M. – O PR (9) O DELATOR

M – O PR, caiu-me hoje, duas vezes, no almoço, durante os 25 minutos em que estive a aconchegar a mucosa gástrica. Foi sóbrio a perorar sobre a pedofilia no seio da Igreja e ameaçador  contra o Governo, dizendo o óbvio, a propósito de um congresso no BE, que a maioria absoluta não significa poder absoluto, como se a sua direita não tivesse todo o tempo de antena para nos alarmar e lhe faltassem a ele microfones para a promover.

Marcelo diz que as declarações que fez em outubro, quando saiu em defesa da Igreja e tentou desvalorizar as 412 denúncias sobre pedofilia recolhidas até então, acabaram por incentivar denúncias de abusos. Até dos seus disparates procura colher os louros, sem se lembrar de que avisou o presidente da Conferência Episcopal de que era investigado pelo crime de ocultação de padres pedófilos.

Para se perceber o carácter de M. – O PR, deixo aqui uma das várias epístolas com que o inefável M. se correspondeu com o último ditador fascista. Das 6 cartas escritas por Marcelo Rebelo de Sousa a Marcelo Caetano, [documentos]* numerados de 492 a 497, destaco pelo conteúdo pidesco a correspondente ao n.º 495:

Excelentíssimo Senhor Presidente (do Conselho),

Excelência,

Pedindo desculpa do tempo que tomo a Vossa Excelência, vinha solicitar alguns minutos de audiência (...). Seria possível, Senhor Presidente, conceder-me os escassos minutos que solicito? (...) Acompanhei de perto (como Vossa Excelência calcula), as vicissitudes relacionadas com o Congresso de Aveiro, e pude, de facto, tomar conhecimento de características de estrutura, funcionamento e ligações, que marcam nitidamente um controle (inesperado antes da efetuação) pelo PCP. Aliás, ao que parece, a atividade iniciada em Aveiro tem-se prolongado com deslocações no país e para fora dele, e com reuniões com meios mais jovens.

Como Vossa Excelência apontou, Aveiro representou, um pouco mais do que seria legítimo esperar, uma expressão política da posição do PC e o esbatimento das veleidades «soaristas».

O discurso de Vossa Excelência antecipou-se ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais, e penso que caiu muito bem em vários sectores da opinião pública.

Com os mais respeitosos e gratos cumprimentos,

Marcelo Rebelo de Sousa

*(in «Cartas Particulares a Marcello Caetano», organização e seleção de José Freire Antunes, vol. 2, Lisboa, 1985, p. 353)

* Confirmei no livro referido a veracidade da carta.

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