Cartune de Onofre Varela
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A mostrar mensagens de fevereiro, 2023
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Onofre Varela
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Mitologia no reino da crença (1) Onofre Varela A Mitologia legou-nos fantásticas narrativas que testemunham o nosso poder de abstracção do real – sinal de inteligência superior – e atestam a crença em poderes sobrenaturais, na construção da sensibilidade religiosa. O espírito dos mortos e as divindades, com ou sem forma humana, povoam as várias mitologias ainda hoje visíveis sob a forma ritualista enquadrada na etnografia de todos os lugares do mundo, incluindo nela as religiões. Os mitos e as lendas são narrativas que identificam os povos. Para Roland Barthes, a narrativa é um dos mais eficazes instrumentos de conhecimento que acompanham a Humanidade desde os seus alvores. Não há povo sem uma narrativa que, simbolicamente, o represente. Contos, fábulas, relatos, crónicas e epopeias, são os suportes da narrativa que enaltece os feitos, as leis e as virtudes de um povo. Essa narrativa funciona como emblema, ou marca, da realidade comunitária, e tem responsabilidades na formatação do p
Caros Leitores
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Carlos Esperança
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Meus diletos, li o que escrevi há 9 anos e vejo como errei. Só o reproduzo para verem o engano, para duvidarem do meu juízo. Não fui capaz de prever que a Ucrânia seria hoje uma democracia com um honrado PR, que, juntamente com as exuberantes democracias que florescem na Polónia e na Hungria, a primeira do Eixo do Bem e a segunda do Eixo do Mal, se tornariam nos três países herdeiros da herança iluminista. Resta-me fazer mea-culpa e regozijar-me pela decisão do PR português, de levar a Kiev, a Zelensky, a Ordem da Liberdade, no mais alto grau, a mesma que outorgou a Cavaco Silva, igualmente um herói da liberdade e um cidadão acima de qualquer suspeita. Depois de tão lamentável erro, não me sinto capaz de comentar a guerra na Ucrânia. Aqui fica, para minha vergonha, o texto que escrevi, no dia de hoje, há 9 anos: «A Ucrânia, a anarquia e o futuro Não me sinto capaz de tomar partido na rebelião popular, atiçada do exterior, num país em ruínas. A pobreza extrema, uma agricultu
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Carlos Esperança
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M. – O PR (10) – Um perfil escondido – Homenagem a João Salgueiro (6178 carateres) Depois da agradável surpresa de um PR inteligente, culto e simpático, sucedendo a dez anos de um empedernido e azedo salazarista, Marcelo arruinou, no segundo mandato, a imagem do primeiro. Já gastou o cabedal de simpatia que mereceu. A irrefreável tendência para comentar tudo, do futebol à política, da canoagem à poesia, das vacinas à economia, dos incêndios às inundações, das decisões políticas aos autores, dos OE à conduta das oposições, só se contém perante eventuais fugas de informação da sua Casa Militar, na decisão conjunta do PM e PR para a nomeação do alm. Gouveia e Melo para CEMA, e, enquanto pôde, sobre notícias de pedofilia eclesiástica. Ao contrário dos beija-mãos ao Papa e aos bispos, exibe uma postura arrogante com os políticos, quiçá ressabiado da derrota na Câmara de Lisboa, do epíteto de Balsemão e das acusações deste, de ser delator das decisões dos Conselhos de Ministros para os
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Onofre Varela
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A DIGNIDADE DA IGREJA... OU A FALTA DELA Onofre Varela Vou alinhar na moda dos articulistas de jornais e escrever sobre aquilo que “está a dar”… aquilo que está mais vivo nas nossas memórias enquanto Portugueses atentos à Comunicação Social. Se, até há uma semana, era o terramoto na Turquia e na Síria que tomava o lugar da importância noticiosa dada à guerra que Putin faz à Ucrânia, agora é a pedofilia clerical na sua versão portuguesa. Enquanto ateu não estou nada preocupado com o futuro da Igreja… mas preocupo-me com o futuro dos jovens que lhe caem dentro, sejam estudantes seminaristas, ou crentes tenrinhos em preparação do espírito religioso para a comunhão, e que podem acabar abusados sexualmente precisamente por sacerdotes em quem confiam e de quem ouvem o discurso “Deus é amor”! Os crimes de pedofilia cometidos no seio da Igreja não vão terminar após a leitura do resultado deste inquérito sobre crimes sexuais de sacristia. Depois da “poeira assentar”, a Igreja continuará a alb
Giordano Bruno
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Carlos Esperança
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Na praça onde foi imolado, há 423 anos, 17 de fevereiro de 1600, a única de Roma sem uma igreja, os devotos da ciência e do livre-pensamento insistem nas peregrinações. Ergue-se aí a estátua que homenageia Giordano Bruno. A Santíssima Inquisição, depois de tentar que renegasse a existência de outros mundos, a teoria heliocêntrica, e as dúvidas sobre a natureza divina de Jesus Cristo, cumpriu com regozijo, em êxtase pio, a incineração do réprobo.
