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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020

Notas Soltas – fevereiro/2020

União Europeia – Amputada do RU, começou o mês com redução da área, do PIB, da segurança e da paz, numa aventura que abalou a sua solidez, o equilíbrio das nações e os sonhos de paz e prosperidade que os secessionistas comprometeram dos dois lados. Reino Unido – Em 1975, o PM trabalhista, Harold Wilson, e Margareth Thatcher, líder conservadora, uniram-se no referendo e defesa da adesão à UE, agora Boris Johnson e Jeremy Corbyn também estiveram unidos, no euroceticismo e na insensatez do Brexit. Livre – O partido retirou – e bem –, a confiança política à deputada Joacine Moreira cujo percurso parlamentar foi um permanente desencontro com o partido que a elegeu. Vai continuar na AR, mas é uma voz inútil que apenas prejudica o partido. CDS – A captura por jovens extremistas reuniu antissemitas, salazaristas, saudosos da Pide e crentes de que a guerra colonial tinha sido ganha. Não admira que o eleitorado rume ao Chega. Os fascistas preferem sempre o original às imitações.

Vaticano – O Papa, a teocracia e a liturgia 28-2-2013

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Há 7 anos, o Vaticano, bairro de 44 hectares, abriu vaga para Papa. Bento 16 deliberou manter-se vivo. Nos últimos dias procedera como os líderes profanos: continuou a fazer exonerações e nomeações. Substituiu-se a si próprio, exonerou o gerente do IOR, aceitou a resignação de cardeais, nomeou o novo bispo de Lisboa, futuro cardeal, e antecipou o consistório. O bispo de Lisboa, notoriamente reacionário, adquiriu com Bento XVI o direito ao barrete cardinalício, milagre que dificilmente se repetiria. Sendo o primeiro Papa a sair vivo do cargo, em quase 600 anos, criou alguns problemas à monarquia eletiva cujo sucessor, perdida a tradição dos Bórgias, deixou de ser filho ou familiar. A eleição do sucessor viria a ser feita por cardeais maioritariamente criados (termo canónico) pelo “Papa emérito”, título que demorou vários dias a encontrar, e foi igual ao dos bispos que terminam o prazo de validade. Manteve o direito a vestir-se de branco, ao pseudónimo de Bento XVI e a tratamento d

Ana Gomes e as eleições presidenciais

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Marcelo Rebelo de Sousa será sempre o próximo PR. Aliás, na vigência da atual CRP, todos os presidentes foram reeleitos à primeira volta. Até Cavaco Silva. O que pode aborrecer o atual e próximo inquilino de Belém não é a dúvida da reeleição, é a extensão da vitória, que desejaria comparar com a de Mário Soares e se arrisca a não ficar longe da de Cavaco. A eventual entrada da embaixadora Ana Gomes na disputa eleitoral pode agitar todas as candidaturas, exceto a do PCP e a da extrema-direita, a primeira para fixar o eleitorado natural do partido e a outra para alargar a clientela do partido fascista, já representado na AR, e reunir as ruidosas e significativas hordas de racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos, novos e velhos nostálgicos salazaristas, inimigos da democracia. O BE, que tem em Marisa Matias uma excelente candidata, com expetativa de alcançar percentagem superior à do partido, será a primeira vítima do eventual aparecimento de Ana Gomes, também mulher, com gra

Adágio popular

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Diz-me com quem andas... Dir-te-ei quem és...

