M. – O PR (12) – o líder da Oposição de Direita

Há sete anos, o dia de hoje não fez história, mas aliviou. Foi o dia em que rebentou um furúnculo do regime democrático, o fim de um pesadelo nacional.

A chegada de Marcelo, a Belém, teria sido normal, em democracia, se não fosse o alívio da partida de Cavaco. Voltámos a ter um PR culto, inteligente e normal, uma situação auspiciosa, depois de uma década inquieta. Na euforia da saída, celebrou-se a esperança, com quem entrou. Havia de celebrar-se com quem quer que tivesse entrado!

A partir de então, as injúrias a Cavaco deixaram de ser crime público. Cabe-lhe agora demandar quem dele disser o que pensa, aquém do que merece, do que a urbanidade aconselha e a caridade consente.

Levou mais uma pensão, a de PR, depois de um Governo PS o ter obrigado a optar entre as pensões e o ordenado. Abdicou deste, ressentido, e ‘apenas’ acumulou o subsídio de representação [40%].

O País esqueceu as lamúrias sobre a exiguidade das reformas, a felicidade na atribuição de pensões aos pides, por relevantes serviços à Pátria, os discursos rancorosos contra os adversários, em quem via meros inimigos, e os acessos de raiva e ressentimento.

Só as vacas açorianas recordam ainda quem lhes apreciava os sorrisos, e os portugueses o bolo-rei que deglutia inteiro. Podia ter regressado à transação de ações não cotadas e às proveitosas permutas no ramo imobiliário, preferiu os Roteiros e o sazonal ajuste de contas com o Governo a que foi obrigado a dar posse.

O lugar vitalício no Conselho de Estado abrigou-o sem o obrigar à presença no órgão, e só sai da hibernação para romper o desprezo que sente e extravasar o ódio que sente.

Já não o preocupam a invenção de escutas destinadas a intrigas, as perguntas incómodas sobre o número de cantos d’Os Lusíadas, as explicações sobre a ficha na Pide e as referências à não convivência com o sogro, aí contidas.

Depois de entrar no Convento de Alcântara, onde usufrui as mordomias de ex-PR, teve hoje a sua vingança sobre o sucessor sem lhe retirar o brilho com que responde a tudo e comenta todas as coisas.

M – O PR, após dois ou três dias sem aparecer várias vezes em todos os telejornais, deu hoje a entrevista onde recuperou a sede de microfones e câmaras televisivas. Foi, como de costume, hábil a fingir que manda no Governo e a construir cenários para a desforra da direita e extrema-direita contra as esquerdas.

M. – O PR não tem a antipatia do País, é o Cavaco urbano e com cultura, um simpático ancião que põe a mão em concha a prolongar o ouvido, construtor de cenários políticos e juiz de todos os partidos sem desmerecer o seu.

Há em M. – O PR o gosto pela traquinice, o desejo de manter-se à tona quando vê a sua direita a naufragar. A entrevista que deu como líder da Oposição, sob o pseudónimo de PR não deixou transparecer a pungente mágoa que a IL lhe causou nos Açores. A direita já é maioritária, mas politicamente incoerente e com um líder frágil no PSD.

M. – O PR lá estará para fragilizar o Governo, como se este precisasse, como se fosse ele, M. – O PR, sozinho na luta, como se a democracia não tivesse prazos para ouvir os eleitores.

M. – O PR deixou lugares comuns debitados com boa disposição e ajustou contas com o presidente da Conferência Episcopal a quem avisou da investigação judicial e que agora não esteve à altura do que esperava depois de a comunicação social o encurralar.

M. – O PR vai voltar ao comentário diário de que não consegue sair.     

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