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Onofre Varela
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A História diz-nos que Deus é perigoso Onofre Varela O conceito de Deus, entendido como poder, é tão perigoso quanto qualquer outro poder quando ele nos é imposto como paradigma da “Verdade Absoluta”, obrigando-nos à sua submissão e adoração, sem limites nem interrogações. O “poder dos deuses” sempre foi uma ditadura persecutória, explorado pelos líderes das comunidades que o usavam para oprimir o Povo, conseguindo a sua subserviência ao poder temporal, amedrontado-o com o castigo divino. Os credos religiosos subjugam-nos desde a Antiguidade mais remota até aos nossos dias e à nossa porta, e é neste sentido que deve ser entendida a frase: “A História diz-nos que Deus é perigoso”. Fora deste contexto de subjugação a um deus, numa sociedade sadia dispensadora da droga do divino, uma corrente de ar é bastante mais perigosa para um corpo desprotegido… e Deus vale zero. Embora esse poder continue a ser praticado ao serviço dos vários interesses que comandam a sociedade em que nos inserim
Até aqui cheguei…
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Carlos Esperança
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Tomo de empréstimo uma conhecida frase de Saramago para definir a minha posição em relação às greves que fustigam os portugueses, lembrado de Passos Coelho e da sua bem sucedida campanha para virar contra os funcionários públicos os trabalhadores das empresas privadas. Tantas, tão violentas, todas ao mesmo tempo, podem derrubar o Governo, mas é o país que sofre e o sindicalismo que se suicida. Não é por acaso que os sectores que gostariam de destruir os sindicatos e, em última análise, a democracia, as apoiam. A todas.
M. – O PR (9) O DELATOR
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Carlos Esperança
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M – O PR, caiu-me hoje, duas vezes, no almoço, durante os 25 minutos em que estive a aconchegar a mucosa gástrica. Foi sóbrio a perorar sobre a pedofilia no seio da Igreja e ameaçador contra o Governo, dizendo o óbvio, a propósito de um congresso no BE, que a maioria absoluta não significa poder absoluto, como se a sua direita não tivesse todo o tempo de antena para nos alarmar e lhe faltassem a ele microfones para a promover. Marcelo diz que as declarações que fez em outubro, quando saiu em defesa da Igreja e tentou desvalorizar as 412 denúncias sobre pedofilia recolhidas até então, acabaram por incentivar denúncias de abusos. Até dos seus disparates procura colher os louros, sem se lembrar de que avisou o presidente da Conferência Episcopal de que era investigado pelo crime de ocultação de padres pedófilos. Para se perceber o carácter de M. – O PR, deixo aqui uma das várias epístolas com que o inefável M. se correspondeu com o último ditador fascista. Das 6 cartas escritas por M
O politicamente correto e a solidariedade
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Carlos Esperança
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Ouvi hoje o pungente testemunho de uma freira portuguesa, na Síria, sobre a tragédia do terramoto que, durante dias, foi apenas da Turquia. Sei que há os bons, os da Nato, e os maus, “os outros”, mas tenho dificuldade em compreender a insensibilidade com que se aceitam as tragédias n’ “os outros”. Aliás, duvido que haja freiras católicas em países de “bons”, onde os ditadores islâmicos controlam o poder. E dou por mim a pensar que os portugueses que resgataram dos escombros uma criança, na Turquia, jamais se dirigiriam à Síria em missão humanitária, como se as crianças de qualquer país, independentemente do ditador de turno ou do governo democraticamente eleito não merecessem igual solidariedade humanitária. Afinal, não é foi a solidariedade que moveu o Governo, e o PR que nunca falta com a sua opinião, foi a nacionalidade das vítimas. Até na solidariedade entra o politicamente correto, não apenas na análise do passado dos países e na execração dos seus heróis da época nesta volú