O coronavírus, a infeção mediática e a inflamação política

A possibilidade de pandemia, a tragédia que ainda pode estar em curso e as previsíveis catástrofes futuras não justificam tudo. Não sei se é a necessidade de desviar a atenção de casos que põem em risco a democracia, nomeadamente as graves suspeitas surgidas no seio da magistratura judicial, que levam a comunicação social a este frenesim que a coloca ao serviço do coronavírus. Sabemos mais sobre um português infetado no Japão, depois das sucessivas desilusões com suspeitas não confirmadas em território nacional, do que da situação de milhões de portugueses espalhados pelo mundo, no seu conjunto. Já apareceu mais vezes a mulher do sr. Adriano Maranhão nas televisões do que todos os portugueses juntos que nos mais diversos países sofrem das mais variadas infeções e vírus desconhecidos. Quem tenha acompanhado as declarações da referida senhora, há de ter-se dado conta da mudança de discurso ao longo dos dias e do salto dialético da mulher, justamente apreensiva com a doença do marid

Partido Nazi – Um século depois (24-02-1920)

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Há cem anos, Hitler reuniu cerca de 2.000 pessoas, a sua maior reunião até então, e, aí, expôs pela primeira vez os vinte e cinco pontos do manifesto do DAP, Partido dos Trabalhadores Alemães, que elaborara com Drexler e Feder, e mudou-lhe o nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Nasceu o partido nazi. Os traumas da guerra de 1914/18 e do Tratado de Versalhes propiciaram a difusão das ideias extremistas onde o nacionalismo, o antissemitismo, a mitologia da pureza da raça ariana e a imputação da origem judaica ao capitalismo internacional, acusado de lucros com a Guerra, alimentaram a insânia coletiva que nesse dia 24 de fevereiro de 1920 teve um batismo apoteótico. As ideias nacionalistas são fáceis e germinar. A mitologia dos países cria-se para apelar aos instintos primários dos ressentidos, que vibram sempre com alegados heróis, santos e mártires, antepassados, sempre vitoriosos, graças à bravura, à proteção divina e à força da raça, ao contrário da p

Espanha – O Golpe 23-F de 1981

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Há 39 anos um tresloucado fascista entrou no Parlamento espanhol a cumprir planos de generais franquistas que educaram o rei Juan Carlos na Falange. O tosco militar entrou de tricórnio, quando os deputados votavam Calvo-Sotelo para presidente do Governo de Espanha, tendo em vista substituir a monarquia constitucional pelo absolutismo real. Era o regresso à ditadura sob os auspícios da monarquia não sufragada, posta à sorrelfa na Constituição, com as sondagens a indicarem a preferência popular pela República, ao arrepio da vontade expressa pelo sádico genocida Francisco Franco. Para a História ficou a coragem do general Gutiérrez Mellado que se ergueu e dirigiu ao ten. coronel Tejero, repreendeu os assaltantes e ordenou a deposição das armas, tendo o golpista, já reincidente, reafirmado a ordem, com um disparo seguido por rajadas das carabinas dos 200 assaltantes. Resistiu Gutiérrez Mellado, o ainda presidente Adolfo Suárez e o deputado comunista Santiago Carrillo, que permaneceu

Quo vadis, democracia?

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Temos de perguntar como foi possível legalizar um partido racista e xenófobo, quando a CRP expressamente proíbe a difusão da ideologia de quem se está nas tintas [sic] para a Constituição, normaliza a violência racista e subverte a democracia na AR. A memória dos povos perde-se, ao contrário da ambição das pessoas a quem qualquer desculpa serve para ascenderem ao poder, como o vereador que Passos Coelho escolheu liderar a lista do PSD às eleições autárquicas de Loures. Ele é o íman que atrai nazis, marginais, cadastrados e intelectuais extremistas, que canalizam medos e ressentimentos contra a democracia e a moldura jurídica que a define. É o deputado que diariamente ocupa a comunicação social que segue a velha máxima: notícia não é o cão que morde um homem, mas o homem que morde um cão. Mitómano, narcisista e incoerente, alimenta as notícias com o medo que infunde, a violência verbal que verte e o carácter amoral de quem não tem moral nem carácter. É inútil acusar o invertebra

Bem-aventurada Conferência Episcopal Portuguesa

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Quando a morte era assistida, os moribundos saudáveis e era o clero a tratar da saúde, já havia a estranha devoção de negar a morte sem sofrimento. A morte não era a pedido, o sofrimento era obrigatório, e já eram ruidosas e participadas as manifestações de júbilo do clero, nobreza e povo, unidos no delírio da combustão de judeus, bruxas, hereges, apóstatas e blasfemos. Mais contido o êxtase, mantém-se a coerência.

