Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2018

Os padres, o Eng.º Ricardo Robles e o Bloco de Esquerda

Imagem
Não está provado que a pedofilia tenha maior incidência nos membros do clero católico do que nos de outros grupos socioprofissionais que convivem com crianças, professores, assistentes sociais, médicos, enfermeiros e catequistas, ou nos de outras religiões. O que torna o clero católico particularmente vulnerável perante a opinião pública é a sua obsessão moralista, que acrescenta à gravidade do crime a imensa dose de hipocrisia dos perversos. Quem vê na castidade a virtude e via para a santidade, não pode sequer amar. A paternidade do clero, dissimulada pela imposição do celibato, tornou-se escândalo. A vulnerabilidade católica resulta do escrutínio das sociedades democráticas, ao contrário do que ocorre em teocracias, sejam islâmicas, a monástica do cristianismo ortodoxo, do Monte Athos, ou a do Vaticano. No mercado da fé, a destruição dos adversários é uma arma pela conquista dos fiéis dos outros, tal como na política, onde a sanha aos políticos concorrentes faz parte da disput

A lunática brincadeira de Casillas…

Imagem
Iker Casillas , jogador do FCP, protagonizou recentemente um arrazoado de especulações ao mandar, através do twitter, uma prandial atoarda tecida entre amigos sobre a viagem à Lua da Missão Apolo 11, ocorrida em 1969, e prestes a completar 50 anos link .   Uma boutade ocorrida num repasto determinou uma cascata de opiniões e comentários. Muito tem a ver com a ‘popularidade’ do futebol mas, para além dessa questão, existem outras condicionantes. É óbvio que esta boutade é um gozo pegado mas as redes sociais pegaram nela. Casillas – na sua jocosa consideração - sugere que a (suposta) ida à lua foi uma resposta ‘ fabricada ’ pelos norte-americanos para ofuscar e contrariar o desenvolvimento aeroespacial do regime soviético. Seria - para usar o jargão político em voga - uma fake news . Na verdade, hoje existe uma dúvida metódica sobre tudo o que é publicado e não pode ser imediatamente experienciado e verificado. Essa indagação fortaleceu-se na política muito à custa de promes

Salazar – um déspota que esta direita esqueceu

Imagem
Faz hoje 48 anos que o biltre de Santa Comba, depois de três dias de exéquias fúnebres, regressou cadáver ao sítio onde nasceu, de onde nunca devia ter saído, para oito anos de seminário onde iniciou os estudos para ditador. Começou no latim, na batina e no cantochão, continuou no C. A. D. C., e acabou com a foto de Mussolini na secretária de trabalho, no Palácio de S. Bento. O ambiente soturno da adolescência do seminarista foi a inspiração que o guiou na ditadura fascista, fazendo dos portugueses prisioneiros de verdades únicas, sob o lema “Deus, Pátria e Família”. Quarenta e oito anos foi exatamente o tempo que a ditadura mais longa da Europa durou e de que foi ele o protagonista, tempo que leva inumado o cadáver que no Mosteiro dos Jerónimos teve um gigante e um anão como atrações fúnebres junto ao ataúde. Curiosamente, foi também no dia de hoje, em 30 de julho de 1930, que o comparsa do cardeal Cerejeira criou a União Nacional, partido único, e ilegalizou todos os restante

Erro de casting ou decadência das instituições?

Imagem
Santana Lopes foi eleito académico de mérito da Academia Portuguesa da História. Não ficou registado em ata o nome do/a proponente, mas há decerto razões para distinguir o ora académico de mérito da Academia de Ciências de Lisboa, instituição que tem por objeto, entre outras atribuições, “…estimular o estudo da língua e literatura portuguesas e promover o estudo da história portuguesa…”. O novel académico não tem carreira fulgurante no campo cultural. Quando secretário de Estado da Cultura, de Cavaco Silva, ficou manchado pelo veto do seu subsecretário, Sousa Lara, a ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, de José Saramago, à candidatura do Prémio Literário Europeu. Não foi também o envio de felicitações a Machado de Assis, falecido em 1908, com votos de sucesso literário pessoal no lançamento da reedição de Dom Casmurro, em Lisboa, para que fora convidado como presidente da Câmara, que lhe ampliou o prestígio cultural. Apesar do gosto pela música erudita e de «adorar ouvir os viol

