A DIGNIDADE DA IGREJA... OU A FALTA DELA

Onofre Varela

Vou alinhar na moda dos articulistas de jornais e escrever sobre aquilo que “está a dar”… aquilo que está mais vivo nas nossas memórias enquanto Portugueses atentos à Comunicação Social.
Se, até há uma semana, era o terramoto na Turquia e na Síria que tomava o lugar da importância noticiosa dada à guerra que Putin faz à Ucrânia, agora é a pedofilia clerical na sua versão portuguesa.
Enquanto ateu não estou nada preocupado com o futuro da Igreja… mas preocupo-me com o futuro dos jovens que lhe caem dentro, sejam estudantes seminaristas, ou crentes tenrinhos em preparação do espírito religioso para a comunhão, e que podem acabar abusados sexualmente precisamente por sacerdotes em quem confiam e de quem ouvem o discurso “Deus é amor”!
Os crimes de pedofilia cometidos no seio da Igreja não vão terminar após a leitura do resultado deste inquérito sobre crimes sexuais de sacristia. Depois da “poeira assentar”, a Igreja continuará a albergar dentro de si abusadores sexuais… é histórico!
Os casos de sexo criminoso só poderão ser reduzidos (o óptimo era serem erradicados), quando o tema “sexo” não constituir tabu para a Igreja, nem os sacerdotes se obrigarem à hipócrita “castidade”.
Um padre é um animal como qualquer outro homem; tem sexo e instinto. A Natureza que o comanda obriga-o à prática sexual. Se o não pode fazer legalmente, fá-lo-à criminosamente!… Quem não percebe isto não percebe nada… e parece que a Igreja nunca o percebeu.
Contrariar a Natureza é o que os ensinamentos católicos sempre fizeram. Desde a negação de que o Homem é um antropoide sujeito a uma evolução natural, afirmando ter sido criado por um deus de fábula já com a forma definitiva… até à absolvição divina, de todas as más acções cometidas, através do acto medieval da “confissão”.
A Igreja poderá transformar-se numa instituição socialmente mais aceitável e credível quando, no sacerdócio, houver mulheres e padres casados. Enquanto essa evolução não se verificar, os crimes de pedofilia continuarão a ser praticados por religiosos mais próximos das crianças.
Pedidos de perdão e indemnizações aos ofendidos não resolvem em definitivo os males provocados, nem garantem o abandono de práticas criminosas. O dinheiro não vai curar as feridas psicológicas causadas pela violação das vítimas. As feridas vão acompanhá-los por toda a vida, embora o dinheiro possa ser usado para custear actos médicos no alívio do mal.
Os agressores tiveram a sua “construção psicológica” erigida durante a permanência no seminário sem contactos com o sexo oposto. Se esta situação não garante o nascimento de um pedófilo, também não pode afirmar o contrário… e em algumas mentes poderá conduzir ao uso do sexo ilícito na alcova do crime.
A situação socialmente inaceitável da Igreja começa no momento em que o credo religioso se considera “intocável”. Não criticar a Igreja é a primeira atitude para alicerçar e permitir os abusos por ela praticados. O extremo poder da Igreja sobre as populações culturalmente indefesas dos países católicos por tradição milenar é, por si só, uma “atitude pornográfica”.
Os poderes numa sociedade moderna, verdadeiramente progressista e democrática, têm de ser diversificados para que os abusos não sejam cometidos com tanta facilidade ou, até, serem evitados.
Quando há poder absoluto, os detentores desse poder podem fazer de tudo… e a Igreja sempre deteve todo o poder do mundo, exercendo-o a seu bel-prazer a coberto da “intocabilidade sacra” e com o apoio que sempre recebeu de ditaduras (e também de democracias), com as quais convive promiscuamente.
É esta intocabilidade que ainda mora dentro de cabeças cardinalícias… e é por aí que se deve começar o desmoronamento da mentalidade bafienta e medieval que faz o retrato oficial da Igreja.
Mulheres na actividade sacerdotal e casamento dos sacerdotes, poderá ser a porta de saída dos pedófilos, e a porta da entrada de alguma dignidade nesta Igreja que, pelo que se lê na imprensa, está tão carente dela!…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

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