Em defesa da democracia
Reconheço as fragilidades da democracia liberal, e ando há sessenta anos a defendê-la, sem abdicar de lutar pelo aprofundamento económico, social e político do modelo de que não prescindo.
Nem todas as democracias liberais são recomendáveis, e fora
delas só há ditaduras, por maior êxito que possam assegurar no campo económico,
como é o caso da China.
Nunca me desviei deste caminho. Condeno o centralismo
democrático leninista, e não me coíbo de agradecer o papel da URSS na derrota
do nazismo e o do do PCP na luta contra a ditadura, na elaboração da CRP e na
estabilização da democracia em Portugal.
Lamento que autointitulados defensores das democracias
tenham geometria variável em relação aos países que condenam ou apoiam.
Não é tolerável o massacre de povos, a invasão de uma nação
ou a violação de acordos, por qualquer país, e não podemos ser dúplices na
condenação do massacre dos curdos pela Turquia, na invasão do Iémen pela Arábia
Saudita, na da Ucrânia pela Rússia ou na da Palestina por Israel, só para dar
exemplos de tragédias em curso.
Muito menos se aceita, sob o pretexto de defender a
democracia, que se acirrem guerras e absolvam atrocidades ao sabor de
interesses geoestratégicos, substituindo notícias por propaganda e factos por
falsidades.
Não há democracia sem ética, respeito pelos direitos
humanos, liberdade de associação e ausência de censura.
Quando se queimam livros, proíbem notícias, ilegalizam
partidos ou impõe a religião, a democracia é ferida de morte, por mais argumentos
com que se desculpem os ditadores.
Os fuzilamentos ou tortura de militares capturados, ou que
se renderam, são execráveis e imperdoáveis, seja qual for a barricada em que se
encontravam.
A hipocrisia é a cobardia dos mais poderosos.
Comentários