O CDS, o arrendamento urbano e política

Imagem
A Lei das Rendas de 2012 (Lei Cristas) deu um incentivo aos investidores, ao agilizar os mecanismos de rescisão dos contratos e atualização das rendas. Ao diferi-la no tempo, o Governo de Passos Coelho/Portas adiou os dramas, que o atual Executivo se esforça por minimizar, e não pode evitar. O Balcão Nacional de Arrendamento (BNA) validou, em cinco anos, milhares de despejos em Lisboa e Porto. O PCP e o BE chegaram a apresentar propostas para a extinção desse serviço e condenaram-no abertamente. Segundo o Jornal de Negócios, de janeiro de 2013 a dezembro de 2017, o BNA emitiu 8.315 “títulos de desocupação do locado”, à média de 138 novos despejos por mês. Era legítimo alterar o congelamento das rendas, vindo da ditadura, e responsável pelo envelhecimento urbano, mas só o CDS o podia fazer de forma tão brutal. A implacável insensibilidade da Dr.ª Cristas não estimulou o mercado de arrendamento, que lhe serviu de pretexto, deu apenas início à desenfreada especulação imobiliária

O cristianismo ortodoxo ainda vive na Idade Média

Imagem
O bispo ortodoxo grego, Ambrósio de Calávrita, atribui a culpa dos incêndios da Grécia ao ateísmo do primeiro-ministro Tsipras, ateísmo que ainda mantém a parasitária Igreja ortodoxa-grega isenta de impostos. As Igrejas ortodoxas não sofreram a influência civilista do direito romano, ao contrário de outras igrejas cristãs, nomeadamente a católica, e, por isso, não sabem viver sem o Estado. Nas Igrejas ortodoxa-grega ou ortodoxa-russa, a laicidade é um valor ausente, o que as torna incompatíveis com Estados modernos. Na Grécia, só a imposição da União Europeia conseguiu que a religião deixasse de ser referida nos documentos de identidade. O batismo era obrigatório e a única modalidade de casamento era a canónica, e não há praticamente adultos que tivessem passado pela escola sem terem sido obrigados à doutrinação religiosa. Voltemos ao bispo Ambrósio mais troglodita do que o deputado do PSD Carlos Abreu Amorim e e que faz parecer progressista o cardeal Clemente, de Lisboa, mais

Trump, Juncker and Rose’s…

Imagem
A ‘mudança brusca’ da Administração Trump para com a União Europeia nos acordos comerciais poderá representar mais uma oportunista encenação de Washington. link  - a reverter no twitter daqui a poucos dias.   Poderá mostrar tão-somente que existe a convicção do inner circle da Casa Branca de que o Presidente foi longe de mais na reunião com Vladimir Putin em Helsínquia na saga de 'ensanduichamento' da UE e que os riscos para a América de uma guerra comercial com a Europa - a ser ensaiada em Washington - serão substanciais.   A Administração Trump continua o seu percurso errático e atabalhoado mas, no seu seio, existirão elementos que sabem fazer contas. E o problema não são as 'políticas' – nomeadamente a de alianças – mas fundamentalmente os números. As politicas e, nomeadamente, o conceito de aliado foi deitado ao lixo e daqui para a frente existirão ‘concorrentes’.   Da parte de Jean-Claude Juncker este regressa a Bruxelas com a vazia promessa de ‘c

