O peregrino D. Aníbal e a laicidade traída

O cortejo é composto por devotos que exaltam D. Nuno e exultaram quando ele, na paz da longa defunção, acudiu ao olho esquerdo de D. Guilhermina, atingido por salpicos ferventes de óleo de fritar peixe. Era o prodígio que faltava para a canonização de quem foi mais destro a matar castelhanos do que a pôr pensos. Após o milagre, por prudência e pela idade, D. Guilhermina trocou os fritos pelos cozidos.
A embaixada é inferior à que D. João V enviou a Clemente XI mas D. Aníbal I não é esbanjador nem procura de Bento XVI o título de «Senhor Fidelíssimo», ainda que o mereça no que se refere à fé e à constância matrimonial.
O reino anda aturdido com a honra da canonização do taumaturgo com provas dadas na especialidade de oftalmologia. É pena continuar morto, mas sendo uma ofensa para a razão é um orgulho para a fé que continue a pelejar, agora no ramo dos milagres.
Falta D. Guilhermina na peregrinação, para contar aos fidalgos como, perante a dor da queimadura, não se lembrou de Gil Vicente com palavras que, não sendo adequadas à salvação da alma, aliviam a dor, e se lembrou de evocar o bem-aventurado Condestável que o clero autóctone ansiava canonizar desde os tempos da Cruzada Nun’ Álvares.
Os ilustres peregrinos não vão a Roma bajular o Papa, vão agradecer a deus a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus.
Quando a luzidia embaixada regressar à Pátria, com os joelhos doridos das genuflexões, a pituitária irritada do incenso e os corpos enegrecidos pelo fumo das velas, espera-se que o país rasteje de júbilo por mais uma farsa pífia e tantas genuflexões pias.
Ponte Europa/SORUMBÁTICO
Comentários
longa viva a dona Guilhermina, + seu olhinho "frito", creio!
Acredito, desejo, acho razoável que D. Anibal possa ficar de vez lá na Santa Sé
visando uma cooperação estratégica com o santo reino de Deus
e nos deixe aqui mais descansados
com o estatuto dos Açores, de facto com alguns absurdos desnecessários
abraço
Isto é, existiam naquele reino católico muitos infelizes atingidos nos olhos com espadadas de condestáveis e outros, mendigando pelas vielas cheias de excremento humano, a quem o dito milagreiro desprezava e de quem o seu deus sentia intensa repugnância!
Vamos que merecemos um país com menos condestáveis!...
Estou com o Aires, na mesma convicção e no mesmo desejo, no que a D. Aníbal e a seu séquito diz respeito...
Bem podiam ficar por lá!
(E, já agora, podiam pagar os transportes e as prendas das suas contas pessoais...)