Caros Leitores
Meus diletos, li o que escrevi há 9 anos e vejo como errei. Só o reproduzo para verem o engano, para duvidarem do meu juízo.
Não fui capaz de prever que a Ucrânia seria hoje uma democracia
com um honrado PR, que, juntamente com as exuberantes democracias que florescem
na Polónia e na Hungria, a primeira do Eixo do Bem e a segunda do Eixo do Mal,
se tornariam nos três países herdeiros da herança iluminista.
Resta-me fazer mea-culpa e regozijar-me pela decisão do PR
português, de levar a Kiev, a Zelensky, a Ordem da Liberdade, no mais alto
grau, a mesma que outorgou a Cavaco Silva, igualmente um herói da liberdade e
um cidadão acima de qualquer suspeita.
Depois de tão lamentável erro, não me sinto capaz de
comentar a guerra na Ucrânia.
Aqui fica, para minha vergonha, o texto que escrevi, no dia
de hoje, há 9 anos:
«A Ucrânia, a anarquia e o futuro
Não me sinto capaz de tomar partido na rebelião popular,
atiçada do exterior, num país em ruínas. A pobreza extrema, uma agricultura
destruída no que foi o celeiro da Europa, a divisão étnica e a tradição
autoritária e antidemocrática estão na origem de confrontos, que ameaçam
continuar, para vingar o sangue já derramado.
Não vale a pena, agora, recordar as matanças e as migrações
forçadas por Estaline que alteraram a matriz étnica e cultural do segundo maior
país da Europa.
O que não entendo é a explosão do nazismo em apoio aos
partidos que anseiam a união à Europa, como se a Rússia fosse um país africano
e os nazis indefetíveis partidários da União Europeia. Também não entendo o
apoio de alguma esquerda às forças pró-russas como se Moscovo fosse um soviete
dirigido por um PR comunista.
A disputa entre potências capitalistas, com a Rússia a ser
alvo do apetite da Nato, pode provocar uma hecatombe e debilitar o poder russo.
De certeza, altera-se a correlação de forças, com a NATO contida nos limites
atuais, uma derrota para a Europa que serve de ponta de lança aos EUA, ou
expandida até à fronteira russa, com a derrota de Moscovo.
É curioso ver comunistas a defenderem o poder sufragado em
eleições e os reacionários a apoiarem histericamente a insurreição e atos de
justiça popular, posições corajosas de quem está longe do conflito.
Debilitar a Rússia é acender o rastilho das antigas
repúblicas soviéticas onde o fascismo islâmico pretende a desforra e a sharia,
enquanto a Turquia se orienta, a recitar o Corão, em direção a Meca e as
primaveras árabes mergulham na anarquia e nas cinco orações.
Com os erros da meteorologia euro/americana a anunciar
primaveras árabes, temo que a Rússia fique à mercê de irrefreáveis hordas
islâmicas que, no ocaso da civilização árabe, exacerbam a devoção e a demência.
E não haverá inocentes.»
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