A fé e o suborno

A mãe que reza um terço para que o filho passe no exame está a meter a cunha à santa para que influencie o júri que o há de avaliar. O construtor civil que manda o cabaz de Natal ao engenheiro da Câmara, agradece o último andar do empreendimento, que não constava do projeto inicial. O funcionário que promete ir a Fátima, se for promovido, quer apenas que a Senhora se lembre dele para a vaga que, por mérito, pertenceria a um colega. O cordão de ouro que a minhota deixou no andor do Senhor dos Passos para que o seu homem abandonasse a galdéria que o transtornou e voltasse para ela, imagina que, sem a renúncia ao ouro, o Senhor não lhe levaria de volta o bandalho do marido. Sempre que há promessas para obter do santo, especializado em certo tipo de subornos, um qualquer benefício, é a admissão do carácter venal da Providência. É o cabrito que se manda ao chefe na véspera das atualizações salariais. Ao santo pede-se que interceda junto de Deus para fazer ao mendicante o que não fa

A Grécia e os incêndios

As catástrofes naturais aumentam de frequência e intensidade em todo o Mundo, enquanto a imprevisibilidade se agrava. Perante a dimensão da tragédia grega, escasseiam palavras. Exige-se a solidariedade de todos, e o silêncio dorido é o mínimo que a memória das vítimas exige. A calamidade dos mortos e feridos, o sofrimento e o pânico de quem se viu envolvido por esta tragédia colossal devia alertar-nos para o que tem sido feito contra o Planeta. Não há dúvidas sobre o aquecimento global e os danos que poderão torná-lo inabitável. Cada um de nós deve interrogar-se sobre o que pode fazer ainda. Deixemos aos necrófagos a exploração da tragédia. O respeito pela dor alheia exige-nos atos de solidariedade para com todos os que estão a sofrer um drama sem precedentes. Uns reprimem lágrimas e sufocam os gritos de horror, outros exploram as desgraças alheias, mas quando não sabemos o que fazer, devemos calar-nos, e escutar em silêncio os gemidos dos que sofrem.

Costumes pios

Imagem
Se os costumes da Arábia Saudita (País do Eixo do Bem) chegarem ao Egito! Um membro do Comité para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício (CPVPV), antigo Comité para a Propagação da Virtude e Eliminação do Pecado, (CPVEP) a orientar um pintor:

Factos e evidências

Imagem

Editorial Moura Pinto

Imagem
Em 1995, em Arganil, nasceu uma editora com objetivos pedagógicos, sob os auspícios de livres-pensadores que tinham por objetivo promover os valores da ética republicana, a laicidade e a democracia. Pode dizer-se que ao longo de mais de duas décadas nunca traiu os objetivos de quem a fundou e continua a dar-lhe vida, de forma generosa, sem esperar outra recompensa que não seja a da própria consciência. Hoje, domiciliada em Coja, uma vila onde as águas cristalinas do Alva refletem o olhar límpido de Fernando Vale, que as contemplou durante mais de um século, a Editorial Moura Pinto persiste em dar voz aos valores que, desde sempre, a inspiraram. De algum modo é a continuadora do pensamento dessa grande figura cívica e democrática que foi o médico e humanista Fernando Vale. A Editorial Moura Pinto é a trincheira contra o esquecimento dos valores republicanos, laicos e democráticos. Ano após ano, livros e folhetos, debates e exposições, jornais e panfletos avulsos, são a voz dos v

Espanha – A liderança do PP e a vitória de Pablo Casado

Imagem
A vitória do candidato mais à direita significa que o Congresso tem ainda o coração na Falange. Quem assiste à radicalização da direita europeia e à amnésia das ditaduras fascistas, não se surpreende que o menos preparado e o mais extremista dos candidatos tivesse ganhado a liderança. Foi um regresso às origens do PP. É preciso voltar a Manuel Fraga Iribarne para compreender a vitória de Pablo Casado, o político medíocre que apelou aos valores mais retrógrados e à pior tradição do partido. Iribarne, foi o ministro da Propaganda de Franco, com a pasta da Informação e Turismo, de 1962 a 1969. Apoiante do maior genocida ibérico da História, não sentiu piedade por centenas de milhares de mortos que, depois da guerra civil, onde a crueldade existiu nos dois lados, foram fuzilados e atirados para valas comuns em orgias de sangue e ódio. Na transição democrática, conduzida por Adolfo Suarez, foi o mais alto representante da agónica ditadura. Vice-presidente desse Governo e ministro do

Efemérides - 22 de julho

Imagem
2003 – Os filhos de Saddam Hussein, Udai e Qoussai, são mortos por tropas dos EUA, em Mossul. 2004 – Durão Barroso é eleito presidente da Comissão Europeia. [O crime compensa].

