Ramalho Eanes e a comemoração do cinquentenário do 25 de Abril
A três anos do 50.º aniversário, a escolha do ex-PR é uma opção legítima do atual, não é a mais justa nem a mais representativa dos militares de Abril.
Eanes, como PR, foi relevante a pacificar a agitação militar,
mas não foi um destacado militar de Abril e, antes, associou-se apenas à
honrosa contestação do manifesto do ‘1.º Congresso dos Combatentes do Ultramar’,
de inspiração fascista, realizado no Porto, de 1 a 3 de Junho de 1973, com a
conivência do regime e de militares de extrema-direita. Foi uma assinatura dignificante
e corajosa que se juntou à de muitos oficiais democratas que combatiam na
Guiné.
Ganhou aí o certificado de democrata, mas não se destacou no
pensamento político, se é que o teve, ou tem, nem no contributo para a
Revolução.
É bom recordar que o 25 de Abril teve um triunvirato a liderá-lo,
Vasco Lourenço, Vítor Alves e Otelo, sendo Vítor Alves o responsável político e
Otelo o operacional, restando os dois, depois da transferência de Vasco
Lourenço para os Açores, por ser considerado o mais perigoso. Nesse dia, pela
coragem e determinação, surgiu Salgueiro Maia, com notável passado de coragem
revelado no teatro de guerra, na Guiné, como lídimo herói de Abril.
No 25 de novembro, que tem servido para reescrever a
História, foi Costa Gomes quem ocupou o primeiro lugar, seguido do governador
militar de Lisboa, Vasco Lourenço, que designou Eanes para o comando
operacional que teve no Regimento dos Comandos da Amadora a principal unidade.
Há quem queira colocar o 25 de novembro em confronto com o
25 de Abril e se esqueça de que o “Grupo dos 9” integrou os destacados
militares de Abril que resistiram a Otelo cujo radicalismo o afastou dos seus
camaradas.
Eanes deve ao Grupo dos 9 a sua designação operacional no
dia 25 de novembro, a sua promoção a general e, depois, a indigitação para
candidato a PR. Foi o seu candidato.
Não importa avaliar a sua ingratidão para com os que o apoiaram,
a elevação de Spínola a marechal, depois da cumplicidade com movimentos
terroristas, MDLP e ELP, nem a ziguezagueante conduta à procura de futuro
político depois de PR, na criação do PRD, através da inefável consorte Manuela
Neto Portugal (Eanes) a servir de lugar-tenente.
Sem preparação para líder partidário, acabou mal o partido que
inspirou e serviu para a viagem de várias personalidades a caminho da direita.
Sendo a Associação 25 de Abril herdeira dos valores que
inspiraram a Revolução, seria justo que coubesse ao presidente da A25A, em 2024,
de que Eanes é sócio, o lugar para que Marcelo o indigitou e cuja idade devia
ter ponderado.
Mas quando a direita, azeda e cada vez mais à direita,
contesta tudo o que diga respeito às comemorações do 25 de Abril, a celebração do
cinquentenário, com Eanes vivo ou defunto, será sempre contra quem não gosta da
comemoração da data.
Na modéstia da minha participação cívica, oponho-me a que
falseiem a História, e que Eanes seja considerado o herói de Abril por excelência.
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