento Europeu – A morte do seu presidente, David Sassoli, em pleno mandato é motivo de consternação. O grande europeísta com quem a presidência portuguesa da UE estabeleceu relações de especial cumplicidade era um amigo de Portugal.

Aquecimento global – Os últimos sete anos foram os mais quentes desde que há registos. A agência climática europeia Copernicus divulgou os primeiros dados sobre a temperatura global de 2021, que se encontravam 1,2º C acima do nível pré-industrial.

Reino Unido – O primeiro-ministro, Boris Johnson, tem tanto de inteligente como de louco. O grande artífice do Brexit logrou exacerbar o nacionalismo britânico e ganhar a simpatia que dissipou em festas loucas, em Downing Street, durante o confinamento.  

Moçambique – Jihadistas ameaçam novas áreas no Norte de Moçambique. Acossados em Cabo Delgado, fogem à pressão militar e avançam para as províncias de Niassa e Nampula num ambicioso plano terrorista de islamização e chacina das populações.

ONU – A sec.-geral, António Guterres, que sofreu o ataque da administração Trump ao multilateralismo, defende um Conselho de Segurança Económica e Social na ONU e convida estados e instituições financeiras internacionais a redesenhar a governação económica mundial de forma mais equitativa e sustentável. O Mundo precisa.

Ucrânia – Há países que a História e a Geografia condenam à tragédia, quando as suas fronteiras se situam em zona de confronto geopolítico. A Rússia nasceu na catedral de Kiev, a NATO ameaça a Rússia, e duas superpotências militares digladiam-se aí.

África – Os golpes de Estado voltaram ao infeliz continente, do Burkina Faso ao Mali, com guerras civis em vários países, onde o crescimento da Al-Qaeda e do Daesh está a juntar à pobreza o sangue e a demência da evangelização islâmica.

Itália – A reeleição do chefe de Estado, Sergio Mattarella, de 80 anos, depois de um mandato que devia ter sido o último, foi a solução para manter a estabilidade partidária e não comprometer as reformas e a chegada de 200 mil milhões de euros da UE.

PS – A maioria absoluta foi um voto de confiança no Governo, que enfrentou a maior tragédia sanitária das nossas vidas, e uma manifestação de medo da ingovernabilidade a que o insensato chumbo do OE-2022 e as eleições precipitadas poderiam conduzir.

PSD – A derrota de Rui Rio abre um novo ciclo no partido onde jamais gozou de um mínimo de tranquilidade, e não serão os herdeiros de Cavaco e Passos Coelho os que poderão devolver a confiança a um partido que eles ajudaram a descredibilizar.

PCP – A derrota severa, penalização do chumbo do OE, é uma perda para o equilíbrio da democracia portuguesa, injusta para o partido cuja História se confunde com a luta contra a ditadura fascista e fundador da democracia que os militares de Abril legaram.

BE – Aceita-se a luta pelos votos, mas fazer do PS o inimigo principal e usar tamanho entusiasmo no combate, infligiu-lhe a estrondosa derrota de que Catarina Martins não pode desresponsabilizar-se. Cabe-lhe a ela refletir e ao BE alterar a futura estratégia.

CDS – Partido fundador do quadro partidário resultante do 25 de Abril, deixa vazio o espaço conservador e democrata-cristão para um partido perigoso para a democracia, o partido fascista Chega, e para o neoliberal IL, que agravará as injustiças sociais.

Livre – A eleição de um excelente deputado para a próxima legislatura, depois de uma experiência infeliz na última, abre a porta a um partido ecologista, que fazia falta.

PAN – Elegeu uma boa deputada, mas não pode manter a dúvida sobre a orientação do partido que a imprensa se habituou a considerar de esquerda. Nos Açores está aliado a toda a direita, incluindo o partido fascista.

PR – A tendência para invadir a esfera de competência de outros órgãos da soberania, AR e Governo, levou-o a interferir nas negociações do OE, coagindo BE e PCP para o aprovarem, e a precipitar eleições que podiam ter gerado a ingovernabilidade.

