Salazar – um déspota que esta direita esqueceu

Faz hoje 48 anos que o biltre de Santa Comba, depois de três dias de exéquias fúnebres, regressou cadáver ao sítio onde nasceu, de onde nunca devia ter saído, para oito anos de seminário onde iniciou os estudos para ditador.

Começou no latim, na batina e no cantochão, continuou no C. A. D. C., e acabou com a foto de Mussolini na secretária de trabalho, no Palácio de S. Bento. O ambiente soturno da adolescência do seminarista foi a inspiração que o guiou na ditadura fascista, fazendo dos portugueses prisioneiros de verdades únicas, sob o lema “Deus, Pátria e Família”.

Quarenta e oito anos foi exatamente o tempo que a ditadura mais longa da Europa durou e de que foi ele o protagonista, tempo que leva inumado o cadáver que no Mosteiro dos Jerónimos teve um gigante e um anão como atrações fúnebres junto ao ataúde.

Curiosamente, foi também no dia de hoje, em 30 de julho de 1930, que o comparsa do cardeal Cerejeira criou a União Nacional, partido único, e ilegalizou todos os restantes partidos e associações políticas.

Há demasiados políticos empenhados em fazer esquecer o que foram o analfabetismo, a miséria, as perseguições políticas, os degredos, os exílios, os mortos da guerra colonial, os massacres, prisões, torturas, assassinatos, discriminação da mulher e horrores de um país reduzido ao medo, à censura e à miséria.

Quarenta anos depois de ter instituído o partido único, exatamente no mesmo dia, seria finalmente enterrado quem não devia ter nascido.

O regime ainda se manteve e a guerra continuou, mas, na defunção do ditador, renascia a esperança de um país a que uma madrugada de Abril abriria as portas da liberdade por entre cravos de esperança que esvaziaram as prisões políticas e encheram de esperança as ruas.