NATO: a confusão, a perplexidade e o anunciado ocaso…

Imagem
A última cimeira da NATO em Bruxelas trouxe à luz do dia o que desde há muito estava na forja. A ‘aliança atlântica’ agoniza. O novo quadro geopolítico mundial veio introduzir novos eixos de equilíbrios - ainda muito instáveis - mas perfeitamente nítidos. As novas centralidades estão definidas e abarcam três encostas: Os EUA, a Rússia e a China. O resto é paisagem.   Há algum tempo que se verificavam estas mudanças. O papel da NATO, por exemplo, na questão ucraniana, revelou à saciedade como os equilíbrios tinham mudado. A NATO foi incapaz de interferir nos arranjos conseguidos após a queda do regime de Yanukovich, parceiro de Moscovo, que usou tentar virar as costas à UE. O resultado do ‘Euromaidan’, isto é, a ligação de Kiev a Bruxelas, revelou-se francamente desastrosa e para além de ter resultado num país divido entre a parte ocidental populista e cativa da extrema-direita e a de leste subsidiária de Moscovo deve acrescentar-se o custo da secessão e perda da Crimeia,

A direita rancorosa mantém atiradores de turno_2

Imagem
A direita rancorosa não vai de férias_2 Como se pode verificar, os indefetíveis guardiões da direita trauliteira surgiram no meu mural do Facebook, local bem frequentado, para destilar a raiva que os domina e bolçar imprecações. Não foram de férias, ficaram de turno. Não serei mais isento do que eles, mas não vou aos antros de onde saem para defender as ideias que os perturbam, as verdades que os ofendem e o passado que os envergonha. A democracia é feita do confronto de ideias, do exercício da cidadania e da opção entre modelos políticos, e não é com pessoas que fecham as suas caixas de comentários, que temem o pluralismo e sentem a nostalgia da ditadura e do império, que se dialoga. Só aprendeu a amar a liberdade quem sente a necessidade de a defender. A longa noite fascista, povoada de medos e torturas, com perseguições e censura, é a vacina da minha geração. Não esquecemos os que lutaram contra a opressão, os que morreram na prisão e no degredo, os que resistiram à tortura

A direita rancorosa mantém atiradores de turno

Imagem
Enquanto os felizes contemplados com as vivendas de luxo do condomínio da praia da Coelha gozam a auspiciosa aplicação das economias, têm fãs que se esquecem do BPN e continuam a alvejar o Governo com os incêndios, o material bélico de Tancos e todos os problemas criados pelos inefáveis condóminos. Jornalistas avençados, ex-presidentes do PSD e ressentidos de diversas origens, bolçam diariamente acusações, intrigas e ameaças para denegrirem os que ora se esforçam para reverter estragos do governo nefasto, sem escrúpulos e sem remorsos, que os precedeu. A fúria das privatizações pareceu vingança, as condições, negócios alheios ao interesse público, e os encargos futuros, uma maldição para os vindouros. A situação em que ficaram os bancos, com a aparente incapacidade de previsão de quem devia estar atento, desde o PR de turno ao governador do BP, é um ónus para o governo atual, cujo êxito, merecedor de encómios, tem sido deliberadamente ignorado. A esquerda deixou imolar o PS, i

