A União Europeia (U.E.) e a guerra na Ucrânia
Não discuto a bondade do apoio da U.E. a esta guerra, mas gostaria de pôr em causa a sensatez das suas decisões perante as consequências, sem ser acusado de estar ao lado da Rússia.
Há mais de dez anos que acompanho a guerra civil na Ucrânia
e, há mais de dois, a sua escalada após a invasão russa. Já ouvi todos os
prognósticos, e demasiados argumentos para justificar a continuação da guerra
que devora as juventudes da Ucrânia e da Rússia e os recursos financeiros da
UE.
Não me atrevo a discordar das boas razões, mas permitam-me a
reflexão, sem anátemas ou insultos, para prosseguir a guerra, arriscando a vida
de todos os europeus, o que só é legítimo se essa for a vontade democrática dos
europeus, livremente expressa.
Sei que a História dá sempre razão aos vencedores e nunca
aos vencidos, sem estar certo de que sobrem uns ou outros, mas com dúvidas
sobre o desfecho da guerra.
A doutrina militar russa é clara no uso das armas nucleares,
risco de sobrevivência para o país, e vejo que a U.E., tal como o sec.-geral da
Nato, é entusiasta do risco de a pôr à prova. É legítima a decisão, dada a
convicção de que é a atitude eticamente correta, mas deve ser sufragada pelas
populações que, fora da Ucrânia, sofrerão as consequências.
A tentativa da U.E. para isolar a Rússia teve o efeito
perverso de a atirar para a aliança com a China e as sanções económicas para a
tornar economicamente mais débil, o do enfraquecimento da U.E. por efeito das
contrassanções russas.
Sofremos um terrível revés no combate às alterações
climáticas e delapidamos recursos que nos afastam dos gigantes económicos
globais, EUA e China, sem outro benefício que não seja o da eventual
superioridade ética.
Há duas surpresas que aumentam as dúvidas, a posição
cautelosa dos EUA no uso das suas armas pela Ucrânia, a contrastar com o
entusiasmo da U.E., e a posição do Papa, a incluir no apelo à paz, na Palestina,
Israel, Myanmar, a “martirizada Ucrânia”. Nem é preciso imaginar o que sucederá
com a eventual vitória de Trump nos EUA, indiferente ao destino da Ucrânia, ou
com o avanço da extrema-direita europeia, favorável a Putin.
Há boas razões para ponderarmos as decisões da UE sobre a
guerra da Ucrânia, é a sua sobrevivência que está em jogo, e a posição dos EUA
limita a retaliação à Europa, não admitindo à Ucrânia usar as suas armas no
interior da Rússia. É legítimo imaginar a destruição da Europa pelas armas
nucleares táticas, Rússia incluída, com EUA e China a assistirem.
Não tenho dúvidas sobre o que pensam de Putin as mães russas
dos filhos mortos e estropiados na guerra da Ucrânia, mas surpreender-me-ia se
a solidariedade das mães ucranianas se mantivesse em relação a Zelensky.
Considero um dever de cidadania a reflexão que aqui deixo. O
contraditório é justo, e se alguém preferir o insulto à discussão, convivo bem
com isso. O que recuso é o silêncio covarde perante a iminência de uma guerra estimulada
por belicistas de sofá.
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