Comentários

Carlos Antunes disse…
Discordo do que refere sobre Moçambique. O Norte e Centro de Moçambique sempre foram islâmicos, no período pré-colonial e muito antes da chegada dos portugueses (A. Rita Ferreira “Fixação Portuguesa e História Pré-colonial de Moçambique”) durante o colonialismo e após a independência em 1975.
Ao contrário do que afirma, e na linha do que com superficialidade em “terroristas, Daesh, Estado Islâmico”, precisamente o mesmo tipo de alegações que a Frelimo promoveu para explicar o conflito no Norte de Moçambique, «não existe um ambicioso plano terrorista de islamização». Realmente, o regime autocrático de Maputo conseguiu internacionalizar o conflito, fazendo passar a imagem de que se trata de terrorismo levado a cabo por um ramo do Daesh que está tentar criar um Estado Islâmico no norte de Moçambique, e que se tornava necessária uma intervenção estrangeira (onde infelizmente até Portugal no âmbito da UE se integrou) para os expulsar.
Tenta assim esconder o cerne da questão. Cabo Delgado é a província mais rica em recursos naturais (rubis, grafite, gás natural, etc.) mas é ao mesmo tempo, a mais pobre e desigual de Moçambique, sem que a maioria da população islâmica tenha acesso a educação, cuidados de saúde e empregos, e até ao cultivo das terras de onde têm sido expulsos das vastas extensões de território concessionado às empresas estrangeiras que exploram os recursos em parcerias com as elites de “changanas e macondes” da Frelimo.
O conflito não é religioso, mas sim um conflito étnico, uma sublevação da maioria islâmica dos “mwanis e dos macuas” – largamente maioritários na província em que dos 2.350.000 habitantes, a população de origem “makonde” é de apenas 200.000 – e do sentimento de marginalização a que sempre foram votados pelo Estado, desde a independência, cujas estruturas foram sempre dominadas pela minoria dos “makondes” (povo do Presidente Nyusi e de generais como Pachinuapa, Chipande e outros), elites do partido Frelimo, que se arrogando de pertencerem à geração da luta armada de libertação nacional, se sentem legitimados para se auto-outorgarem com as licenças de exploração dos recursos para depois as passarem a multinacionais, passando a viver faustosamente das rendas, espalhando-as alegremente pelas mais ricas cidades do mundo (África do Sul, Dubai, Emiratos, etc., que curiosamente e, ao contrário dos angolanos, nem as investem em Portugal), longe dos olhares de fome e miséria da maioria da população de uma província riquíssima, opinião de resto subscrita por muitos intelectuais moçambicanos (Sérgio Chicava, Yussuf Adam, João Feijó, Salvador Forquilha, João Mosca e outros não alinhados com o poder freliminista).
Quanto à chacina das populações, como em todas as guerras, elas não são apenas do lado dos insurgentes ou terroristas como agora são chamados pela Frelimo, curiosamente como na guerra colonial os combatentes daquela eram designados pelos portugueses, mas também dos exércitos de Moçambique e seus aliados (Ruanda, SADC, e UE).
Monteiro disse…
- Moçambique na altura da independência tinha cerca de 10 milhões de habitantes e atualmente tem cerca de 30 milhões. É um bom índice de avaliação daquilo que tem sido a política dos governos moçambicanos sempre em luta contra bandidos de toda a natureza.
- Guterres tem tido um papel moderado e muito apreciado.
- A maioria absoluta do PS guindou a Esquerda para uma maioria nunca tão marcadamente de Esquerda especialmente ameaçada por uma extrema direita como nunca tinha acontecido.
- O PCP tem um desígnio que é o da luta até à vitória final e cuja bandeira já chegou a Marte e que ulula por exemplo no Chile de Pinochet. Marx falou da maior derrota dos comunistas na Comuna de Paris e mesmo assim foi necessária.
- Zyuganov Gennady Andreevich Presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa fala amargurado: Queridos irmãos e irmãs! Cada um de nós já ouve a batida do problema na porta de nossas casas. A Ucrânia e a Rússia estão enfrentando uma grave ameaça. O Ocidente sonha em fazer o impensável...Nossa amizade foi violada mais de uma vez. Era uma vez, o inimigo apareceu sob o disfarce de astutos legados papais que puxaram os principados do sul da Rússia para o redil do catolicismo. Então a nobreza polaca se declarou, criando violência e erradicando a memória milenar de nossa unidade. Os turcos, os suecos, os franceses e os alemães trabalharam arduamente no campo das conquistas. Eles falavam línguas diferentes. Suas munições e padrões diferiam. Mas de século em século eles fizeram um ato sujo, sonhando em dividir e escravizar nossos povos.

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