14.º aniversário da morte de José Saramago (atualizado)

Há catorze anos faleceu o Nobel do nosso contentamento, em Tias, nas Ilhas Canárias, onde o levou o azedume a Cavaco Silva, dando relevo a quem não o merecia, e aos 87 anos o aguardou a morte, com o desvelo de Pilar del Rio, o seu último e intenso amor.

Foi o início da viagem às origens, o regresso a Azinhaga, onde o esperavam os avós que sempre estremeceu e a oliveira onde lhe depositaram as cinzas. 2010 foi o Ano da Morte de José Saramago, o escritor que deu à língua Portuguesa o Nobel da Literatura e deixou   obra ímpar e multifacetada.

De Camões e Gil Vicente, passando por Vieira e Aquilino, Saramago destacou-se na plêiade de escritores portugueses e mostrou que a liberdade conquistada com o 25 de Abril trouxe consigo o espírito criativo e a genialidade que conservou até à morte.

A língua deve-lhe a riqueza da imaginação e da sabedoria, e os portugueses o orgulho de o terem como referência estética e cultural, esquecidos da mediocridade de um Governo em que figuras menores, Santana Lopes e Sousa Lara, vetaram uma obra emblemática –, O Evangelho segundo Jesus Cristo.

Com ele, foram “Levantados do Chão” os explorados e trazidas para a literatura figuras de fino recorte que a genialidade do escritor criou.

Quando, há três séculos foi lançada a primeira pedra do Convento de Mafra com que D. João V agradeceu a mercê divina de um herdeiro e esbanjou o ouro do Brasil, que lhe sobrou das oferendas ao Papa, não adivinhava o «Senhor Fidelíssimo», título e prémio papal ao desperdício com que deslumbrou o Vaticano, que o Mosteiro seria o cenário de uma das mais aliciantes obras literárias do maior ficcionista português do Século XX.

Mafra entrou no roteiro cultural internacional projetada pelo «Memorial do Convento», romance em que a profunda erudição se associou à fábula, as alegorias mergulharam na história e Frei Bartolomeu Lourenço acabou louco por entre as dúvidas metafísicas e a perseguição do Santo Ofício, demorando-se o autor no amor entre Baltazar Sete-Sóis, ex-soldado maneta, e Blimunda Sete-Luas, que perscrutava vontades através dos corpos das pessoas, transparentes ao seu olhar.

A beleza literária e a linguagem inovadora criaram obras-primas que consagraram o escritor que deixou abundantes vitualhas na mesa da literatura.

Que os quase três lustros decorridos sobre o passamento do grande escritor sejam um pretexto para reler Saramago é a maior homenagem que os portugueses lhe podem prestar.

É o que faço a quem trago no meu devocionário onde Camões, Vieira, Camilo, Eça, Torga e Aquilino o acompanham em lugar de destaque.


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