O Padre Hugo de Azevedo OD – Opus Dei ou Opus Daemonii?

Com a opinião pública distraída, assistiu-se ao foguetório da Opus Dei, à campanha de promoção da mais obscura organização católica, a pretexto do 75.º aniversário da sua chegada a Portugal, tendo como promotor o primeiro padre português da instituição que gera quadros para a extrema-direita em Portugal, Espanha e América Latina.

Hei de voltar aos escândalos que protagonizou e ao seu santo fundador, que, depois de ter apoiado Franco e silenciado o genocídio da ditadura fascista, virou santo dos altares do catolicismo romano pela mão do maior criador de santos do Vaticano, o Papa João Paulo II.

Para se ter ideia da Prelatura, estatuto que dá direito ao seu clero a não prestar contas ao bispo das dioceses onde opera, basta ver que, em Espanha, os quadros do VOX são oriundos dos colégios da Opus Dei e da sua Universidade de Navarra. Em Portugal, não podia estar ausente do partido fascista cujo líder se foi ajoelhar à campa de Josemaria Escrivá, fascista em vida e santo em defunção.

Pode a leitura da carta, que o Jornal de Notícias publicou no correio dos leitores, ajudar a conhecer o poderoso padre e jornalista que foi o primeiro clérigo da Opus Dei em Portugal.

Aqui fica:

«No J. N. de 1 de fevereiro [2000] encontra-se um artigo de opinião do jornalista Hugo de Azevedo (1) que é um verdadeiro anacronismo, à semelhança, aliás, de outros que sobre o mesmo assunto tem publicado.

É a primeira vez que me dirijo ao J.N. e desconheço, pois, se o pluralismo que as suas páginas inegavelmente refletem, e de que o artigo referido é exemplo, se conforma com os comentários que gostava de ver publicados na página do leitor. Comentários, de resto, mais serenos do que os do articulista.

São saborosas as pérolas que me deliciaram na prosa virulenta com que o jornalista se insurge contra o "kit" informativo “Haja Saúde", distribuído pelo Ministério da Saúde aos jovens universitários, inserido na campanha de luta contra a Sida.

Por esse motivo chama ao Estado "corruptor ordinário, acanalhado, reles, aldrabão, um gatuno que rouba o dinheiro dos pais para corromper os filhos à sua revelia."

Apesar de nos tranquilizar quanto ao facto de "omitir os pormenores mais nojentos" não deixa de se interrogar se ‘haverá diferença entre essa conversa do Estado, essa bodega a que chama "educação sexual", e a de uma rameira’.

Sobre rameiras não me vou pronunciar por me encontrar seguramente em desvantagem, e nem, sequer, pretendo documentar-me. Já quanto à educação sexual, é outro assunto, que indiscutivelmente me interessa. Que interessa a todos, como pais e cidadãos.

Julguei que o artigo do Dr. Hugo de Azevedo era um contributo para uma melhor educação sexual. Nada disso. Era a defesa intransigente da castidade.

Senti-me ludibriado. Apenas verifiquei que tem mais ódio ao preservativo do que os peregrinos de Meca às sanduíches de presunto. Não traz nenhuma ideia nova para a educação sexual. Limita-se a um libelo contra a sexualidade.

Se o autor tivesse alguma experiência sexual, o que nem me atrevo a insinuar, saberia que, além de agradável, pode ter efeitos secundários gratificantes: os filhos. Com uma só experiência, em vez do anátema que ora profere, talvez optasse pela militância. Em vez do ódio que acalenta, seguramente despertaria para o sortilégio do amor.

 Além disso, o ato sexual, sobre o qual deixa transparecer tanta repugnância, continua a ser o mais eficaz e popular modo de reprodução.

Ao ler o artigo, não sei porquê, lembrei-me de Camilo, que chamou a Frei Gaspar da Encarnação "uma santa besta". Não uso semelhante epíteto para este jornalista. Em primeiro lugar porque não o conheço. Depois, porque posso ser injusto. E, finalmente, porque ele pode não ser santo.

Aceite, Senhor Diretor, os meus cumprimentos.

(1) doutorado em direito canónico e direito comparado. Primeiro padre do Opus Dei em Portugal.

Texto publicado no Jornal de Notícias - Página do Leitor -, incluído em Pedras Soltas (esgotado) – ortografia atualizada.

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