Nuno Álvares condenado à santidade
Portugal, tão esquecido pelo Vaticano no negócio dos santos, vê Nuno Álvares Pereira perder o prestígio de que gozava e, por causa da santidade, passar a ser gozado. Foi um herói que resistiu à apropriação de Sidónio e de Salazar mas, com quinhentos anos de cadáver, não resistiu aos interesses da Igreja e à satisfação dos beatos.
Valeu a vergonha para que o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República não fossem mostrados de joelhos em Roma. Para enxovalho já bastou terem dado o nome para a comissão de honra da canonização de Nuno Álvares a cujo espectro se atribui a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe.
É grave que o Estado tenha sido enredada na cura miraculosa do olho esquerdo de uma devota; é ridículo que os seus mais altos representantes confundam as legítimas crenças individuais com os factos; arruína a reputação de Portugal que, em nome do Estado, se rubrique como verdade um grosseiro embuste de sabor medieval. É abusivo peregrinar, a expensas do tesouro público, para rezar ave-marias durante a canonização e trazer, depois, santinhos para os amigos.
Se D. Guilhermina tivesse rezado quatro novenas, em vez de duas, e passado a noite aos ósculos na imagem do Condestável, teria curado o olho esquerdo e feito a profilaxia das cataratas. O País não carece de médicos, basta que, na altura certa, reze a um beato que esteja em lista de espera para ser canonizado. Portugal, para sair da crise, só precisa de fé, de rezar o terço e da protecção divina.
Respeito os crentes que, à sua custa, foram a Roma esfolar os joelhos e agradecer a deus a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina, mas condeno o ministro, deputados e outros dignitários que reclamam a representação do Estado em cerimónias que comprometem a laicidade. Portugal ainda não se emancipou da cumplicidade que, durante a ditadura, a Igreja e o Estado estabeleceram entre si. Os altos representantes deviam usar um cordão sanitário que os abrigasse da vergonha e da falta de ética.
Nuno Álvares foi o herói que a Igreja transformou em colírio rasca para a cura de um olho esquerdo, queimado com óleo de fritar peixe. Com a espada nas mãos não se teria deixado capturar mas, assim, desfeito em cinzas, sucumbiu com duas novenas e deixou-se atravessar por um ósculo de uma beata numa imagem sua.
Valeu a vergonha para que o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República não fossem mostrados de joelhos em Roma. Para enxovalho já bastou terem dado o nome para a comissão de honra da canonização de Nuno Álvares a cujo espectro se atribui a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe.
É grave que o Estado tenha sido enredada na cura miraculosa do olho esquerdo de uma devota; é ridículo que os seus mais altos representantes confundam as legítimas crenças individuais com os factos; arruína a reputação de Portugal que, em nome do Estado, se rubrique como verdade um grosseiro embuste de sabor medieval. É abusivo peregrinar, a expensas do tesouro público, para rezar ave-marias durante a canonização e trazer, depois, santinhos para os amigos.
Se D. Guilhermina tivesse rezado quatro novenas, em vez de duas, e passado a noite aos ósculos na imagem do Condestável, teria curado o olho esquerdo e feito a profilaxia das cataratas. O País não carece de médicos, basta que, na altura certa, reze a um beato que esteja em lista de espera para ser canonizado. Portugal, para sair da crise, só precisa de fé, de rezar o terço e da protecção divina.
Respeito os crentes que, à sua custa, foram a Roma esfolar os joelhos e agradecer a deus a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina, mas condeno o ministro, deputados e outros dignitários que reclamam a representação do Estado em cerimónias que comprometem a laicidade. Portugal ainda não se emancipou da cumplicidade que, durante a ditadura, a Igreja e o Estado estabeleceram entre si. Os altos representantes deviam usar um cordão sanitário que os abrigasse da vergonha e da falta de ética.
Nuno Álvares foi o herói que a Igreja transformou em colírio rasca para a cura de um olho esquerdo, queimado com óleo de fritar peixe. Com a espada nas mãos não se teria deixado capturar mas, assim, desfeito em cinzas, sucumbiu com duas novenas e deixou-se atravessar por um ósculo de uma beata numa imagem sua.
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