Gays, homofobia e minorias

Imagem
Há dias, em Coimbra, junto de um conhecido centro comercial, um casal de jovens gays despediu-se com um beijo, uma manifestação de ternura que incomodou um casal e dois filhos adultos, do sexo masculino, que assistiram ao cumprimento. Não gostar de ver homens a beijarem-se é um direito, mas agredi-los de forma selvagem é um crime cuja impunidade pode transformar em hábito uma manifestação primária de intolerância, no caso uma agressão que exigiu intervenção hospitalar com uma sutura de vários pontos à cabeça de uma das vítimas. A notícia foi dada por diversos jornais, locais e nacionais, mencionando os agressores como sendo de etnia cigana, o que é raro na identificação de minorias. Reconheço que eu próprio, indiferente ao politicamente correto e calejado com insultos e ameaças, considerando aceitáveis os primeiros, esforço-me para evitar escrever sobre assuntos que incitem ao racismo e à xenofobia. É, aliás, a razão que me leva a denunciar facilmente a intolerância do catolici

Espanha – Pablo Casado, Franco e o PP

Imagem
O candidato mais reacionário dos que buscam suceder a Rajoy na liderança do PP é um digno herdeiro de Aznar, pétreo franquista ligado ao Opus Dei, pioneiro da decadência ética que atolou o partido na maior teia de corrupção dos partidos espanhóis, e mecenas da Fundação Franco, com dinheiros do Estado. Pablo Casado merece ganhar o partido que Rajoy ainda procurou desviar do falangismo. É dissimulado e cínico. Afirma que não gastaria 1 € a exumar Franco, e que as famílias dos cerca de 100 mil desaparecidos em valas comuns, ‘assassinados pela ditadura’ (não usou estas palavras, mas foi a realidade), podem ser reclamados pelos familiares. A trasladação do genocida Franco, do Vale dos Caídos, é o cumprimento da decisão que foi tomada por unanimidade parlamentar, por mais hipocrisia e vergonha com que o PP a tenha votado. Há aí muitos milhares de vítimas do franquismo em valas comuns, a que foi juntar-se o seu carrasco, com honras de Estado, guarda de honra, orações e missas solenes. O

A impunidade do franquismo

Imagem
O Governo andaluz aplicará a Lei de Memória se a Irmandade de Macarena não trasladar voluntariamente os restos de Queipo de Llano. Uma imagem histórica de Queipo de Llano em Sevilla

Centenário do nascimento de Nelson Mandela

Imagem
Em 18 de julho de 1918 nasceu o maior vulto do continente africano dos últimos cem anos.   O prisioneiro 46 664, foi o símbolo dos que não desistem de transformar o Mundo e deixar um país livre e multirracial. O primeiro presidente da África do Sul, condenado a prisão perpétua, resistiu ao cativeiro 27 anos, e ao ódio e à vingança o resto da sua vida. Distinguido com o Prémio Nobel da Paz, foi maior o prestígio que conferiu ao Prémio do que este ao premiado. Paladino da liberdade e o grande obreiro da transição pacífica de um regime racista e colonialista para um país multicultural e multirracial – a África do Sul –, permanece a maior referência de África e uma das maiores figuras da Humanidade. Faleceu aos 95 anos esse gigante da História cuja grandeza ética, inteligência e sensibilidade o distanciaram dos dirigentes políticos do seu tempo, deixando-nos a esperança de um mundo onde não seja possível a discriminação por razões de raça, religião, sexo ou convicções políticas.

Um desenho que supera uma análise

Imagem

A baixeza ética de Marques Mendes

Imagem
Nos fogos cá houve “amadorismo”. Na Tailândia houve “profissionalismo”. Na homilia paga pela SIC, o ex-presidente do PSD e atual Conselheiro de Estado, convidado pelo PR, fez uma comparação obscena entre o êxito do salvamento das crianças de uma gruta na Tailândia e o fracasso do Governo português na tragédia dos incêndios do verão passado. Foi uma baixeza ética à sua altura. Marques Mendes lembrou uma epopeia que salvou 13 crianças, e esqueceu a ajuda internacional e as tragédias que a inclemência do tempo tem provocado na Tailândia ao longo dos anos. É previsível que Marques Mendes seja o moço de recados do PR, mas, desta vez, a vileza de tão soez comparação tem de ser da sua lavra, embora chamusque o PR enquanto o mantiver no Conselho de Estado. É difícil ser paquete de Belém sem comprometer o inquilino, mas não é saudável para o País a guerrilha feita através de fauna necrófaga, com propaganda sob o pseudónimo de ‘opinião’. Tal como sucedeu com Dias Loureiro, talvez M

