O indulto aos secessionistas catalães
A Espanha é um país de várias nações com língua própria e tradições independentistas de longa data. Aliás, Portugal é o exemplo de uma secessão conseguida há quase quatro séculos e ora alheado dos problemas que se vivem do lado de lá da fronteira que deixou de ser.
Durante a longa ditadura franquista, o assassínio de
centenas de milhares de espanhóis e a ferocidade da repressão não extinguiram
as pulsões independentistas, mas a autonomia que a democracia concedeu, apesar
de ampla, não saciou as aspirações nacionalistas que procuram desfazer o País.
A repressão é a única arma que os conservadores conhecem, e
a independência a que os nacionalistas aceitam. No caldo de cultura de um país
com tradições sangrentas e débil experiência democrática, que perpetuou o
aparelho franquista, torna-se difícil a solução.
Os nacionalismos que se exacerbam em toda a Europa, que destruíram
a ex-Jugoslávia e a Sérvia, separaram a Checoslováquia e ameaçam o Reino Unido,
a Grécia, a Itália e a Bélgica, são, em Espanha, armadilhas que é preciso
desmontar para a pacificação.
A Catalunha é só a primeira e mais feroz provocação ao
Estado espanhol e à unidade de Espanha, país que deixaria de existir se a
primeira independência tivesse sucesso.
A democracia encontrou a Catalunha com a língua própria em
vias de extinção, proibida nas escolas e departamentos do Estado, sendo hoje o
castelhano excluído e obrigatória a língua autóctone.
A pacífica tentativa sediciosa catalã teve a pior resposta –
a repressão –, e os dirigentes foram julgados e presos como vulgares
delinquentes, transformado o problema político em caso de polícia.
Quem conhece a tragédia dos nacionalismos e teme as guerras
civis que provocam, com consequências sistémicas na própria União Europeia, não
apoia ímpetos autonomistas e alterações de fronteiras, mas não é alheio à tentativa
de pacificação das relações entre as partes.
A decisão do Governo de Espanha, com o PP e o VOX a digladiarem-se
para exibirem a maior violência na oposição ao indulto de Pedro Sánchez, é a tentativa
equilibrada para abrir espaço ao diálogo sem desacreditar o poder judicial (indulto
em vez de amnistia).
Os custos eleitorais são imensos, mas seria injusto não
reconhecer a coragem do perdão do primeiro-ministro aos presos para permitir o
diálogo e terminar com o que, em vários países da Europa, era visto como
prisões por motivos políticos.
Cabe agora aos catalães, sobretudo aos 52% que exigiam independência,
a ponderação e vontade de diálogo para aprofundar a autonomia sem pôr em risco a
unidade espanhola.
A grandeza e coragem do gesto do primeiro-ministro merecem ter êxito na Espanha que ainda lambe feridas da guerra civil, violenta de ambos os lados, e a posterior vingança franquista.
Ponte Europa / Sorumbático
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