D. Aníbal e o infanção Passos Coelho

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Numa pausa dos sais de fruto para a incontida azia que os corrói, os dois catedráticos, o do decreto e o do convite, fartos de desprezo e esquecimento, despertaram da letargia e surgiram nas televisões a azucrinar os ouvintes na defesa do referendo para a eutanásia. O primeiro fez prova de vida, suspendendo algum Roteiro onde verte o ódio e convence os netos da sua utilidade para a literatura e a política, e o segundo desiludiu as fãs com a erosão provocada pelo esforço docente e a calvície. Vieram os dois, com a habitual conivência, como nos tempos em que assustavam o país com a mudança de governo, para se vingarem de Rui Rio que lhes infligiu três derrotas e tem postura ética e sentido de Estado. Não os move a discussão de um assunto sério, une-os o ressentimento, o desespero de se verem desprezados e a vingança contra quem reconduziu o partido à matriz fundadora e enfrentou os serviçais em que apostaram. Sofreram em silêncio a humilhação das sucessivas vitórias de Rui Rio no

O coronavírus e a comunicação social

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Há quem acuse a comunicação social de não fazer investigação, de substituir as notícias por opiniões e aguardar que, dos tribunais, lhe soprem revelações em segredo de Justiça para que os julgamentos se façam na praça pública quando se duvida de acontecer outro. Desta vez, no que respeita ao coronavírus, os jornais mantiveram informados os leitores, a rádio não falhou noticiários e, ao mínimo sintoma, as televisões deslocaram jornalistas e meios técnicos para todos os hospitais onde eram internados viajantes de longo curso, familiares de alguém que tivesse visitado a China ou com qualquer hipótese de ter sido infetado pelo coronavírus. Ao mínimo sinal de febre, tosse e mal-estar, afligiam-se as redações; na gripe de alguma estudante chinesa entraram em frenesim; a cada espera do veredicto do Instituto Ricardo Jorge ficaram de prevenção equipas noticiosas, mas a desolação foi tomando conta das redações. Um país sem o seu coronavírus, não é um país, é um offshore da pandemia, o des

Eutanásia – Paradoxos

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Há argumentos respeitáveis de um lado e de outro, razões para reflexão e dilemas éticos, e todos conhecemos situações de indescritível sofrimento, dor lancinante e incapacidade física para lhes pôr termo e exercer o direito de decidir, situações que ninguém descreve melhor do que os crentes, “era uma esmola que Nosso Senhor o/a levasse”. O que surpreende é a aceitação do direito individual de quem não tem condições físicas de o exercer, por quem pensa que a morte é o fim inexorável da vida, única e irrepetível, e a resistência dos que têm a certeza de que há outra vida e acreditam na ressurreição. Vá lá alguém entender estes paradoxos!

Giordano Bruno – Há 420 anos (17 de fevereiro de 1600)

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Enquanto os padres se afadigam em missas de ação de graças para que Deus impeça os deputados de matarem velhinhos, celebra-se hoje, em pio silêncio, o 420.º aniversário da cremação em vida de Giordano Bruno. Ao contrário da eutanásia, a morte pelo fogo não era pedida por quem a sofria, e era obrigatória para quem a não pedia. Era o tempo do 8.º Clemente do Vaticano, homólogo do antipapa com o mesmo número e nome, quando a Santíssima Inquisição, alarmada com a teimosia do herege em renegar a teoria heliocêntrica, a existência de outros mundos e a dúvida sobre a natureza divina de Jesus Cristo, decidiu a sua morte na fogueira purificadora. Filósofo, matemático e teólogo, defendeu com exemplar coragem e convicção as ideias que tornava absurdos os dogmas, néscios os padres e ignorante a sua Igreja. Que podia esperar um filósofo que considerava infinito e inacabado o Universo cuja perfeição era a maravilha do Deus dos senhores padres inquisidores? Era ousado, Giordano Bruno, um exempl