A confissão está obsoleta?

Imagem
Na Idade Média, e ainda no século passado, a confissão era mais do que um sacramento, era a arma que a Igreja usava para estar bem informada, um instrumento da sua política secular, um manancial de informações para os seus serviços secretos. Hoje, com os padres em vias de extinção, os pecados isentos de sanções penais e os crentes a dizerem apenas o que lhes convém, nem os padres têm paciência para substituir os psicólogos, nem os confessionários se mantêm como postos de recolha de informações. Há que dizer depressa os pecados para evitar o risco de a absolvição ser dada antes da confissão.

Deus é pior do que a sarna

Imagem
Os homens, à força de ouvirem que Deus existe, tornam-se crentes e, à medida que o repetem a si próprios, fazem-se beatos. Deus é uma infeliz criação, difícil de aperfeiçoar. Enquanto as máquinas se melhoram, a partir da dúvida sobre a sua perfeição, Deus só pode piorar porque os clérigos garantem que é infinitamente bom e não admitem a discussão. Com tal mercadoria minam-se as bases da civilização, perturba-se a paz, impede-se a solidariedade humana. Deus não é apenas uma criatura pior do que o seu criador – o Homem –, e um troglodita incapaz de se regenerar, é o princípio do mal, o acicate de todos os ódios e crueldades. Na base do racismo e da xenofobia está Deus na despótica inexistência, no seu demente primitivismo, um ser misógino e delinquente, manejado por fios invisíveis tecidos pelas religiões, através de prestidigitadores profissionais, os clérigos. Deus e o Diabo são irmãos gémeos, filhos do medo dos homens, explorados em favor do clero. As peregrinações são a

Europa

Imagem
O presidente da Comissão Europeia cambaleia e a própria União tropeça e arisca-se a cair, exonerada dos valores que são a matriz da sua civilização.

Viva a França!

Imagem
A Tomada da Bastilha foi um momento marcante da história da humanidade, o corolário das ideias do Renascimento e do Iluminismo, o início da Revolução Francesa e o ato fundador da democracia, contra Luís XVI, contra a nobreza e contra o clero. O rei já tinha sido obrigado a admitir a autoridade da assembleia que viria a chamar-se Assembleia Nacional Constituinte. A invasão da Bastilha e a consequente Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão estiveram na fase inicial da Revolução Francesa. No dia 14 de julho de 1789 a Humanidade despertou para a democracia, e a cidadania tem aí o seu ato fundador.  O poder divino daria lugar ao do povo, os direitos hereditários à igualdade dos cidadãos. A Revolução Francesa não é apenas a festa do país onde teve lugar, com a Tomada da Bastilha, é património universal. Liberdade, Igualdade e Fraternidade é a divisa que, ainda hoje, é um projeto que urge aprofundar. Viva a Revolução Francesa!

