Marcelo – O OE-2023, a pedofilia e o sonho da herança política
Quando o PR, responsável pelo regular funcionamento das instituições, passa a agitador, basta ele para debilitar o regime e acelerar a crise que a guerra, a pandemia e a inflação provocam.
Marcelo é capaz de dizer tudo e o seu contrário, e as suas
piores declarações são as mais mediáticas e perturbadoras da política nacional.
O OE-2023, instrumento da exclusiva responsabilidade do
Governo, cuja aprovação é da competência da AR, órgão de que depende, foi
objeto de declarações intoleráveis do PR. O escrutínio cabe aos partidos, aos
eleitores e à comunicação social, não ao PR.
Marcelo atreveu-se a formular juízos de valor sobre o
OE-2023, a apodar a proposta do Governo à AR como um orçamento “a navegar à
vista da costa” e a dizer que são mais otimistas as previsões do Governo do que
as suas, como se o alarde das suas previsões fosse legítimo, útil ou tolerável.
Nos intervalos ainda deu conselhos à UE, como se os seus órgãos o escutassem.
Não há certamente outro PR, mesmo em regimes
semipresidenciais, com tamanha exposição mediática e ausência de respeito pelo
carácter parlamentar do regime a que preside.
Marcelo é um comentador compulsivo e um viajante inveterado
num País onde a CRP não lhe confere qualquer responsabilidade na política
externa ou governação. O seu ego é nefasto ao país e precisa de entender que
não pode ser PR e liderar simultaneamente a oposição.
Com a mesma insensatez revelada para com o Governo, alheio à
dignidade do cargo, o PR age e pronuncia-se sobre os crimes de pedofilia
cometidos por sacerdotes católicos, alheio ao sofrimento das vítimas e
desencorajador do aprofundamento das investigações em curso.
Depois do contacto que teve com um bispo sob investigação criminal,
com o processo em segredo de Justiça, manteve, a partir de Nicósia, que esse
contacto com o bispo José Ornelas não terá consequências na investigação,
opinião de um católico que considera o divórcio pecado mortal, incapaz de o
cometer, e venial o adultério.
Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça, afirma preocupado
que “424 testemunhos apontam para um número muito maior”, e para o PR, “Haver
400 casos de abusos [424] não me parece particularmente elevado” (sic), sem imaginar
a coragem das denúncias, o horror que encerram e o desânimo que as suas
palavras provocam para novas queixas e julgamento das atuais.
O deficiente escrutínio de contínuos desvarios verbais do PR
contribui para o descrédito das instituições e para a crescente dificuldade de
governar o País.
Marcelo, ansioso por realizar o sonho de dissolver a AR e
deixar a sua direita no poder, está a abrir as portas à extrema-direita e
arrisca dissolver a democracia, perante a falta de escrutínio e a passividade
da opinião pública formatada pela imprensa de reverência.
Ponte Europa / Sorumbático
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