A extrema-direita e o combate político

O populismo não dispensa a mentira e a calúnia como armas. A emergência de políticos neofascistas, chegados ao poder por via democrática, infetou o debate político e mostrou a fragilidade das democracias liberais, as únicas que permitem a contestação e respeitam os direitos humanos e a separação de poderes do Estado.

Trump e Boris Johnson, sobretudo o primeiro, puseram em risco o regime em países de longa tradição democrática. A mentira e a calúnia foram os instrumentos do seu êxito. Os EUA, sob Trump, foram a fonte inspiradora dos neofascistas europeus.

No Brasil, habituado a ditaduras e golpes de Estado, surgiu um fascista tropical a apelar ao exército para promover um golpe de Estado ao longo do seu mandato, e já depois da eleição do adversário, que um juiz corrupto prendeu, agora o PR eleito. Incitou o golpe promovendo uma centena de generais a marechais, com pingues aumentos de ordenado, dotando decerto o Brasil com mais marechais do que o resto do mundo.

Na Europa, além do risco que correu o Reino Unido, chegaram regimes autoritários à Hungria, Polónia, Chéquia e Eslováquia (Grupo de Visegrado). E note-se que nenhum país dos que estiveram sob domínio da URSS tem hoje uma democracia plena.

Recentemente, o neofascismo chegou ao governo de Itália, e há neonazis a treinarem-se nos dois lados da fronteira da Rússia com a Ucrânia, enquanto populações civis morrem ao frio, à fome e sob bombas ou se refugiam noutro país, em busca de paz.

Há pouco, sentimos calafrios com a descoberta, na Alemanha, de uma rede de neonazis disposta a derrubar a democracia. Em Portugal foi noticiada a infiltração de fascistas nas forças policiais e bastou a demissão de um, que chamou traidor ao PR, para que o mais absoluto silêncio tenha pairado na comunicação social.

Um acidente de automóvel, em que seguia um ministro, levou a que este fosse arguido por, nada menos, homicídio involuntário. Quando o Tribunal deu como provado que a vítima mortal atravessou a autoestrada em local não sinalizado, ilibando o condutor da culpa pelo acidente, já o ministro se tinha demitido, e a campanha diária terminou em silêncio, imediatamente, sem arrependimento ou um mero pedido de desculpas.

Agora, depois de o futebol ter ofuscado a pandemia e a guerra, com o país inundado por chuvas torrenciais, não faltou a gravação áudio, onde um alegado bombeiro, em Lisboa, se queixava de estar a tirar água de uma suposta garagem do primeiro-ministro, dizendo que era uma vergonha, perante as inundações, que se desviassem recursos para acudir à garagem do PM, e que a vergonha devia chegar ao conhecimento do Chega.

Às milícias fascistas nas polícias procura-se estendê-las às corporações de bombeiros, e o silêncio dos media assume foros de cumplicidade.

A democracia precisa de democratas, mas quando Cavaco defendeu a coligação do PSD com o partido fascista no Governo Regional dos Açores, ninguém criticou o salazarista.

Os que mais devem à democracia são os que mais  a desprezam.

Ponte Europa / Sorumbático

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