O azedume de António Lobo Antunes

Imagem
António Lobo Antunes é um enorme escritor, grande romancista e admirável cronista, e não sabe conviver com o mérito alheio e, nos últimos tempos, sem a árvore genealógica a cujos ramos regressou. O sr. Antunes não é obrigado a gostar de Saramago, ninguém é, e veste a pele do Lobo, da família Antunes, com a arrogância pungente do ressentimento. Li dele algumas das mais deliciosas crónicas, desde Fialho, mas sempre detestei aquela   insolência de quem se julga ungido pelo pedigree aristocrático da família que reivindica na leveza ética. Estou cansado de ler a mesma crónica semanal na Visão, escrita de várias formas e com a arrogância de quem se julga predestinado. Falta-lhe ainda rogar o perdão das tias, que tão deliciosamente caricaturou. Na última crónica da Visão, esta semana, após diversas manifestações de desprezo por vários escritores, enalteceu Agustina (Bessa Luís), de facto uma grande escritora, a que Óscar Lopes teceu os maiores encómios. O sr. Antunes refere-a para l

Juan Carlos, a criação franquista que desperta Espanha para a República

Imagem
Corinna, junto ao rei num ato público em Barcelona, em 2006/ EFE Os técnicos das Finanças pedem à Agência Tributária que investigue o rei Juan Carlos por eventual fraude fiscal. O Sindicato dos Técnicos do Ministério (GESTHA) crê que há «indícios suficientes» para iniciar uma investigação e demostrar que em Espanha “não há proteções fiscais”, desprezando o poder de que os franquistas ainda dispõem. A prisão do genro e a conivência do rei emérito na defesa da filha, não lhe importando sacrificar a amante, com quem protagonizou um escândalo em África, ainda que dos deveres régios não constasse a fidelidade conjugal, criaram problemas que debilitam a monarquia, que nunca foi especificamente submetido ao escrutínio dos espanhóis. Corinna zu Sayn-Wittgenstein, a ‘amiga íntima’, revelou que Juan Carlos I recebeu 80 milhões de euros pela construção da linha de alta velocidade de Medina a Meca [AVE a La Meca], depois de ter pedido uma comissão para intermediar a concessão a empresas es

A ditadura, os seus crimes e outras memórias

Imagem
Em 10 de julho de 1973, há 45 anos, Marcelo Caetano negou o massacre de Wiriyamu, em Moçambique, revelado na véspera pelo jornal The Times. As cerca de 400 vítimas civis tiveram um eco a que a ditadura fascista não estava habituada e, como de costume, mentiu uma vez mais. Recordei o assassinato de Humberto Delgado, que Salazar logo atribuiu aos comunistas, porque também ontem, em 2006, morreu aos 91 anos o chefe da brigada, Rosa Casaco, que assassinou o general que enfrentou o ditador. Os alegados brandos costumes a que se referia o déspota, responsável por 7481militares mortos, 1852 amputados e 220 paraplégicos, vítimas da guerra colonial, não registam as vítimas do outro lado e o sofrimento imposto pela ditadura aos povos de Portugal e aos das colónias. O massacre de Wiriyamu é o paradigma de um crime gratuito e execrável, mas não pode fazer esquecer as armas usados na repressão dos movimentos de libertação cuja origem e natureza nunca são referidas, enquanto a ditadura é braq

A esquerda e a amnésia

Imagem
Quando o anterior Governo estava já em minoria na AR e o PR continuava a ser cúmplice para desmantelar o Estado, o país assistiu perplexo ao ressentimento e desespero da campanha de Belém, difundindo ameaças e instilando o medo, indiferente aos reflexos nos juros da dívida e à desconfiança internacional que provocava. Foi o tempo em que um PR salazarista e o PM acidental entraram em desvario por não terem na AR o apoio necessário para manter o governo mais extremista que a democracia gerou. É interessante verificar os tiques salazaristas de certa direita, que levam dirigentes partidários a considerarem aberrante e antidemocrático o governo suportado pelo PS, PCP, BE e PEV, sem que os partidos de esquerda tivessem alguma vez apelidado de antidemocráticas as coligações do PSD com o CDS, o PPM e outras irrelevâncias de origem duvidosa. Talvez se encontre aqui a forma de aferir o espírito democrático de cada partido, no respeito por todos os que emergem do voto popular. Infelizment

