Um inquietante (ou inquietado?) Ministro…

O Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, tentou ultrapassar as suas fugazes aparições (tipo relâmpago) e deu uma entrevista à TVI onde se “alargou” (pouco) em explicações sobre os planos orçamentais e fiscais para os próximos tempos…

Questionado sobre se o Governo prevê um novo aumento de impostos para 2012, Vítor Gaspar, admitiu que tal irá acontecer…
… Sobre se esta é a forma mais "fácil" de arrecadar dinheiro, Vítor Gaspar respondeu: "Não é de todo fácil, é mais rápido ir buscar dinheiro aos contribuintes".
…Vítor Gaspar rejeitou que esteja escrito, quer no programa do Governo, quer no memorando, a expressão "cortes nas gorduras [despesas]" e escusou-se a avançar de que forma o Executivo irá proceder aos cortes na despesa… link

Bem. O Ministro Vítor Gaspar tornou-se um “case study” na política nacional. Foge aos conceitos estereotipados que os políticos portugueses cultivam desde há anos. De facto, os actores políticos nacionais têm mostrado dificuldades na comunicação com os cidadãos, nomeadamente, porque recheiam as suas intervenções com frases feitas, bordões e arquétipos, o que dilui a mensagem. É frequente ouvirmos asserções, fora do contexto, do tipo: interesse nacional, imperativo ético, desígnio, estratégias, políticas realistas, pragmatismo, alavancagem, etc.


Vítor Gaspar faz-nos recuar aos primeiros tempos de Cavaco Silva, na altura, ministro das Finanças do Governo de Sá Carneiro. O ascetismo verbal é o traço marcante. Em Cavaco por timidez e motivos culturais, em Vítor Gaspar por razões tácticas e técnicas (fuga para a frente).
Este estilo existe porque Vítor Gaspar (como também na altura sucedeu com Cavaco Silva) não pertence ao “inner circle” partidário (PSD). Assume-se como um “outsider”, fora das manobras políticas, e tenta afirmar-se como um (competente) “zelador” das finanças públicas, imbuído de instintos redentores e, finalmente, o fiel interprete do Memorando da “troika”…


O “negacionismo” de Vítor Gaspar em relação aos cortes na despesa (aquilo que a Direita definiu insistentemente como a “gordura do Estado”) é a evidência de que o actual ministro, durante a turbulência política que precedeu as eleições de 5 de Junho, continuava a ser um professor de Economia e um conselheiro no Banco de Portugal, alheio ao debate que a queda do XVIII Governo provocou no nosso País. Estava entretido com outras coisas.


Apareceu vindo de uma “torre de marfim”, imune e insensível às questões que preocupam e agitam os comuns dos mortais. Por isso, julga ao que insistir no lado da receita, i. e., ao castigar fiscalmente os contribuintes, não está a fazer um trabalho fácil, mas rápido! Todavia, terá a noção de que a pressa é quase sempre um sinal de inquietação?

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