Caros leitores, riam, riam, riam…, antes de terem de chorar
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Carlos Esperança
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Depois de digerir que M. – O PR considera “um bom sinal a mobilização da CGTP”, defendendo que é importante as centrais sindicais manterem “o contacto com o terreno” face a novos sindicatos e movimentos, só nos faltava o longo tempo de antena ao edil do Porto, na RTP-1, hoje à hora do almoço, batizado como a primeira parte da reportagem sobre a droga, no Porto. M – O PR esqueceu a cumplicidade com o extinto Simmper – Sindicato Independente de Motoristas de Matérias Perigosas e o susto quando viajava com um motorista que, confiado no suposto aliado, lhe mostrou o cronograma (2019) para derrubar o Governo; o Dr. Rui Moreira, depois de absolvido em Tribunal e de regularizados os negócios da Quinta do Selminho, é imparável na corrida política para um ignorado destino, não lhe faltando cobertura mediática. M. – O PR há de fazer à CGTP o que em 2019 fez ao Simmper e, há dias, ao STOP, que agora condena, enquanto o Dr. Moreira continuará a correr para onde só ele sabe. Tudo isto seria m
M. – O PR (8)
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Carlos Esperança
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Hoje, à hora do almoço, M. – O PR caiu-me duas vezes na sopa e outra no prato do peixe antes de eu ter saído, a meio do telejornal da RTP-1, do restaurante onde almocei. Não foi o número de vezes, habitual, que me impressionou na mais barata e frequente das mercadorias de que se alimentam os media nacionais, foi o casual encontro, natural, do líder da Oposição, M. – O PR, com o putativo líder do PSD a quem, após o abraço, segredou qualquer coisa. É fácil, no reduzido espaço de 89 mil quilómetros quadrados, que o líder da Oposição e o do PSD tropecem a cada momento. Não o ouvi, e não me pareceu que dissesse quais as greves justas e as que deviam parar. Se o Governo caísse, ainda não tinha condições para a substituição, ainda que tivesse de conformar-se com um avatar de Passos Coelho. M. – O PR, frenético e eficiente, lá vai levando a água ao moinho da direita, sem o esgar de raiva e ódio que caracterizava o antecessor, e com a eficiência que a empatia com os media e o rali de beij
FRASES
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Carlos Esperança
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Papa Francisco, ontem, no Sudão do Sul 1 – À atenção dos cristãos: “Quem segue Cristo escolhe a paz, sempre”. 2 – À atenção dos muçulmanos: “Por favor, protejam, respeitem, apreciem e honrem cada mulher, cada menina, jovem, mãe e avó. Caso contrário, não haverá futuro”. // Se às mulheres forem “concedidas as justas oportunidades, elas, com a sua laboriosidade e destreza para guardar a vida, terão a capacidade de mudar a fisionomia do Sudão do Sul, de lhe dar um desenvolvimento sereno e coeso”.
Caros leitores, vamos ver se percebi
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Carlos Esperança
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A construção do palco da discórdia para as JMJ é da exclusiva responsabilidade do município de Lisboa, onde o autarca faz o que o PR e a Igreja disserem. Perante o escândalo, o edil Carlos Moedas excluiu da coordenação o coordenador das tarefas que competem ao Governo, a quem o palco lhe é alheio, isto é, foi destituído de um lugar que não ocupava, o das conversações entre a Câmara e o Patriarcado, cabendo à Câmara a decisão. Ficou a ideia de que o presidente da Câmara já tem competência para demitir quem o Governo nomeia para tarefas governamentais. Por coincidência, o órgão oficioso do Ministério Público, Correio da Manhã, anunciou hoje, na edição em linha, «Ministério Público investiga José Sá Fernandes / Nas últimas buscas foram pedidos documentos do gabinete do ex-vereador. / António Sérgio Azenha 01:30».
