Cavaco, génio da banalidade

Este homem precisa de ser ajudado a viver a reforma com dignidade. É o dever de quem conhece a acidez que o aflige, o ódio que o devora e o ressentimento que lhe envenena os dias.

Cavaco Silva, génio da banalidade, como certeiramente o caracterizou José Saramago, é um empedernido salazarista que ciclicamente alivia a bílis numa prosa que alguém lhe expurga das prevaricações ortográficas e derrapagens na sintaxe, sem lhe conter a raiva que nutre pelo PM a quem foi obrigado a empossar depois de avisar a UE e o Mundo de que traria o caos, quando a sua voz já não era ouvida além de Vilar Formoso.

O Público de ontem*, cedeu-lhe duas páginas (10 e 11) onde substituiu o sais de fruto por uma redação que intitulou “Ajudar o Governo a encontrar o rumo certo”.

Nem tudo são erros nos lugares comuns que debita. São factuais os deslizes de membros do Governo que refere, embora seja desmedida a crítica ao ministro das Infraestruturas, talvez porque prefere o betão aos carris e veja na recuperação ferroviária em curso uma afronta ao que destruiu metódica e friamente o seu Governo.

Nota-se, na prosa, que a maioria absoluta que não foi sua nem da direita dura que apoia, é uma afronta que não tolera, com um rosto que abomina, o PM António Costa.

Para este político bilioso, próximo do Opus Dei, a amnésia da asfixia democrática que o seu Governo promoveu levou-o a esquecer a benevolência da RTP, sob a vigilância de Marques Mendes, a distração do Ministério Público com as ações da SLN/BPN, as suas e as da filha, com a luxuosa vivenda no condomínio do BPN, com as faltas às aulas na Universidade Pública para não faltar às da privada, enfim, a esquecer a sua permanência no poder, que gerou a decadência ideológica do PSD e a perversão ética da política.

Alguém lhe devia recordar os nomes dos que o conduziram a PM e a PR, e de quem lhe subsidiou as campanhas eleitorais, fazendo do medíocre cidadão um destacado político.

Ao terminar a prosa com que substituiu os sais de fruto, Cavaco apelou à comunicação social para ‘escrutinar a ação do Governo num quadro de verdade e independência’, sem se dar conta, porque continua a não ler jornais e a não ver televisão, de que pediu que não fossem fomentadores tão entusiastas da direita, da pior direita, da sua, da que se alia ao partido fascista, solução por si defendida nos Açores e reiterada por um avatar seu de turno no PSD, Luís Montenegro, pretenso líder dos futuros “Irmãos de Portugal”.

É verdadeiramente lancinante a última frase dirigida à comunicação social e ao distraído e contraproducente apelo à sua independência: “se o fizerem, os portugueses e eu (sic) [ele deve ser espanhol], em nome dos meus filhos e netos em particular [foi sempre seu desígnio particular, olhar pela vida dos próprios filhos e netos], temos razões para lhes estarmos profundamente gratos.», assim pudessem agradecer os filhos e netos alheios!

Este homem bilioso esqueceu os rios de dinheiro da UE que o mantiveram no poder dez anos, o desastre que foi para a agricultura e pescas, a ruína da ferrovia, a derrapagem de custos do CCB e outras obras públicas sem controlo, os negócios pessoais, e a avidez na acumulação de reformas e enriquecimento pessoal.

Este homem não é um mero salazarista, é o frasco de veneno que precisa de tirar a rolha periodicamente para não explodir.

Jamais alguém tão inculto chegara tão longe. É um ingrato.     


* 30-09-2022

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