O Islão envenena a Turquia

Erdogan e mulher
Há muito que desconfio do comportamento beato do primeiro-ministro turco Recep T. Erdogan que a Europa e os EUA apelidam de islamita moderado.

Tenho dificuldade em compreender o que é um crente moderado de qualquer religião, em saber se é aquele que acredita em deus três dias por semana e descrê nos restantes, se é o que reduz as orações a metade das recomendadas ou se há quem, sendo crente, respeite e defenda os que acreditam numa religião diferente e os que duvidam de todas.

No caso de Erdogan duvido que a moderação o leve a aligeirar o jejum sem se abster de comer, beber ou ter relações sexuais do nascer ao pôr do Sol durante todo o Ramadão. Quem tenha lido o Antigo Testamento é obrigado a desconfiar de quem leva a sério a alegada vontade de deus: a violência, o racismo, a xenofobia, a crueldade e o espírito misógino. E o Corão é o mais implacável manual de violência e desumanidade das religiões do livro.

A Turquia tem vivido entre a vigilância da defesa da laicidade pelas Forças Armadas e o poder judicial e a tentativa de destruição da sociedade laica pelo partido confessional de Erdogan. Não há governo democrático sob a tutela militar e judicial mas o seu acesso ao poder pela via democrática não garante o respeito pelos direitos, liberdades e garantias que os Estados modernos  consagram.

A detenção de mais de 170 oficiais no activo e de 77 na reserva reforça o poder de Erdogan, eleito democraticamente, mas não garante a laicidade que tem vigorado na Turquia. Um dos mais poderosos exércitos da NATO pode transformar-se na guarda pretoriana do islamismo com a força das armas a abandonar Washington e a virar-se para Meca.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Rui Cascao disse…
Carlos, penso que a fase da tutela da laicidade pelo exército já está superada, e que a maturidade da democracia turca já foi alcançada. Aliás, os resultados das últimas legislativas Junho passado são eloquentes: ao AKP foi negado claramente pelo eleitorado o objectivo a que se propunha: obter uma maioria constitucional (perdendo até deputados, não obstante ter subido ligeiramente da votação...). Se tivermos em conta o crescimento a passos de gigante da Turquia e o sucesso da governação do AKP nessa matéria, não é coisa pouca.
Rui, não sou profeta mas temo pela deriva turca em direcção à teocracia.

Não me esqueço de que, perante o assassínio de 3 juízes que consideraram inconstitucional (em acórdão) o uso do véu islâmico nas universidades, este PM disse compreender a revolta do muçulmanos (que os assassinaram).
e-pá! disse…
Idependentemente do projecto islamista do AKP (que é real), este partido receia dar passos em direcção ao fim do secularismo com receio de uma eventual revitalização do velho e desgastado Partido Republicano do Povo (CHP), arredado do poder, mas ainda o guardião da herança Kemalista (Ataturk).

O que poderá, de facto, ajudar a empurrar a Turquia para a esfera islâmica será a UE com as suas indecisões, ou pior, a sua hipocrisia, em relação à adesão turca. Embora reconheça que essa adesão é um problema complexo e problemático, tais factos, não invalidam que este problema seja tratado de modo transparente. O que não se verificou...

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