O pensamento ignóbil de um deputado do CDS

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Da discussão do estatuto do Antigo Combatente, sobre o qual me pronunciarei quando a AR o definir, retive uma frase do deputado Telmo Correia: «O antigo combatente é quem serviu a pátria, quem honrou a nossa bandeira, quem esteve exposto a situação de risco, quem não desertou e quem não traiu». Telmo Correia não sofreu a guerra e, na definição de «antigo combatente», nota-se a nostalgia colonialista, o apoio à guerra, a indiferença pelas vítimas dos movimentos de emancipação e a raiva a quem não quis morrer numa guerra injusta, inútil e criminosa. O deputado do decadente CDS traz à memória a definição do grande humorista e desenhador, José Vilhena, que no dicionário cómico define ‘Patriota’: “o indivíduo que ama a sua pátria, não confundir com nacionalista, que ama também a pátria dos outros.”. O deputado nacionalista, que ignora o que foi ver morrer camaradas, perder um soldado afogado nas águas revoltas do Zambeze, desaparecido sob a jangada que o transportava com centenas

Tudo é vontade de Deus?

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Pode fundir o gelo da Antártida e o dos glaciares, a antecipar a submersão de países; os recursos do Planeta consumirem-se mais cedo em cada ano; os vírus tornarem-se mais mortíferos e frequentes; o apocalipse nuclear acontecer com a demência de governantes estúpidos e amorais, e é o exercício dos direitos individuais que muitos desejam negar, sendo, talvez a vontade do seu Deus. Pouco importam os milhões de mortos por inanição, à míngua de água e alimentos; as vítimas das teocracias e ditaduras laicas; os mortos dos cataclismos naturais; os países dilacerados pelo racismo; os conflitos étnicos, religiosos e geopolíticos. É o direito de cada um decidir a morte, já que não é ouvido para nascer, que os incomoda. Os crentes, que negam um direito, esquecem que é Deus quem mata, sendo os homens instrumento?

A eutanásia e o ruído dos do costume

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A eutanásia não é decisão que possa ou deva ser tomada de ânimo leve. A posição que defendo, engloba as minhas opções filosóficas e, sobretudo, as minhas lições de vida. Em 2011, tive uma experiência que é motivo de reflexão e se mantém presente quando abordo a eutanásia, 52 dias em coma induzido, com septicemia provocada por bactéria multirresistente, na sequência de uma colecistectomia laparoscópica. Estive dependente de uma máquina, aliás, de várias, com o prognóstico a piorar em cada dia que passava. A eutanásia, como o divórcio, a IVG, ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é obrigação, é um direito individual. Cabe ao próprio exercê-lo ou não, e não aos outros impedi-lo. Por isso, os direitos individuais não devem ser referendáveis, tal como, em sentido contrário, a obrigatoriedade do ensino, das normas de higiene ou das vacinas. Há 13 anos foi despenalizada a IVG e, ao contrário do que previa quem rejubilava com a pena de prisão da mulher que interrompia a gravid

A laicidade e a liberdade religiosa

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A laicidade é uma exigência da liberdade religiosa, condição para que todos possam ter a sua crença, descrença ou anti-crença. Todos somos ateus em relação aos deuses dos outros, e os ateus só o são em relação a mais um. Numa sociedade democrática todos os crentes devem ver defendido o direito à fé que perfilham e aceitar iguais direitos aos fregueses de outra fé ou de nenhuma. O Estado só pode cumprir cabalmente a função que lhe cabe se for escrupuloso na neutralidade que deve assumir, se ao Estado estiver vedado o direito de exercer qualquer poder religioso e às Igrejas o exercício de qualquer poder político. A França, tal como Portugal, depois do 25 de Abril, garante a liberdade religiosa como direito constitucional. Quem conhece a história sangrenta das lutas religiosas na Europa, sabe que a paz só foi possível com a separação do Estado e Igrejas e a garantia da neutralidade religiosa dos Estados. A sua longa história de violência religiosa levou a França a adotar o forte com

