A eutanásia e o ruído dos do costume
A eutanásia não é decisão que possa ou deva ser tomada de ânimo leve. A posição que defendo, engloba as minhas opções filosóficas e, sobretudo, as minhas lições de vida.
Em 2011, tive uma experiência que é motivo de reflexão e se mantém presente quando abordo a eutanásia, 52 dias em coma induzido, com septicemia provocada por bactéria multirresistente, na sequência de uma colecistectomia laparoscópica. Estive dependente de uma máquina, aliás, de várias, com o prognóstico a piorar em cada dia que passava.
A eutanásia, como o divórcio, a IVG, ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é obrigação, é um direito individual. Cabe ao próprio exercê-lo ou não, e não aos outros impedi-lo. Por isso, os direitos individuais não devem ser referendáveis, tal como, em sentido contrário, a obrigatoriedade do ensino, das normas de higiene ou das vacinas.
Há 13 anos foi despenalizada a IVG e, ao contrário do que previa quem rejubilava com a pena de prisão da mulher que interrompia a gravidez, com riscos e traumas, calam-se agora com a redução drástica dos abortos, desolados com a melhoria da saúde pública da mulher e a sua autodeterminação sexual.
Há entre a lei que legalizou a IVG e a que definirá a eutanásia um paralelismo flagrante. As mesmas pessoas e os mesmos grupos de pressão voltam agora a exigir um referendo, com desprezo pela democracia representativa e pelos direitos individuais.
Os que menos respeitam a liberdade são os que mais querem impor o modo de a adiar e, se possível, de a impedir, para imporem as suas convicções totalitárias.
Quem ande distraído há de julgar que está em causa a eutanásia obrigatória e não o direito individual de a solicitar, com as precauções e ponderação que a lei há de prever.
Arrepia o terror dissimulado na pergunta que os bispos formulariam sobre um tema que exigiria, como resposta, Sim ou Não, para poderem privar todos da eutanásia:
“Concorda que matar outra pessoa a seu pedido ou ajudá-la a suicidar-se deve continuar a ser punível pela lei penal em quaisquer circunstâncias»?
Não condenam a sua religião por manter a pena de morte no catecismo (que só o Papa Francisco condenou) nem a que impede o médico de salvar a vida da criança que os pais condenam à morte, negando-lhe autorização para uma transfusão de sangue.
É destas madraças que saem padres que afirmam «que "pedofilia não mata ninguém", ao contrário do aborto».
A vida é um direito inalienável, e não uma condenação perpétua.
Em 2011, tive uma experiência que é motivo de reflexão e se mantém presente quando abordo a eutanásia, 52 dias em coma induzido, com septicemia provocada por bactéria multirresistente, na sequência de uma colecistectomia laparoscópica. Estive dependente de uma máquina, aliás, de várias, com o prognóstico a piorar em cada dia que passava.
A eutanásia, como o divórcio, a IVG, ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é obrigação, é um direito individual. Cabe ao próprio exercê-lo ou não, e não aos outros impedi-lo. Por isso, os direitos individuais não devem ser referendáveis, tal como, em sentido contrário, a obrigatoriedade do ensino, das normas de higiene ou das vacinas.
Há 13 anos foi despenalizada a IVG e, ao contrário do que previa quem rejubilava com a pena de prisão da mulher que interrompia a gravidez, com riscos e traumas, calam-se agora com a redução drástica dos abortos, desolados com a melhoria da saúde pública da mulher e a sua autodeterminação sexual.
Há entre a lei que legalizou a IVG e a que definirá a eutanásia um paralelismo flagrante. As mesmas pessoas e os mesmos grupos de pressão voltam agora a exigir um referendo, com desprezo pela democracia representativa e pelos direitos individuais.
Os que menos respeitam a liberdade são os que mais querem impor o modo de a adiar e, se possível, de a impedir, para imporem as suas convicções totalitárias.
Quem ande distraído há de julgar que está em causa a eutanásia obrigatória e não o direito individual de a solicitar, com as precauções e ponderação que a lei há de prever.
Arrepia o terror dissimulado na pergunta que os bispos formulariam sobre um tema que exigiria, como resposta, Sim ou Não, para poderem privar todos da eutanásia:
“Concorda que matar outra pessoa a seu pedido ou ajudá-la a suicidar-se deve continuar a ser punível pela lei penal em quaisquer circunstâncias»?
Não condenam a sua religião por manter a pena de morte no catecismo (que só o Papa Francisco condenou) nem a que impede o médico de salvar a vida da criança que os pais condenam à morte, negando-lhe autorização para uma transfusão de sangue.
É destas madraças que saem padres que afirmam «que "pedofilia não mata ninguém", ao contrário do aborto».
A vida é um direito inalienável, e não uma condenação perpétua.
Comentários
E para muitos que são religiosos, o escândalo da eutanásia é que alguém mande às malvas essa coisa da providência divina e decida mergulhar no grande negrume desse país desconhecido. Se toda a morte é indigna, a vida pode sê-lo ainda mais...
As igrejas nunca conseguirão aceitar a autodeterminação da consciência individual perante a comunidade, que é a base do Iluminismo.
Tudo isto lembra-me as palavras de Barney Frank, que dizia que para os Republicanos a vida começava com a concepção e acabava com o nascimento...