A A Lei da Eutanásia
Não atribuo superioridade moral aos deputados que votaram a favor
da lei que permite, em situações bem definidas, a eutanásia, e estranho manobras
de quem busca pretextos para obstar à promulgação, especialmente de quem quis
violar a consciência individual dos deputados do grupo parlamentar do PSD nesta
matéria de consciência.
A chantagem dos que negam o direito individual, não
referendável, à renúncia à vida, é intolerável. São os que votaram contra a
criação do SNS, os animadores da campanha terrorista contra a despenalização do
aborto, alheios à saúde da mulher, a babarem-se de gozo com a sua prisão,
incluindo as violadas, as que transportavam malformações fetais e até as que
corriam risco de vida.
São os que se sentiam confortáveis com a Concordata que impedia
o divórcio a quem tivesse um casamento canónico e não puderam impedir um
católico, Salgado Zenha, de o impor à Santa Sé, os que perderam a batalha
contra casamentos gay, alguns dos quais acabaram por beneficiar da sua
legalização.
O terrorismo continua agora através dos Bastonários da
Saúde, das redes da direita e das da extrema-direita e das sacristias, dos que
apelam ao medo. É a repetição da batalha da despenalização do aborto,
confiantes na desmemória dos portugueses.
O direito a morrer é um direito individual que querem
recusar a quem desesperadamente o reclama e há quem deseje impor a todos o
sofrimento que não podem suportar.
Anunciam horrores, inventam assassínios e esquecem que a
Itália, Espanha e Bélgica já superaram as ameaças pias, a última há duas décadas,
para só referir os países receosos da excomunhão papal.
Uma nova pirueta do inquilino de Belém é um ato que leva o desespero a quem está em longo e insuportável sofrimento. É preciso que alguém lhe lembre que o Palácio de que é inquilino não é a sacristia paroquial onde se minimiza a pedofilia e execra a eutanásia.
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