A PGR, a insustentável leveza de um despacho e a autogestão do MP

Depois de um sindicalista do Ministério Público ter anunciado que a hierarquia impediu a tentativa dos procuradores do processo de Tancos de solicitarem a audição do PR e do PM, surgiu uma diretiva da PGR sobre os poderes das chefias do MP. Não sei se a diretiva era justa, mas era legítima, mas bastou o ruído do presidente do SMMP para fazer recuar a PGR. O melhor é ser o sindicato a nomear o titular da PGR. Aliás, o PR, no inevitável comentário, já veio declarar, sobre a retratação da intimidada PGR, ou seja, sobre a suspensão da referida diretiva, que foi um “passo importante ”. Foi pior a emenda do que o soneto. A partir de agora a autoridade da PGR ficou diminuída.

O falecimento de Malaca Casteleiro

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A frase – «Ele [João Malaca Casteleiro] coordenou e interveio ativamente, na elaboração do dicionário que estava há 200 anos parado, o que é uma grande marca» (Reflexão do jornalista, investigador e igualmente académico, António Valdemar, amigo do professor catedrático) – Público, ontem, pág. 36. Malaca Casteleiro ficará conhecido como “pai do AO-90”, tal como Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos o ficaram pela Reforma Ortográfica de 1911, cujas bases elaboraram com Gonçalves Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Júlio Gonçalves Moreira, José Joaquim Nunes, Borges Grainha, Augusto Epifânio da Silva Dias e Gonçalves Viana que constituíram a totalidade da comissão nomeada pelo governo saído da Revolução do 5 de Outubro, empenhado em alargar a escolaridade e combater o analfabetismo. À semelhança do que sucedeu em 1911, o horror à novidade, criou uma animosidade de tal modo virulenta que ainda existe um diário a escrever com erros ortográficos

De Tancos a Barrancos – Polícia, justiça e democracia

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Em Barrancos, não podendo o Estado, sem graves prejuízos da sua imagem, obrigar ao cumprimento da lei, criou aí um foral, uma exceção legal, para touros de morte. Em Tancos, querendo a PJ extinguir a PJM, com a ajuda do Ministério Público a tomar partido pela primeira, talvez legítima, acabou em manifestação de força dos magistrados contra o poder executivo. A luta das polícias acabou no braço de ferro politico-judicial, com a vitória antecipada da PJ. Não sei se a lei permite que um qualquer procurador possa convocar, para o ouvir, o PM ou o PR, para o ajudar a esclarecer um crime cuja investigação lhe cabe, ainda que a lei lhes faculte o direito de responderem por escrito, mas aceito que a hierarquia os impeça, ou não, de acordo com as atribuições que são apanágio da hierarquia. O que não se pode aceitar é a denúncia e censura de procuradores sindicalistas aos atos legítimos da hierarquia, a menos que ignorem o significado de ‘hierarquia’ ou estejam a reivindicar o direito da

Salazar ou Cristo-Rei?

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Birra do Menino Jesus  As pagelas que começaram a circular em Portugal no pós-guerra, guerra de que o Diabo terá sido responsável, atribuem à intervenção de Cristo a paz que imperou em Portugal, embora outras pagelas de igual proveniência a atribuam a Salazar. Fosse de quem fosse o mérito, embora do primeiro se esperasse que tivesse evitado a guerra, o que admira são os títulos nobiliárquicos atribuídos pelo mais alto empregado de Deus, o cardeal Cerejeira, à família celeste. Desde Cristo-Rei à Rainha dos Portugueses, esta a Senhora da Conceição, um de muitos heterónimos dados à mãe do primeiro, é de harmonia monárquica que se fala em plena ditadura, onde a Pide era mais expedita a manter a paz do que a família real celeste. O comovedor pedido das criancinhas de Portugal, para que fosse erguido o monumento a Cristo-Rei, não surpreendeu quem as sabia pouco assíduas na escola, mas devotas da catequese. O que surpreende, ainda hoje, é o Cristo-Rei, vestido de Menino Jesus e com

