M. – O PR (7) – O CONJURADO
Na sua reeleição, obtido o apoio expresso do PM e do
presidente da AR, conquistado o eleitorado menos politizado do PS, o PR despiu
o fato multicolor de PR e calçou as sapatilhas da direita, as únicas que se lhe
ajustam aos pés, no passeio eleitoral. Deixou Belém o PR, veio para a rua o
histrião. Foi fácil conquistar o Palácio de Belém para o segundo mandato a que
prometera não concorrer.
Depois de reeleito, M. aumentou a pressão e as dificuldades
ao Governo, para facilitar a viragem à direita. Usou o chumbo do OE para
empurrar o País para eleições legislativas, e deu a maioria absoluta ao PS.
Entrou em sobressalto com a vitória e passou ao ataque. Deixou de ser árbitro,
passou a contrapoder mediático, a líder da direita.
O empático PR regressou às traquinices da juventude, a tocar
campainhas de portas para incomodar os moradores e comprometer os amigos, às
artimanhas da sua antiga luta de bastidores onde promoveu e ganhou as jogadas
mais direitistas.
Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Santana Lopes,
Manuel Durão Barroso e António Pinto Leite apareceram no início de 1984,
organizados, para reporem no poder a direita mais conservadora, com o
pseudónimo de “Nova Esperança”.
Influenciaram o congresso do PSD, [1984, Braga] levando Mota
Pinto a derrotar Mota Amaral e, em 1985 [Figueira da Foz], conseguiram a
improvável ascensão à liderança do PSD do obscuro salazarista Cavaco Silva,
derrotando João Salgueiro.
Marcelo foi o principal responsável por dez anos de Cavaco
como PM, onde este colheu os louros e os subsídios da adesão à União Europeia
[01-01-1986], adesão cujo mérito se deveu ao pedido feito pelo PM Mário Soares
[1977] e ao seu prestígio internacional.
Mais tarde, antes de começar a preparar a própria
candidatura, como comentador da TV, lançou a de Cavaco Silva a PR, com um grupo
restrito, na reunião de casais da vivenda de Ricardo Salgado, onde, além do
anfitrião, Marcelo e Durão Barroso eram padrinhos, acompanhados das madrinhas,
na proposta para Belém de Aníbal e Maria. A Freitas do Amaral preferiu Cavaco,
a quem outorgaria o mais alto grau da Ordem da… Liberdade.
Surpreende a amnésia das mulheres que votaram em Marcelo,
esquecidas da oposição à despenalização da IVG e ao chumbo do primeiro projeto
para a legalização nos casos de risco de vida da mãe, malformações ou violação.
Marcelo, o coração de manteiga, é um misógino implacável contra a saúde e a
dignidade das mulheres.
A maior surpresa foi a de eleitores do PS, alheios a
ingerências e dificuldades criadas ao Governo em áreas da sua exclusiva
competência. Perdoaram-lhe a inoportuna chamada do diretor da PSP e as
declarações impróprias deste no Palácio de Belém, e os incêndios de Pedrógão, e
deglutem sem azia a vichyssoise que o candidato lhes oferece na ementa.
Os eleitores PS tinham na sua área uma candidata e os que
não gostam de Ana Gomes, tinham Marisa Matias, se abstraíssem da perseguição
feroz do BE a Mário Centeno, na nomeação para o BP, e do aventureirismo na
votação do OE-2021. E tinham, sobretudo, João Ferreira, certos de que não seria
o segundo candidato mais votado, para votarem contra a direita, devendo ao PCP a
postura irrepreensível na relação com o PS e sabendo que é imprescindível ao
equilíbrio partidário.
Um social-democrata não tinha o direito de votar em um
candidato de direita, a menos que quisesse arrepender-se de trocar a
social-democracia pela direita conservadora e liberal.
A sondagens desmotivaram a oposição a Marcelo, mas a
sensatez podia ser avivada na campanha eleitoral. Os eleitores do PS, salvo os
que se movem apenas por emoções, hão de arrepender- se da ingenuidade.
M. contribuiu para afastar Rui Rio, impoluto democrata, da
liderança do PSD e, depois de ter perdido aí as eleições com Paulo Rangel,
procura agora afastar Montenegro para recomendar Moedas, com a certeza de que
fará tudo o que ele e a Igreja disserem.
O PM, na entrevista à RTP-1, anteontem, mostrou ao
jornalista a quem trocaram o guião das perguntas pelo do debate, que está
determinado a governar, a conter os sucessores e a defender a independência do
órgão da soberania a que preside. O PM conhece a CRP e sabe o que faz, como tem
provado, em tempos de incerteza, com os sucessos na frente económica. M.
conhece a Constituição, mas não é praticante.
M. levou a torpeza ao ponto de comentar a entrevista do PM, merece
o que Balsemão lhe chamou, e, no desespero de levar a direita ao poder, sabendo
que levará fascistas, disse que «os portugueses não querem uma maioria que
esteja morta».
Já não é a direita que aguarda o poder, é a direita democrática
que aguarda as condições da extrema-direita para ambas o partilharem antes de a
última o assumir.
M., este PR, incomparavelmente mais inteligente, culto e polido, há de acabar como o raivoso antecessor salazarista.
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