O PR traído por Marcelo e o País refém dos seus humores e rancores
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente do conselho de administração, com lugar suspenso na Junta da Fundação da Casa de Bragança, tem à sua espera o lugar ‘vitalício’ que teve de interromper, 15 dias antes de tomar posse, no primeiro mandato, em Belém.
Não é crime ter desempenhado tal lugar, mas é currículo que não
honra um republicano, e que preside à República. Não ter renunciado ao regresso
é a questão ética que lhe cabe explicar, como, aliás, muitas outras coisas com
que os jornalistas nunca o confrontam.
Em 7 anos de PR já devia ter declarado que a eliminação dos
feriados de 5 de Outubro e 1.º de Dezembro, datas emblemáticas da Pátria, agora
em causa a primeira, não teriam a sua anuência nem desculpa. A vergonha iria para
a ignorância, insensatez e maldade de Cavaco e Passos Coelho que obrigaram os
republicanos do PSD a suportar a ignomínia.
No último 5 de Outubro, ao lado do edil que pretende levar a
PM, mais do que enaltecer a data simbólica do regime, que lhe permitiu ser PR,
reincidiu nos avisos, ameaças, considerações, reparos, análises, sugestões,
alvitres e outros desvarios verbais, contra o Governo, chegando ao despautério
de referir, à guisa de ameaça (?), perante António Costa, a permissão
constitucional de dissolver a AR, para cujo êxito precisa da erosão do Governo.
Não lhe bastam Marques Mendes e os órgãos de informação, decidiu assumir,
perante a incapacidade de Luís Montenegro, a liderança da oposição de direita.
Após a campanha mediática contra o BE, a pretexto da
remuneração de um canal de TV à deputada Mariana Mortágua, e da sistemática
perseguição ao PCP, de que Marcelo se resguardou, só falta demolir o PS para
repetir em Portugal o quadro eleitoral de Itália.
Marcelo quer a direita, não a extrema-direita, a liderar, e impedir
que o PS cumpra o seu mandato, muito difícil em tempo de pandemia e de guerra,
com inflação brutal, recessão económica inevitável, e progressiva subordinação
da UE aos interesses dos EUA.
António Costa não pode sacrificar-se e sacrificar o PS a enfrentar
a reiterada insolência do PR, mas cabe à opinião pública obrigá-lo ao
cumprimento das suas funções e à não interferência nas prerrogativas dos outros
órgãos da soberania.
O País não pode permitir que Marcelo se transforme em outro
Cavaco, com inteligência, cultura e civilidade para dissimular a agenda oculta
que aflora na incontida loquacidade.
Surpreende o que diz e faz o PR, sempre nos noticiários, em
declarações sobre futebol, incêndios, óbitos, decisões ministeriais, leis,
decretos, OE-23, e até a aconselhar a UE.
Está a passar despercebida a lamentável posição sobre a
pedofilia do clero e o silêncio de alguns bispos, onde as suas contradições
nunca são aclaradas pela imprensa.
Tendo chegado à PR uma denúncia sobre alegado encobrimento
de abusos sexuais pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, Marcelo “despachou
para o chefe da Casa Civil, em olhar sequer para o teor da suspeita, sem ler o
teor da suspeita”, “é uma suspeita de matéria criminal, faça-se como sempre” –
disse Marcelo.
Apesar de ‘não ter olhado ao teor da suspeita’, o PR decidiu
contatar logo o bispo José Ornelas, também presidente da CEP, declarando:
"Tomei eu a iniciativa". E eu [Marcelo] disse: ‘olhe, senhor D. José,
é muito simples, isto é a regra geral que se aplica e, portanto, a comunicação
social diz que foi uma coisa pessoal, não foi pessoal’.”
O País imagina a mágoa que lhe há de ter causado o
cumprimento do dever, e duvida da bondade da iniciativa de se justificar
perante o bispo, ao que parece e ao contrário do que disse, antes de qualquer
referência na comunicação social.
Com a investigação em curso, em segredo de Justiça, foi
reprovável a iniciativa, se não crime, ignorando-se se a inaceitável
justificação foi feita em genuflexão pia.
Marcelo é um leão para o Governo e um cordeiro para o clero.
Os cidadãos não podem deixar de o escrutinar. Está a ser perigoso. As
contradições e a atitude para com o bispo Ornelas, tal como a ameaça ao
Governo, não podem ser toleradas.
Comentários
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