Vaticano – O Papa Francisco e o outro

Os meus leitores sabem o que penso das religiões e das divindades, dos funcionários do Divino e da generalidade das crenças, mas ninguém duvidará da consideração e estima que me merecem o humanismo, coragem e generosidade do Papa Francisco. Sendo como é, a longevidade num sítio daqueles é uma surpresa que para quem ignora a inteligência e sabedoria de um jesuíta. Até há dias, manteve em funções na Prefeitura da Casa Pontifícia, gabinete responsável pelas suas audiências públicas, o arcebispo Georg Gaenswein, secretário de Bento XVI. A coautoria de textos do ex-infalível Bento XVI num livro do cardeal ultraconservador Robert Sarah, a defender a manutenção do celibato dos padres, quando se esperava que Francisco decidisse a ordenação de padres casados na Amazónia, suscitou um escândalo a que não foi alheio o secretário do Papa emérito. Gaenswein ainda exigiu a retirada do nome de Bento XVI do livro, mas Francisco afastou-o do exercício das funções e livrou-se dele, como era natur

Portugal – O direito à eutanásia

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O debate sobre a eutanásia é uma inquietante discussão sobre princípios e valores que a sociedade já devia ter esgotado e absorvido, e o ordenamento jurídico acolhido. A capacidade de prolongar a vida de forma artificial torna pungente o drama de quem é incapaz de suportar uma vida sem esperança, onde o sofrimento e o desespero são o que resta no horizonte inevitável da finitude. O respeito pelos direitos individuais e pela dignidade humana mudaram as pessoas. Foi um processo lento que não acompanhou a rápida secularização, umas vezes por cálculo político partidário e outras por preconceito e hipocrisia de pessoas, a que não era alheio o ativismo religioso. A vida é um direito inalienável, mas não é uma condenação sem recurso, um laboratório de encarniçamento médico ou de sadismo ideológico. A morte é um direito individual que não pode ser plebiscitado, ideologicamente orientado ou dependente da vontade dos legisladores. Estes apenas devem prevenir a imprudência, os riscos de c

Medicina e negócios

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A notícia do Público, 13 de janeiro de 2020, é preocupante, e não mereceu especial atenção da comunicação social, quando 2/3 dos partos, em hospitais privados, são objeto de intervenção cirúrgica. Quem é ignorante em medicina e, no caso, em obstetrícia, pode interrogar-se se o estado da arte se degradou ou se interesses económicos levam a substituir o parto normal pela intervenção cirúrgica, porque se levanta a suspeita de que as televisões abririam com a notícia, se a situação no setor privado e no SNS fosse inversa.

Américo Tomás

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Poucos portugueses sabem que não era tão estúpido como parecia, mas era muito mais cobarde do que alguém podia supor e tão salazarista como partidário da monarquia absoluta. Essa figura sinistra da ditadura, capacho de Salazar, só é conhecido pelas tolices que debitava, o que é manifestamente injusto, pois pode pensar-se que era burro, mas não era mau Diabo.

A União Europeia (UE), o Brexit e o reinocídio

A UE iniciou o mês de fevereiro com a redução drástica da área, do PIB, da segurança e da estabilidade, amputada do RU, numa aventura que abala a economia, os mercados e a paz, que os secessionistas comprometeram nos dois lados do Canal da Mancha. A UE perdeu a segunda economia, a primeira potência militar e o país que equilibrava a ambição dos maiores. A UE ficou mais pobre e o RU mais dividido, isolado, decadente e xenófobo, a lamber feridas do império perdido, mais só, com instituições anacrónicas, em risco de reservar a Cruz de S. Jorge para a bandeira da Inglaterra e País de Gales. O RU foi a esperança da Europa na mais velha democracia quando a horda nazi parecia invencível, e cumpriu o dever que alimentou essa esperança. Hoje é um país à procura de identidade perante a fronteira que ameaça rasgar o Acordo de Sexta Feira Santa e dilacerar de novo a Irlanda, o pendor europeísta da Escócia e os humores da presidência dos EUA, de que ficará cada vez mais refém. Até Gibraltar e

