O Ministério Público e a democracia – Quem nos acode?!
O País assiste entre a surpresa e a indignação ao rápido e inexorável definhamento da democracia sob a pertinaz e eficiente ação do Ministério Público.
A demissão de um primeiro-ministro perpetrada pela PGR na
presidência da República, numa reunião a pedido do PR, foi da exclusiva
responsabilidade dos respetivos titulares. As suspeitas graves sobre o PM
teriam de ser muito fortes para se destruir a estabilidade governativa e lançar
o País numa aventura de consequências imprevisíveis, mas desde o dia 7 de
novembro de 2023, sete meses depois, não foram tiradas ilações pelos autores.
Mesmo depois de desautorizado pelo Tribunal da Relação, o
Ministério Público persiste em manter sem arquivamento o processo contra o
ex-PM numa arbitrariedade de quem se sabe impune. A PGR não dá explicações e
mantem-se no cargo. É o abuso do poder em todo o seu esplendor, um candidato a
um lugar de topo na União Europeia refém do Ministério Público do seu país!
Na ditadura era a Pide que vigiava adversários do Governo,
hoje é o Ministério Público que, na qualidade de adversário, vigia os governos.
Sete meses e dez dias depois do golpe, sendo o ex-PM o candidato
desejado dos líderes europeus a um cargo de topo na União Europeia, as
televisões divulgaram escutas do processo com que o quiseram abater no próprio
dia em que era esperada a decisão.
Estas escutas são informações políticas da atividade
política, abuso de quem as fez, crime de quem as guardou sem as destruir, de
quem as vendeu, e crime que só podia ter em vista a perseguição política por
divulgar perfidamente a linguagem informal entre o líder do governo e um
ministro. Este era o único interesse de tão hediondo crime.
A extrema-direita exulta com a violação do segredo de
Justiça na divulgação de escutas telefónicas sem relação com o processo a
pretexto do qual foram obtidas. É o regime democrático a ser atacado, é o medo
que se instala, é a democracia que periga.
Perante a indigitação de António Costa para Presidente do
Conselho Europeu os doutos magistrados do Ministério Público que o levaram à
demissão, mantêm o processo sem arquivamento e guardam escutas da sua atividade
conspiratória para que as televisões as exibam no dia crucial.
Quando a Estado de Direito é ferido por quem tem a obrigação
de o preservar, é o País que apodrece e vai transformando a democracia em
cadáver.
Quem nos acode?!
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