O falecimento de Malaca Casteleiro

A frase – «Ele [João Malaca Casteleiro] coordenou e interveio ativamente, na elaboração do dicionário que estava há 200 anos parado, o que é uma grande marca» (Reflexão do jornalista, investigador e igualmente académico, António Valdemar, amigo do professor catedrático) – Público, ontem, pág. 36.

Malaca Casteleiro ficará conhecido como “pai do AO-90”, tal como Carolina Michaëlis, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos o ficaram pela Reforma Ortográfica de 1911, cujas bases elaboraram com Gonçalves Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Júlio Gonçalves Moreira, José Joaquim Nunes, Borges Grainha, Augusto Epifânio da Silva Dias e Gonçalves Viana que constituíram a totalidade da comissão nomeada pelo governo saído da Revolução do 5 de Outubro, empenhado em alargar a escolaridade e combater o analfabetismo.

À semelhança do que sucedeu em 1911, o horror à novidade, criou uma animosidade de tal modo virulenta que ainda existe um diário a escrever com erros ortográficos, como se a ortografia não fosse uma convenção que a lei fixa. Pode gostar-se ou não, mas deve cumprir-se e evitar a anarquia ortográfica.

Veja-se na Wikipédia como Teixeira de Pascoais e Fernando Pessoa verberaram a Reforma Ortográfica de 1911 https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Ortogr%C3%A1fica_de_1911 e, no entanto, é hoje a base do português em que nos exprimimos. Eles mantiveram-se os escritores que foram, e o idioma não voltou ao que eles queriam.

Malaca Casteleiro não esteve sozinho na elaboração e negociação do AO-90. Outros filólogos o acompanharam, mas foi ele que sofreu os ataques e assumiu o ónus maior.

Na sua morte, é justo homenagear o diretor de investigação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, o membro da Academia de Ciências de Lisboa, o conselheiro de investigação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, o ex-presidente do Conselho Científico da Faculdade e presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia entre 1991 e 2008.

Tão vasto e exuberante currículo suporta bem os vitupérios. Foi uma perda nacional, e a sua obra fica como testemunho de um brilhante investigador da língua portuguesa.

Comentários

Unknown disse…
Na minha opinião, face aos resultados, não se justificava a adopção deste novo acordo ortográfico. Afastámo-nos, ainda mais, da língua clássica donde prioritariamente deriva a nossa e a que podemos recorrer para dissipar inúmeras dúvidas quanto à ortografia correcta.
E tudo isto para quê? Pouco contribuiu para a aproximação das grafias de Portuga e Brasil: seu objectivo prioritário. Basta lembrar o acervo da palavras com dupla grafia. E, afinal, só o nosso país a ele aderiu... Já se pensou no número incalculável de livros que foram literalmente deitados ao caixote do lixo?
Pela minha parte, recuso-me a comprar qualquer dicionário na nova grafia.
Estas considerações não diminuem a minha admiração pelo brilho intelectual do professor Malaca Casteleiro, cuja proposta inicial para novo Acordo acabou totalmente subvertida e que essa, sim, mereceria uma maior atenção. Assim ficou " nem carne nem peixe" e, como tal, nunca deveria ver a luz do dia.
Caro Desconhecido,

Tem uma opinião respeitável, e que eu respeito, mas não tenha dúvidas de que no português imaculado em que se exprimiu, há erros de ortografia, não porque tenha escrito mal segundo a época pré-AO, mas porque é a lei que determina a escrita 'correta'.

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