A mal-amada democracia liberal – escrevendo ao correr das teclas

Há quem pense ingenuamente que a democracia é a forma de Governo mais apreciada, que as ditaduras são detestadas e os direitos humanos generalizadamente estimados. Em períodos de crise, e as crises são cíclicas, a democracia é a última das preocupações e a primeira vítima. As ditaduras são antigas e recentes as democracias. A opção pelas primeiras não está demostrada e os totalitarismos não nasceram no século passado. O alegado direito divino foi a regra, interpretado ao sabor dos interesses de quem, em cada época, deteve o poder. As monarquias absolutas foram um regime incontestado em Portugal até ao ‘vintismo’, período que começou há duzentos anos, no último ano da segunda década do século XVII e que vigorou, com algumas ditaduras intermédias, sendo a mais trágica a de João Franco, escassos 90 anos. E não estou certo de que o miguelismo, caceteiro e sangrento, não fosse preferido à Constituição de 1820 e à Carta Constitucional. Não é habitual os democratas serem chora

A Bélgica, a monarquia e a hipocrisia

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A Bélgica não é bem uma nação, é um Estado dividido entre Valónia e Flandres, mais a cidade-Estado de Bruxelas, antagonizados por idioma, religião e cultura. A monarquia é o anacronismo que finge aglutinar um espaço cosmopolita. Os reis são católicos por tradição e devassos por igual motivo, mas a religião é mostrada em público e a devassidão gozada em privado. Já foram donos de uma quinta em África, Congo Belga, uma coutada real. O rei Balduíno terá mantido uma relação de alcova com duas rainhas, a própria, Fabíola, e a madrasta, rainha por ser a mulher do pai, Leopoldo III. Não terá sido um crime, mas não foi bonita ação. O que surpreendeu os belgas não foi a devassidão do monarca, mas a intensidade da fé que o fez renunciar ao trono entre os dias 4 e 5 de março de 1990, ao recusar assinar a lei de despenalização do aborto na Bélgica. Cobiçar a mulher do próximo, mesmo ao pai, não foi original, mas promulgar a lei que legalizava a IVG, seria uma ofensa à Igreja e um pec

Fatos e documentos

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A pagela n.º 71

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Em 22 de junho de 1956 os bispos portugueses, reunidos em Fátima, 39 anos depois do maior embuste encenado em Portugal contra a República, já a acomodarem os segredos contra o comunismo, e ainda longe, após a implosão da URSS, de os afinarem contra o ateísmo, publicaram a pagela n.º 56. Aquela cáfila paramentada, com recalcamentos sexuais e uma misoginia fertilizada nas ‘manhãs submersas’ de que falava Vergílio Ferreira, depois de despachado o breviário, reuniram-se para refletir e mandar divulgar pelos padres das paróquias a sã doutrina da Igreja católica e os bons costumes que a moral de empedernidos celibatários exigia. Tal como haviam feito os homólogos espanhóis, os bispos publicaram códigos morais, sobretudo para mulheres, no que respeitava à cobertura do corpo, essa fonte de pecado que Eva deixara em herança, a todas as mulheres, depois de comer a maçã. Em 1953 já este escriba fora fustigado com 4 sacramentos e acabaria por dispensar os serviços pios desse exérci

01 de fevereiro de 1908

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Há 112 anos foi assassinado a tiro e com uma estocada pelas costas pela polícia em Lisboa, Manuel dos Reis da Silva Buíça, carbonário da choça Segredo, enterrado a 11/2 no Cemitério do Alto de S. João. Honrado republicano, aqui fica a homenagem e a referência ao enterro civil. Sem ele, sem a sua coragem, teriam sido deportados muitos portugueses e outros teriam morrido. Executou uma sentença que hoje nos repugna, mas que exigiu alto sentido patriótico e exemplar espírito republicano. Manuel Buíça e Alfredo Costa imolaram-se no altar da Pátria para nos legarem a República.