A Lei de Bases da Saúde e encruzilhada do SNS …

Imagem
O SNS vive atualmente momentos de turbulência e de indefinição. Sabemos donde vem a turbulência. Quatro anos de ajustamento – um eufemismo para caracterizar os ‘cortes cegos’ – tinham de ter consequências. Quando a coligação PSD/CDS que governou o País de 2011 a 2015 afirmava que a contração orçamental no SNS era justificada pela ‘boa gestão’ e que as prestações não sofreriam alterações qualitativas estava a tapar o sol com uma peneira link .    Na verdade, um corte valor de 11% como o que foi efetuado em 2012 (o dobro do exigido pelo famigerado memorando de entendimento) não poderia passar incólume. Para o ano seguinte 2013 o corte ainda foi mais severo verificando-se uma nova redução esta no valor de 17% link . E foi sempre assim até ao final da vigência do XIX Governo.   O atual Governo, em 2105, foi ab initio confrontado com danos no SNS de difícil reparação. Só que os problemas não se ficam pelo domínio orçamental. Lançar dinheiro sobre o SNS só esconderia, ou quan

Sondagens são apenas sondagens, mas...

Imagem
Efeito Sánchez? Fonte: País. es

COMUNICADO DA ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL

Portugal esteve sujeito, durante quatro anos – para além dos muitos outros menos evidentes –, a um governo que queria “ir além da troika”, que queria destruir tudo o que cheirasse a Abril. Foi o tempo da austeridade assanhada, do “não há alternativa”, do “aguenta, aguenta”, do pesadelo que parecia não ter fim… A Associação 25 de Abril assumiu então posições claras e muito duras contra essa fatalidade, proclamando que havia alternativas, que era necessário criá-las, que só à volta dos valores de Abril a esperança numa sociedade mais livre, mais justa e mais solidária poderia voltar aos corações dos portugueses. A demagogia era muita, diria mesmo era enorme, o populismo ganhava terreno e seria através da Democracia, uma das poucas conquistas de Abril ainda não destruídas, que, mesmo que in extremis, os portugueses salvaram o que parecia perdido. Nas eleições legislativas, ainda que não dando a maioria relativa a nenhum dos partidos políticos que se assumiram como “de Abril”, deram

A direita e a sua omnipresença nas televisões

Imagem
Que a direita não se resigna à oposição é uma evidência tautologicamente demonstrada. A organização em partidos foi a necessidade decorrente da restauração da democracia, e a sofreguidão do poder é o corolário lógico dos interesses que defende. Contrariamente à direita europeia, a portuguesa não teve quem se opusesse ao fascismo e ao nazismo. Foi, aliás, a sua cúmplice, tal como a espanhola. Após o 25 de Abril, vários democratas, com provas dadas na defesa da democracia, e na luta por um sistema pluripartidário, eram a garantia da adesão à democracia dos partidos da direita que integraram a Assembleia Constituinte. Dos fundadores desses partidos, uns faleceram e outros afastaram-se ou viram-se afastados. Muitos democratas foram ostracizados e cedo tomaram as rédeas partidárias os salazaristas silenciosos e oportunistas de vários matizes. Esta direita é mais herdeira de Cavaco Silva e Durão Barroso do que de Sá Carneiro e Magalhães Mota, de Adriano Moreira e Paulo Portas do qu

Ontem, há 5 anos

Imagem
Um lustro na vida de um cardeal era pretexto para os acólitos do costume não falharem a missa de Ação de Graças e os pedidos para que Deus lhe iluminasse a inteligência. No dia de ontem, em 2013, o patriarca Clemente rezou a primeira missa vestido de cardeal, com a pompa e a circunstância que as autoridades civis, religiosas e militares, tal como no tempo de Salazar, emprestaram ao ato (Ver foto). Hoje, volvidos cinco anos e esquecida a devoção do prelado à luta por subsídios profanos a colégios privados, a comunicação social ignorou a efeméride e os figurões do costume a missa, e não há notícia de um só beato a rezar uma simples ave-Maria por Sua Eminência Reverendíssima. Talvez a duplicação da púrpura lhe tenha apagado o brilho.