Pode um ateu ser admirador do Papa Francisco?
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Carlos Esperança
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Parafraseando o Papa, prefiro um católico humanista a um ateu malformado. Prefiro os que defendem os direitos humanos aos que os atropelam, as religiões que defendem a paz às que praticam terrorismo, os líderes que denunciam a exploração dos países africanos, aos que procuram pela força das armas submetê-los, os que levam uma mensagem de paz aos que trazem uma encomenda de armamento. Francisco está no Congo, onde forças do Estado Islâmico (EI) assassinam e estropiam os cristãos, católicos e protestantes. Já denunciou a apropriação dos seus recursos por países ricos e a violência sectária que atinge o País. Francisco é um homem corajoso e bom. A crença do idealista e o materialismo do ateu não nos separam, une-nos igual desejo da paz, harmonia e justiça social. Agora que Bento 16 morreu, já debilitado de saúde, passou a ser o único Papa, o Papa a quem este ateu homenageia e deseja sucesso na viagem corajosa ao Congo e Sudão do Sul depois de a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) ter
VITAL MOREIRA - Opinião (Para memória futura)
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Carlos Esperança
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Privilégios (11): Como é que situações destas persistem?! Publicado por Vital Moreira 1. No domingo passado, o diário Público fazia manchete com a notícia de que há juízes do STJ que passam tão fugazmente pelo lugar, requerendo logo a jubilação, que não chegam a ocupar-se de um único processo . A razão disso está obviamente no facto extraordinário de eles terem direito a uma pensão de valor superior à sua já elevada remuneração (acima da do primeiro-ministro!), pois, além de a pensão ter o mesmo valor daquela, eles deixam de descontar os 11% para a segurança social! Assim sendo, ao contrário do que sucede noutras carreiars públicas, por exemplo no ensino superior, em que os profissionais tendem a manter-se no ativo, por vezes até aos 70 anos (idade da aposentação obrigatória), para adiarem a importante redução de rendimento que a aposentação traz, os magistrados judiciais têm, ao invés, um incentivo para saírem logo que possível. Ganhar mais sem trabalhar, é irresistível. Da
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Carlos Esperança
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M. – O PR (7) – O CONJURADO Na sua reeleição, obtido o apoio expresso do PM e do presidente da AR, conquistado o eleitorado menos politizado do PS, o PR despiu o fato multicolor de PR e calçou as sapatilhas da direita, as únicas que se lhe ajustam aos pés, no passeio eleitoral. Deixou Belém o PR, veio para a rua o histrião. Foi fácil conquistar o Palácio de Belém para o segundo mandato a que prometera não concorrer. Depois de reeleito, M. aumentou a pressão e as dificuldades ao Governo, para facilitar a viragem à direita. Usou o chumbo do OE para empurrar o País para eleições legislativas, e deu a maioria absoluta ao PS. Entrou em sobressalto com a vitória e passou ao ataque. Deixou de ser árbitro, passou a contrapoder mediático, a líder da direita. O empático PR regressou às traquinices da juventude, a tocar campainhas de portas para incomodar os moradores e comprometer os amigos, às artimanhas da sua antiga luta de bastidores onde promoveu e ganhou as jogadas mais direitist
EUTANÁSIA
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Carlos Esperança
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Médico condenado por eutanásia em Espanha transforma o seu drama numa peça de teatro Matías A. Loewy Tradução espontânea, para distribuição sem fins lucrativos, do artigo 8 , publicado na Medscape em espanhol, em 20 de dezembro de 2022 BUENOS AIRES, ARG. Na noite de 28 de março de 2005, quando em serviço num hospital em Tarragona, Espanha, o Dr. Marcos Hourmann cuidou de Cármen Cortiella, uma doente de 82 anos de idade, descompensada com cancro do cólon avançado, hemorragia digestiva, diabetes e outras comorbilidades. Não havia nada a fazer, ela estava a lutar para respirar e a sedação paliativa só prolongaria o inevitável por algumas horas ou um dia. A filha implorou-lhe que fizesse algo para que a sua mãe não sofresse e a própria Cármen tinha-lhe pedido, em diálogos anteriores, que a sua doença não fizesse a sua filha sofrer e ele não h